João 06/02/2019
Fábulas selecionadas - La Fontaine
Por que ler fábulas?
Parece-me, de longe, o gênero literário que melhor reúne as condições necessárias para transmitir argumentos a respeito da natureza humana. A fábula, por excelência, constitui um texto sucinto, dotado de um estilo simples, que evoca personagens do mundo natural (notadamente animais) para abordar metaforicamente temas universais atrelados ao comportamento humano. Em poucas linhas, o fabulista cria poderosamente um argumento moral. E não raramente ainda mergulha a fábula em tons poéticos, como faz La Fontaine.
Eis, portanto, razões bastantes para se aventurar nessa fabulosa literatura.
Atribui-se ao escritor grego Esopo (620 a.C a 564 a.C) a criação deste gênero literário. São de sua autoria, inclusive, fábulas que se celebrizaram ao longo do tempo, tal como “A Lebre e a Tartaruga”.
Interessante lembrar que Platão, no tempo em que idealizou sua “República”, desferiu poderoso manifesto contra a obra de Homero, que, segundo ele, era responsável pela má formação do caráter da juventude grega. Em contrapartida, louvava a obra de Esopo, por sua virtude supostamente pedagógica vocacionada para educação moral do povo grego.
Jean de La Fontaine, considerado pai da fábula moderna, inspirou-se entusiasticamente em muitas das fábulas criadas por Esopo, dando-lhes, ademais, novos contornos. Além de ter reescrito “A Lebre e a Tartaruga”, são de La Fontaine “A Raposa e a Uva”, “A Coruja e a Águia”, “O Parto da Montanha”, entre tantas outras.
La Fontaine viveu entre 1621 e 1695. Foi um poeta e fabulista francês de origem social abastada. Era contemporâneo de Molière e de Madame de Sèvignè. Escreveu sua obra “Fábulas” entre 1668 e 1694. Teria declarado o seguinte acerca deste gênero literário do qual foi uma sumidade: “É uma pintura em que podemos encontrar nosso próprio retrato”.
Nessa edição bilíngue da Cosac Naify, encontra-se não a obra completa de La Fontaine senão uma seleção de fábulas (como o título já indica). Os textos foram traduzidos por Leonardo Froes, que primou por manter o estilo poético que marcou sobremaneira as fábulas de La Fontaine. As fábulas vêm acompanhadas de ilustrações de Alexandre Calder que desnudam bem o universo das histórias. Ao final do livro aparece um posfácio escrito originalmente pelo próprio La Fontaine à guisa de prefácio de suas “Fábulas”.
Ao contrário de alguns fabulistas, La Fontaine optou por incorporar a moral de cada uma das fábulas no próprio curso das narrativas, salvo por uma ou outra, que, fugindo a esse formato, possuem em separado a moral da história.
Os textos, repito, são simples e de leitura bem fluída. De resto, permitem agradáveis reflexões.
Boas leituras!