Vic 16/10/2020“As batidas perdidas do coração” é um romance nacional do tipo jovem adulto (New adult) que não funcionou para mim. Conta a história de Viviane, uma jovem de 19 anos bem rica, sem noção do que é a vida, que está vivendo o luto porque perdeu o pai, e de Rafael, um jovem problemático, quebrado por ter perdido tantas pessoas e, além disso, babaca e viciado. Entretanto, vários personagens secundários estão inseridos e acabei me confundindo sobre quem é quem de tanta gente nesse meio (vale ressaltar que os outros livros da série narram com mais detalhes sobre os problemas desses secundários).
Cheio de frases de efeito, que era uma característica do pai de Viviane, a narrativa romantiza coisas que eu acho bem complicadas. Ler pelo Kindle Unlimited fez toda a diferença, pois marquei os trechos que mais me marcaram positiva e negativamente. Segue alguns problemas encontrados na trama:
1. O babaca é machista quando tem os primeiros contatos com ela, quando, por exemplo, diz que se ela não usasse saias tão curtas não se resfriaria tanto. Eu fiquei ???????. E depois disso ele já não tem discursos tão explicitamente machista, aparentemente porque mudou por ela. Esse negócio de mudar por alguém é complicado, meu povo.
2. Viviane pode até ser um pouco sem noção do que é a vida por conta da bolha em que ela vive, mas isso não justifica ela ser levada a pagode e sei que isso é por ser mulher. Ao tomar uma decisão sozinha, seu avô e seu ex a tratam como uma “caprichosa” que depois de conversar com o avô vai mudar de ideia porque ELES vão repensar a situação, como se ela não fosse capaz de decidir sozinha.
3. O relacionamento é absurdamente precipitado. Cerca de 30% do livro narra eles nas suas problemáticas sozinhos e alguns poucos encontros, mas literalmente do NADA eles já agem e proferem discursos como se fossem apaixonados e se relacionassem há uma eternidade. Entendo que há conexões que são muito mais rápidas e intensas que outras e o tempo é só um detalhe, mas não creio que seja esse o caso. A conexão foi intensa demais para qualquer pessoa em sã consciência. Desde o princípio ele deixa claro os problemas dele e como eles podem afetá-la e ela decide abraçar uma responsabilidade imensa por alguém que mal conhece, pondo, inclusive, em risco todas as pessoas ao seu redor. É uma relação nada saudável e só não vê quem não quer. E enfatizo que, caso não tenham percebido, não gosto desse complexo de heroína que salva o macho.
4. A relação de dependência afetiva entre eles me incomoda demais. Sem querer dar spoiler, mas talvez já dando, é super complicado quando as pessoas não tem amor próprio e é o que eu acho que há nesse livro. Passa a narrativa toda falando em fazer algo grandioso pela outra pessoa e não por si e é claro que isso não vai dar certo. É preciso parar de romantizar isso e perceber quando urge a necessidade de tratamento médico para tratar essa DOENÇA.
5. O uso do sexo para “resolver” os problemas me incomoda, pois nada se resolve. Depois que o sexo acaba, os problemas batem à porta de novo e tudo piora. Se controlem e amadureçam, meu povo.
6. Falei muito sobre a romantização, mas é preciso deixar claro que há pessoas falando a realidade, querendo abrir os olhos da protagonista e ela OPTA por agir dessa forma e ser cega. Foi esse fato de ter alertas que me fez classificar o livro como razoável e não como ruim. Lamentável como ela precisa passar por TANTA coisa ruim e pesada pra finalmente deixar de agir como cega. Essa protagonista só me deu raiva.
Resumindo, já deu pra perceber que a leitura não foi muito proveitosa. Mas acho que o pior de tudo é porque tudo isso que me incomoda é algo real e comum...