stsluciano 07/09/2013
Uma boa distopia
No livro, Sherry está confinada há mais de três anos em um tipo de abrigo nuclear que protege ela e sua família da contaminação por uma misteriosa doença que ela descreve como similar à raiva. Segundo instruções que receberam no passado, deveriam aguardar no abrigo até o momento em que o governo em especial os militares, responsáveis por colocar ordem em um mundo tomado por uma doença entrassem em contato e dissessem que era seguro sair.
Porém, a família de Sherry mãe, pai, avó, um irmão adolescente pentelho e uma irmã menor, novinha ainda fica sem comida antes que alguém faça qualquer tipo de contato, então, entre morrerem de fome e desespero dentro do abrigo e saírem em busca de alimentos, optam pela segunda opção. Sherry deixa o abrigo com seu pai, afim de verem se encontram algo para comer.
O que vemos aqui é o de praxe em futuros apocalípticos: a sociedade como se conhece foi desfeita por alguma causa a ser determinada, destruição por todos os lados, e a perene impressão de que, de uma hora pra outra, o mundo se tornou grande e silencioso demais.
E aqui começa minha visão atravessada: apesar de não ter nada muito original, a autora cria um clima distópico competente. Uma doença assolou o mundo com foco na cidade onde Sherry vive, Los Angeles, algo semelhante ao que já foi visto, na ordem, em Resident Evil, The Walking Dead (a hq, não a série), Eu Sou a Lenda; ou seja, uma doença como fator de extinção da raça humana que, em seu processo, mata grande parte da população e transforma outro tanto em seres irracionais que só pensam em se alimentar dos poucos sobreviventes que, num primeiro momento, eram imunes à tal doença (mas que podem contraí-la se forem mordidos, arranhados ou expostos a fluídos corporais). Nada novo, mas que me atrai bastante.
Mas deixamos Sherry e o pai em busca de alimentos. Algo ruim acontece, algo bom acontece, e um fio de esperança se mostra numa rapidez que me deixou tonto.
A narrativa da autora, Susanne Winnacker, é bastante direta. Ela não perde muito tempo com firulas ou pensamentos mais elaborados, pois foca nas necessidades básicas de seus personagens que querem, em primeira instância, sobreviverem: comida, segurança, saber o que raios aconteceu com o mundo, e amor. Eu não tenho como reclamar disso.
E se o livro é rápido, isso se deve, também, ao pensamento quase militar e um tanto baseado em RPGs e seu conceito de quests que dá o tom às ações das personagens e, assim, guiam a história: isso tem de ser feito? Então vamos fazer acontecer! Se precisam buscar alguma coisa, simplesmente partem em busca, resolvendo a situação para o bem ou para o mal rapidamente.
Essa economia de páginas é bastante inteligente, mas deve incomodar alguns leitores. É uma pena, parece que, ao escrever, a autora tinha em mente que deveria ser objetiva, e levou isso às última consequências. Pra destoar um pouco, e traçar um paralelo entre a vida atual de Sherry e a outra vida, ou o como eram antes de a doença aparecer, a autora nos dá breves trechos de memória, onde podemos ver algo mais do passado.
Como personagem eu gostei de Sherry, ela é forte quando tem que ser, porém sem esconder o medo, e encarna bem o papel de tenho de fazer algo por esta família.
Um ponto que me incomodou um pouco é que os segredos são desfeitos rápidos demais, e algumas revelações que os personagens fazem me deram a impressão de estarem fora do lugar, precipitadas, e não conseguia conter o pensamento de mas quem foi que te perguntou! que surgia tão logo me encontrava com uma delas. É uma coisa com a qual temos que lidar.
Agora, pensando atravessado, acho o livro bastante simples, na estrutura, mas é bom. Bom por ser simples e não exigir muito do leitor. Ele segue uma fórmula batida, mas que a autora seguiu bem, e, sem ousar tanto, não cometeu erros. É como se, dentro do que se propôs a fazer, ou seja, uma distopia simples, sem muita firula ou algo de excepcionalmente novo, ela tenha tido sucesso. E, de novo, não posso reclamar disso.