O Mundo das Maçãs

O Mundo das Maçãs John Cheever




Resenhas - O Mundo das Maçãs


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Tito 19/05/2011

Um olhar sutil para a miudeza humana.
Locimar 13/06/2021minha estante
Bem isso! Perfeito!




Ronnie K. 18/08/2009

Estranheza e melancolia em situações insólitas!
Os contos do premiado e cultuado escritor norte-americano John Cheever (1912-1982), são impregnados de estranheza e melancolia. Há, por vezes, uma atmosfera nostálgica, que reverencia levemente tempos idos, mais natural e, de certa forma, mais românticos. Embora não exacerbado, percebe-se o conflito do homem provinciano diante da alucinada vida moderna. Cheever explora também a futilidade do homem da classe média alta, seu sufocamento pelo ócio, seu delírio (daí a atmosfera onírica), mas, sobretudo, o que vemos aqui é o desfacelamento do casamento: casais que se odeiam, rancorosos, a busca (frustrada em geral) por relações extra-conjugais. Há um desespero subjacente nos contos reunidos nesse volume.

Ainda que irregular em sua compilação é um livro muito bom que merece ser lido. Há contos fracos, é verdade; alguns confusos, outros injustificáveis e um ou dois que são apenas esboços de contos, sem um centro nervoso. Porém, dos treze aqui reunidos, há pelo menos 6 realmente marcantes, seja pela originalidade do tema, seja pelo brilho do estilo.

Se o Conto (enquanto gênero - esse espaço tão exíguo e limitado) requer um ponto de explosão fulminate, a exploração de uma idéia nova ou o que quer que seja de inevitável surpresa ou susto para justificar sua escrita, John Cheever pelo menos é mestre num desses aspectos: realmente, na maioria das histórias aqui reunidas seus personagens se envolvem em situações indubitavelmente insólitas! Nada previsíveis (Embora o desfecho em geral do conto 'cheeveriano' pode deixar a desejar!).

O mais impressionante e inesquecível conto da antologia, "O nadador" já justificaria a leitura do livro. Conto sombrio, misterioso e, sobretudo, tão triste e amargo quanto lembrar e rememorar em sonho algo muito bom que nos escapou para sempre. Destaque também para os contos "O natal é triste para os pobres" (inesperada arma contra a pieguice que o título sugere), "A quimera" (delírio libertador, em que se exalta o poder da imaginação como fuga à rotinas mesquinhas e opressoras), "O mundo das maçãs" (retrato comovido do conflito entre as belas e espirituosas realizações artísticas e o acachapante e poderoso desejo carnal que acomete um velho, laureado e solitário poeta), além de "O gatuno de Shady Hill" e "Percy". Esses são contos que abrilhantam o volume e testemunham o poder de Cheever como o grande contista que é considerado.

TRECHO (Do conto "A quimera")

"Minha mulher e eu vivemos muito mal juntos, mas temos três filhos lindos e tentamos tocar a vida para a frente. Faço o que tenho que fazer, como todo mundo, e uma das coisas que tenho que fazer é servir na cama o café da manhã de minha mulher. Tento preparar um bom café da manhã, porque deste modo às vezes consigo melhorar sua disposição de espírito, que normalmente é péssima. Certa vez, não faz muito tempo, quando cheguei com a bandeja, ela levou a mão ao rosto e começou a chorar. Olhei para a bandeja para ver se havia alguma coisa de errado. Era um belo café da manhã - dois ovos cozidos, uma porção de mil-folhas e uma Coca-Cola com um pouco de gim. É assim que ela gosta. Jamais aprendi a preparar bacon. Os ovos pareciam estar bom e os pratos estavam limpos; assim, perguntei o que havia. Ela retirou as mãos dos olhos - o rosto estava molhado de lágrimas e os olhos estavam fundos - e disse, com o sotaque típico dos Boysen:
- Não aguento mais ser servida na cama por um homem peludo de cueca."
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Aguinaldo 02/05/2012

o mundo das maçãs
Publicada em 1987, esta pequena edição de contos de John Cheever é muito boa. A seleção deles foi feita por Sérgio Augusto e a tradução por Paulo Henriques Britto. São treze histórias, que originalmente sairam em revistas e jornais, entre 1947 e 1973. Quase todas elas envolvem pessoas da classe média americana, na periferia de grandes cidades, com suas excentricidades ou inaptidão às circunstâncias de suas vidas. Cheever conta (antes ironiza) as pequenas misérias delas e explora quase sempre algum preconceito, problemas de relacionamento, o limiar terrível da depressão, crise ou loucura. Nas histórias ele nunca é redundante, repetitivo, pois ao longo da narrativa, como numa espécie de labirinto, progressivamente acrescenta elementos, ora similares, ora contrastantes, que tornam seus contos realmente especiais. Ele explora também alguma fantasia, que pode sim ser associada a transtornos psicológicos ou outras patologias, mas que funciona como invenção do mundo especial onde habitam seus personagens. Gostei particularmente de "O nadador", "Balada triste", "A quimera" e "Percy". Os demais também são interessantes, só não gostei de "Miscelânia de personagens que não vão aparecer", "Uma visão do mundo" e "O Natal é triste para os pobres". O conto que dá nome ao livro, "O mundo das maçãs", fala de um velho poeta americano radicado na Itália. Apesar do deslocamento geográfico são suas memórias da vida nos Estados Unidos que assombram o livro. Há neste conto uma associação entre a poesia (e a arte em geral) com a auto-destruição, que é bem interessante. Vou procurar mais histórias deste sujeito. [início 26/04/2012 - fim 30/04/2012]
"O mundo das maçãs e outros contos", John Cheever, tradução de Paulo Henriques Britto, São Paulo: Companhia das Letras , 1a. edição (1987), brochura 14x21 cm, 220 págs. ISBN: 85-85095-37-7 [edição original: The stories of John Cheever (New York: Alfred A. Knopf (Random House) 1978]
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