As Aventuras de Huckleberry Finn

As Aventuras de Huckleberry Finn Mark Twain




Resenhas - As Aventuras de Huckleberry Finn


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Alan Martins 21/05/2017

Um livro que causou, e ainda causa polêmica
É assim com algumas pessoas. Elas pegam birra com alguma coisa mesmo sem saber nada sobre a coisa. (TWAIN, Mark. As aventuras de Huckleberry Finn. L&PM Pocket, 2011, p. 12)

‘As aventuras de Huckleberry Finn’ é considerada a obra-prima de Mark Twain, um dos grandes nomes da literatura estadunidense e um dos fundadores das Letras daquele país. É um livro citado por muitos autores, lido e estudado até hoje. Com uma narrativa rápida, o autor escreve sobre os EUA dos meados do século XIX, antes da guerra civil, e sobre a sociedade escravocrata. Por tratar sobre esse tema, é uma obra muito polêmica, tanto agora, como na época em que foi publicada. Conheça um pouco sobre esse autor e sobre um livro considerado um clássico de seu país.

SAMUEL LANGHORNE CLEMENS
Esse é o verdadeiro nome do autor, Mark Twain é o seu pseudônimo. Twain trabalhou como piloto de navio no rio Mississippi, região onde nasceu (nasceu no Missouri). Seu pseudônimo deriva desse emprego como piloto, sendo Mark Twain uma forma de expressar a profundidade da água. Além disso, trabalhou na impressão de jornais e também foi humorista. Porém se destacou como escritor, onde conseguiu sucesso, sendo considerados por muitos como “o pai da Literatura dos Estados Unidos”. Stephen King sempre cita ‘As aventuras de Huckleberry Finn’ como um de seus livros favoritos e já batizou personagens com os nomes de personagens de Twain.

Mark Twain viveu durante a época em que a escravidão nos EUA era permitida, passando pela Guerra Civil (1861-1865) e viu a abolição da escravidão entrar em vigor. Ele era um apoiador da abolição. Seus livros refletem bem esse período, mostrando como os negros eram tratados e como a sociedade lidava com a escravidão. Os conhecimentos adquiridos como como piloto de barcos influenciaram muito suas obras, sendo o rio Mississippi sempre presente e com personagens navegando por suas águas, além de descrições sobre navios e navegação. Ele mostra a importância do rio para a sociedade que vivia às suas margens e para a nação.

“Os seres humanos podem ser terrivelmente cruéis uns com os outros.” p. 255

A HISTÓRIA DE HUCK FINN
O livro foi escrito como uma continuação para ‘As Aventuras de Tom Sawyer’, um outro grande sucesso do autor. E de fato, é uma história que dá sequência a esse livro. Porém seu grande sucesso o tornou independente, as pessoas cultuam Huckleberry Finn sem fazer alguma ligação com o livro anterior.

A história de Huck pode ser lida de forma independente, é possível compreender o enredo sem ter conhecimento das aventuras de Tom Sawyer. O livro é narrado em primeira pessoa, pelo próprio Huck Finn. Por isso nota-se alguns erros gramaticais e uma visão mais inocente sobre o mundo, pois é uma história contada sob as lentes de um menino por volta dos 13 ou 14 anos de idade. Diferente de Tom, Huck descreve o mundo de forma mais objetiva, descrevendo o que seus olhos lhe mostram, ao contrário de seu amigo, que oferece uma visão mais fantasiosa e imaginativa sobre o mundo.

Huck narra como fugiu da Srta. Watson e de seu pai, um bêbado que o violentava fisicamente e se aproveitava da fortuna do menino. Conseguiu fugir dos dois navegando pelo rio Mississippi em uma canoa. Nessa fuga encontra Jim, um negro que era escravo na residência da Srta. Watson. Como eles já se conheciam e possuíam o mesmo objetivo, que era a liberdade, se unem e fogem juntos. Nessa aventura, os dois enfrentarão adversidades, conhecerão pessoas boas e ruins, tudo narrado de forma divertida. Huck é um menino muito esperto e utiliza da mentira para se safar de problemas ou para conseguir o que quer. Jim é um homem muito supersticioso e de pouca instrução, porém considera Huck um grande amigo e faz tudo por ele. A história é uma reviravolta de problemas, onde eles sempre dão um jeito de resolvê-los.

“Rezar por mim! Achei que, se me conhecesse, ela ia se encarregar de outra tarefa mais apropriada pro seu tamanho. Mas aposto que rezou, mesmo assim — ela era desse jeito. Tinha coragem de rezar por Judas se lhe desse na telha […]” p. 213

UM LIVRO POLÊMICO
Por abordar o tema da escravidão e descrever com precisão a sociedade sulista, às margens do Mississippi, esta obra foi, e ainda é, tema para grandes debates. Há pessoas que dizem que o livro é racista. Um absurdo, pois o próprio autor foi um abolicionista e não há nenhum momento no livro uma frase que incentive ou que apoie a escravidão.

A palavra nigger (que pode ser traduzida como ‘negro’), que era usada na época para se referenciar aos escravos, é um alvo dessas críticas. Utilizá-la, hoje, é algo impensável, pela carga de ódio que ela carrega. É um termo muito pejorativo para descrever um negro atualmente. Porém, naquela época, era a forma comum, a mais utilizada, não havia essa carga de ódio embutida. Isso levou a editora NewSouth Books, em 2011, a publicar uma edição de ‘The Adventures of Huckleberry Finn’ onde a palavra nigger foi substituída por slave (escravo). Isso não faz sentido, pois a narrativa é um retrato da sociedade dos EUA no século XIX e isso muda a escrita do autor, um crime à sua obra. Além de ser uma forma ineficaz de se redimir das atrocidades cometidas aos negros no passado.

Mark Twain não utilizava a palavra nigger, considerada pejorativa pelos intelectuais, porém suas personagens são pouco instruídas, pessoas simples, do campo. Na época em que foi publicado, as mentiras contadas por Huck também foram alvos de críticas, por se tratar de um mentiroso que sempre consegue se dar bem.

Não existe nenhum momento de violência à um negro durante toda a narrativa. O tom é de respeito para com os escravos, que são “respeitados” e “bem tratados” (essas palavras não fazem sentido, já que são escravos, porém não há o ódio contra eles, é isso que deve ser frisado). Há uma pessoa ou outra que falam mal sobre os negros, porém isso é um reflexo da sociedade escravocrata.

“As pessoas vão me chamar de abolicionista sórdido e vão me desprezar por ficar calado — mas não faz mal. Não vou contar de todo jeito não vou voltar pra lá.” p. 55

A EDIÇÃO
O livro é narrado em uma linguagem vulgar. Mark Twain quis representar a maneira de falar das pessoas que viviam próximas ao Mississippi e o inglês distorcido dos escravos. Isso representou um grande desafio para a tradutora Rosaura Eichenberg que, apesar de possuir um vasto currículo de traduções, apontou as dificuldades em se traduzir ‘As aventuras de Huckleberry Finn’ para o português em uma nota no início do livro. Ela adaptou a linguagem para os termos mais próximos, pois no Brasil também há uma linguagem vulgar, uma linguagem considerada “caipira”, que era muito utilizada no século XIX. As falas de Jim são muito carregadas, cheia de erros. Essa foi a forma do autor apresentar a realidade, tornar a história mais real. E isso também deixa o livro bastante engraçado, com expressões que arrancam risadas do leitor. O próprio autor escreveu uma nota, antes do início da história, dizendo que a narrativa possui um dialeto bem característico da região onde se passa.

Fisicamente é uma boa edição de bolso. Como a L&PM é uma editora focada em livros pocket, possuindo o maior acervo desse segmento do país, nãos se pode esperar algo diferente. O tamanho do livro é reduzido, com capa mole e sem orelhas, papel branco, Offset, para o miolo e com diagramação também reduzida. As letras pequenas no papel branco podem incomodar um pouco. Porém, a qualidade do material é boa, assim como a do conteúdo, o principal. A tradução está muito boa e a tradutora mostrou seu esforço para adaptar a linguagem da melhor maneira para o português do Brasil, assim como o trabalho da revisão. Sendo uma edição de bolso, o preço também é reduzido, sendo mais baratos do que livros de outros formados, geralmente.

“Ora, tem uma vantage num sinal assim, porque tudo tá longe no futuro. Ocê vê, talveiz ocê vai tê que sê pobre por muito tempo, e então ocê pode ficá desanimado e si matá, se num sabe pelo sinal que vai sê rico mais tarde.” p. 58

CONCLUSÃO
Um livro engraçado e que reflete um período da história dos Estados Unidos, mostrando um pouco de como era a sociedade escravocrata. Como isso também ocorreu no Brasil (infelizmente), é possível fazer uma relação com o que ocorreu por aqui. Huck é um menino que não gosta de ser ‘civilizado’, usar roupas limpas e engomadas, por isso decide fugir de tudo, até de seu pai, em busca da liberdade. Isso é um reflexo da escravidão e de Jim, um escravo que também busca a liberdade. Os dois conseguem ver o lado bom das coisas, mesmo das mais simples e fazem uma viagem pelo rio Mississippi, de canoa, parecer algo lindo.

Vale a pena a leitura, por se tratar de um clássico, marco da literatura de um país. Uma narrativa inocente, sem maldades, divertida e com um final irônico e muito engraçado. Recomendado.

Minha nota (de 0 a 5): 4

Alan Martins

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Um livro na minha casa por Ariane 20/05/2020

Ótima leitura
(MINHA OPINIÂO) Ler Aventuras de Huckleberry Finn se tornou como o próprio livro é, uma grande aventura.
Confesso que de inicio tive um pouco de dificuldade, com um vocabulário incomum, muitas referências e uma descrição detalhada da região, foi fundamental ter uma edição como a da Zahar, com textos de apoio e notas explicativas, para vencer as dificuldades iniciais.
No inicio do livro vemos um Huck solitário, não importando estar cercado de pessoas ou sozinho, como se fosse um estado de espírito, acredito que isso reflete no ritmo da trama que se torna lento e reflexivo.
Da metade para o final que realmente o livro engrena, o menino passa com muitas mentiras e traquinagens por várias situações inusitadas, que refletem a sociedade da época, e porque não dizer a de hoje.
O tema escravidão ganha destaque nas últimas páginas, o livro foi escrito cerca de vinte anos após a abolição da escravatura nos Estados Unidos, acredito que seu valor está em trazer a questão para o debate, temos um Huck que está em contradição, acreditando que ao ajudar na libertação de Jim estaria sendo condenado ao inferno! Muitos pontos do livro são difíceis de aceitar com nossos olhos atuais (Que bom), não sei se indicaria para um adolescente, mas com certeza foi uma experiência única para mim.
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Gabi 29/01/2022

Um livro para todas as idades!
Esse livro é o verdadeiro significado de humildade, Huck te cativa com esse jeito tão especial de ser e tão ingênuo mas inteligente, o Jim é o melhor amigo que alguém pode ter e o Tom sempre deixa tudo mais peculiar com seu jeitinho de ser.
Passei um sério nervosismo com as ideias do Tom e com todo o desenrolar dos planos mas o final aqueceu meu coração.
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J_Piexak 07/03/2022

Revisitando um clássico da infância
Quando era criança, a biblioteca da minha escola tinha uma coleção chamada Aventuras Grandiosas que consistia em clássicos da literatura universal adaptados em 32 páginas. Esse livro era um deles.
Na época, eu amei essa leitura e o livro ficou marcado por muitos anos. Quando encontrei essa edição lindíssima da Zahar não perdi tempo e comprei.
Adimito que hoje achei a história um pouco arrastada e em nada lembra aquela adaptação. Pensa fortes como infanticídio e linchanento preenchem as páginas. As partes onde eles se encontram na balsa são as mais chatas pra mim e a reta final com o plano do Tom Sawyer me deixou muito irritado. É uma criança, ok, mas ainda assim colocou a vida do Jim em risco pelo ego dele. Fora isso o livro me tirou algumas risadas e me trouxe um conhecimento histórico extra devido às excelentes notas de rodapé e textos de apoio que essa edição traz.
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jujubss0 20/02/2023

Uma obra simplesmente maravilhosa!
Em As Aventuras de Huckleberry Finn- ?Moralidade?, apesar de ser influenciada diretamente por fatores como a comunidade, a igreja e a família, é conduzida principalmente pela religião e pelas experiências pessoais.
Na história, o autor critica como a religião da *época* defende uma moral corrompida e hipócrita ao apresentar pessoas que usam a Bíblia para justificar preconceitos provenientes diretamente de sua ignorância humana.

Ao longo da história, o leitor acompanha a linda jornada de Huck em busca de sua liberdade- não somente física, mas de sua identidade! Ao ter que lidar e questionar com olhos de uma criança/ pré adolescente temas como racismo, intolerância religiosa & hipocrisia humana.

Me emocionei demais com esse livro, o dialeto enfatiza ainda mais a voz do narrator e nos imerge por completo nas aventuras e emoções de Huck, um menino que demonstra ser mais maduro que muita gente por aí. ?
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valen 18/05/2020

racista ou não?
Um livro que gerou muitas polêmicas na época de sua publicação e até hoje levanta questionamentos . A expressão "nigger" é empregada mais de 200 vezes ao longo do livro, sendo motivo para muitos quererem bani-lo do currículo nas escolas americanas ou até que "deveria ser queimado" como afirmou um integrante do Conselho Escolar de Chicago.
Apesar das controvérsias, Huck Finn quebra estigmas sociais da época. Trecho de um dos textos de apoio do livro por José Roberto O'Shea: "( ...) Huck segue os ditames de seu coração de menino, despreza as cobranças de uma sociedade corrupta e decide colaborar com a fuga do amigo escravo, mesmo que a consequência de tal decisão seja o inferno."
Aventuras de Huckleberry Finn, portanto, entrou para a lista dos melhores livros que li neste ano e talvez na minha vida. Pretendo um dia ler as aventuras de Tom Sawyer mas por enquanto permanece a saudade desses personagens e as peripécias vividas nesta história.

*Li na edição da editora Zahar e recomendo. Está cheio de textos de apoios e notas de rodapé, além da tradução maravilhosa e várias ilustrações originais do E.W. Kemble.*
Ailinda 18/05/2020minha estante
Amazing impressive show stopping a melhor crítica literária de sua época dizem artigos




Beth 30/07/2021

Como não se apaixonar por essa dupla?!
As aventuras de Huckberry Finn é um livro muito divertido e ao mesmo tempo uma crítica a sociedade sulista dos Estados Unidos da sua época.
Huck Finn é um garoto que ama a liberdade e ao fugir por determinados motivos, acaba encontrando Jim, um escravo também fugitivo.
Juntos eles irão viver muitas aventuras e descobrir o valor da amizade e do companheirismo em uma época onde essa dupla seria pouco provável.

Leitura recomendadissima, tanto por ser um clássico, marco da literatura de um país, como também por ser apaixonante acompanhar a odisseia de Huck Finn e Jim.
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Roberto.Vasconcelos 15/01/2023

Um clássico americano
Essa é uma história infantil, simples e sem muita profundidade mas ela consegue ser divertida e o Huck e o Jim são encantadores.
A história gira em torno de uma fuga em que a realidade da escravidão na época é explorada e o Huck se tornou um personagem sensacional , a forma como ele fica em conflito devido as crenças da época e a religião , várias vezes ele se questiona se faz o certo ajudando um escravo e se vai pro inferno por isso, mas escolhe ajudar o amigo mesmo se isso for considerado pecado.
Não gostei do tom Sawyer , ele entra aqui só pra complicar as coisas e criar dificuldades e isso se torna chato, mas o final foi excelente.
Enfim uma história divertida e que crianças e até adultos podem vir a apreciar.
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anaju 04/02/2022

As aventuras de Huckleberry Finn
gostei do livro, porém acho que teve muitas partes entediantes e que não agregam em nada na historia, e além das frases racistas que me incomodaram bastante, mas adorei como o huck mesmo no tempo em que vivia decidiu ajudar o Jim
melhor parte do livro com toda a certeza!
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Roberto 23/03/2023

Fugindo da sociedade pelo Mississipi
O livro retrata a jornada do adolescente Huckleberry "Huck" Finn pelo rio Mississipi, junto com um escravo fugido chamado Jim, e de suas desventuras e contratempos pelo caminho; Interessante notar que Huck não suportava viver a vida 8 ou 80 que tinha na pequena cidade, ou ele moraria com uma viúva austera e levaria uma vida séria e cheia de regras, ou viveria com o pai alcóolatra e violento, vivendo em meio a espancamentos com cheiro de manguaça; um totalmente desregrado, a outra totalmente austera.
Pelo caminho, a dupla se depara com personagens notáveis nas cidades que visitam, mostrando pessoas com sua vida destruída pelos diversos tipos de vícios, como bebida, jogo e o vício de matar, como foi o caso de uma família que se destruiu inteira por conta de uma antiga rinha com outra família, a qual nenhuma das duas lembrava mais da causa ( referência à famosa tragédia dos Hatfield e McCoy)
Um livro que muitas vezes nos faz rir, com seu humor picaresco, e nos faz refletir sobre relações humanas, tornando- o uma leitura bem densa para ser considerado simplesmente como "infanto juvenil"
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Valesi 11/03/2022

Um clássico
As Aventuras de Huckleberry Finn é um clássico da literatura mundial. Não tanto pela história em si (que é muito boa, sim, embora para os dias de hoje com alguma 'barriga'), mas pela narrativa episódica, pelas "vozes" diferentes dos personagens, e pela simplicidade genial da escrita de Sam Clemens.
Esta edição da Zahar é impressionantemente boa, com ilustrações e comentários muito pertinentes.
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Henrique Fendrich 09/11/2015

O bem, o mal e Huckleberry Finn
Desde que “As aventuras de Huckleberry Finn” foi lançado, em 1885, os críticos observaram, e muitas vezes censuraram, o comportamento incorreto do herói da história, acostumado a criar as mais disparatadas mentiras para se livrar dos apuros em que se metia. O que talvez não seja tão evidenciado é o quanto a consciência desses atos afligia o próprio Huck. Embora criado de forma rude, o rapaz havia recebido rudimentos da doutrina cristã e acreditava que, de acordo com certos atos seus, era capaz de terminar no inferno. A sua noção de certo ou errado e o seu conceito de “mal”, no entanto, eram definidos por leis humanas que hoje se sabe injustas.

Assim é que, no seu raciocínio, o que lhe tornava especialmente malvado e digno de castigos do céu era o fato de ter contribuído, ainda que de forma indireta, para a fuga de um escravo. A seu ver, não poderia haver pecado maior. Nenhuma mentira, nenhuma maldade, nem mesmo os planos pueris de homicídios promovidos pelo grupo de Tom Sawyer eram mais terríveis do que permitir que um negro escapasse dos seus legítimos donos. Transtornado por essa culpa é que Huck tentou rezar, mas sem conseguir, admitindo que apenas fingia desistir do pecado.

Como ainda era preciso expiá-lo, decidiu escrever uma carta em que revelava a localização do escravo. Ao terminá-la, sentia-se puro e aliviado ao pensar que esteve perto de se perder. Mas a consciência não o deixou em paz, sobretudo porque ele sabia o quanto aquele negro lhe havia ajudado e lhe queria bem. Huck sofria porque não conseguia conciliar o desejo de ser grato àquele escravo com a necessidade de preservar a lei dos homens, tida por ele como a do próprio Deus. Desse conflito nasceria a resolução de “ir para o inferno” e, com a condenação garantida, continuar praticando as maldades de sempre – eis o seu mecanismo de defesa.

Incapacitado de fazer uma avaliação definitiva dos próprios atos que praticava, Huck preferia concluir que a consciência não fazia sentido e que não havia diferença entre fazer o certo e o errado. Essa visão parece se opor à de Tom Sawyer, para quem havia uma linha muito clara separando o certo do errado – certo era o que lia nos livros de aventura. Era deles que tirava os seus princípios e uma moral que permitia o roubo sob certas circunstâncias, como a de ser prisioneiro. Para ele havia um “certo” que deveria ser feito independente de olhares alheios.

Huckleberry Finn, no entanto, temia um olhar específico, vindo de lá cima, certo de que uma mão havia de estapeá-lo para que se lembrasse de que a sua maldade era observada o tempo todo. Não lhe ocorria a possibilidade de redenção senão pela prática de boas obras, mas não se considerava capaz delas, criado malvado que foi. E nunca lhe passou pela cabeça que, ao se comprometer pela libertação de um negro, pudesse estar sendo mais justo que a justiça dos homens – condição que o homem da cruz julgou fundamental para entrar no Reino dos Céus.

site: http://deusnaliteratura.wordpress.com
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Thais. 09/07/2021

Achei um pouco confuso em alguns momentos, mas gostei da relação do Huck e do Jim.

PS: Tom Sawyer é um chato. Perdi a vontade de ler o livro dele depois de ler esse.
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Israel145 07/09/2012

A fantástica "continuação" de Tom Sawyer
“As aventuras de Huckleberry Finn” é mais uma das fantásticas obras do escritor Mark Twain que li e guardei no local reservado para livros queridos no meu coração. Derivado diretamente do clássico “Tom Swayer” é um livro muito mais maduro e bem construído que este, não desmerecendo “Tom” de forma alguma, pelo contrário. Quando resolvi ler “Huck Finn” foi pela singela curiosidade de fazer a comparação entre as duas obras, já que ambos estão ambientados na mesma época, com os mesmos personagens e o mesmo estilo. Qual o melhor dos dois? Difícil responder. Prefiro encarar “Huck Finn” como uma continuação que deu certo e que mantém a qualidade de “Tom Sawyer” com novos elementos enriquecedores das fantásticas aventuras dos dois garotos.
O livro em si, trata das peripécias de Huck Finn, um garoto vadio, porém auto-suficiente, que vive largado pela cidade vivendo intensamente a sua infância nas brincadeiras com os outros moleques da vila e se aventurando pelo rio Mississipi. Continuação direta do enredo de “Tom Sawyer”, mesmo tendo ficado rico no final do livro anterior e sendo adotado pela viúva, Huck continua relutando em ser civilizado e acaba arrastado pra uma vida de vagabundagem pelo pai alcoólatra. Mas o rumo da história muda quando Huck forja a própria morte e parte com Jim, um escravo fujão, em sua jangada se aventurando pelo rio e vilas à margem deste, se embrenhando numa divertida jornada, conhecendo os tipos mais pitorescos, vivendo as situações mais absurdas (e engraçadas) sempre se sobressaindo com sua inteligência e esperteza, embrenhado pelo interior de uma América fascinante retratada com cores vivas e sob a perspectiva de um garoto de 12 anos.
Todos os elementos que tornaram “Tom Sawyer” agradável aos olhos dos leitores estão lá. A narrativa do próprio Huck Finn torna a leitura prazerosa e engraçadíssima, pois é o tempo todo visto pela lógica de um guri dessa idade, que confere à obra um humor ácido e mordaz. Faz voltar no tempo e ter vontade de ser criança novamente. Incontestavelmente, Mark Twain é um dos maiores contadores de história da literatura universal. Muitas das histórias aqui contadas e personagens foram adaptadas da própria infância e aventuras de Twain. Segundo consta, definiu com essa obra, mesmo com esse viés humorístico, o romance americano.
Quanto à edição da Martin Claret (série ouro), esta vem recheada de “extras”, com uma mini-autobiografia de Twain (muito engraçada), um capítulo extra com o escravo Jim, o conto “a célebre rã saltadora”, um texto sobre a obra em si e uma biografia de Twain. Sendo esse livro, da até pra aturar o trabalho porco da editora, não vou entrar no mérito tradução, porque não leio em inglês pra comparar com os originais, mas pelo que se comenta sobre a obra, Twain utilizou pelo menos 7 dialetos diferentes falados na região à época. Grande chance de isso ter se perdido na adaptação pro português.
Lembrando que Twain retomou ainda mais algumas vezes os personagens em outros romances. Recomendo muito esse livro!
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juliasena 04/07/2023

?
Nss veyr esperava mais, o começo tava mto bom ai foi passando os capítulos foi ficando chato sla veyr o começo tava bom
isabella1400 05/07/2023minha estante
é livro acadêmico?




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