PorEssasPáginas 22/10/2013
Resenha Claro que te amo! - Por Essas Páginas
Eu, a Cuca, e a Lany - minha Cuquete, que está numa ótima vibe de livros nacionais -, resolvemos ler juntas o novo livro da querida e simpática Tammy Luciano. Recebi Claro que te amo! através da nossa parceria com a Editora Novo Conceito, enquanto a Lany adquiriu seu exemplar autografado lá na Bienal. Da autora, já tinha lido seu outro livro pela Novo Conceito: Garota Replay (resenha aqui) e estava curiosa para ler um novo trabalho dela.
Conhecemos Piera após uma horrível decepção amorosa. Seu ex-noivo e namorado de adolescência a abandonou e traiu após um longo namoro de seis anos. Logo no começo do livro, Piera está assistindo, escondida e amargurada, ao casamento de André, seu ex-namorado. A atitude quase masoquista é uma forma de fechar uma porta e iniciar nova vida. O problema é que, mesmo após essa cena e o ritual de guardar todas as lembranças de André em uma caixa, Piera continua presa ao fantasma do ex, e segue por vários capítulos em uma longa lamentação sobre sua situação. Isso foi algo que também aconteceu em Garota Replay: a personagem entra em um estado depressivo que se estende por muitas páginas, repetindo as mesmas reclamações e sentimentos, tornando o começo da história um pouco lento e cansativo.
Pode ser porque eu estou acostumada a ler romances em que as protagonistas às vezes tem um problema sério de “mimimi”, mas uma das partes que eu mais gostei de Claro que te amo! foi exatamente o começo. Eu nunca sofri uma separação assim, mas tenho os relatos de algumas amigas, e eu acho que a Tammy conseguiu descrever muito bem os sentimentos de uma pessoa nessa situação. Achei interessante que ela não encontrou um “cara perfeito” logo após a separação (como acontece em muitos livros).
Em meio a essas páginas iniciais, conhecemos também um pouco mais sobre Piera e sua rotina de vida: seu pai, que a criou sozinho após o abandono da mãe quando a garota tinha apenas um mês de idade, suas amigas, Drê, Renata e Denise (gostei mais da Denise, ela era a mais autêntica de todas e a que certamente marcou durante a leitura) e seu trabalho como arquiteta na empresa da família. No entanto, a autora se concentra mais em revelar ao leitor a história amorosa da personagem e aí que vem algo que eu simplesmente não consigo aceitar: Piera começou a namorar com André aos 12 anos. 12 anos! Ou eu sou um pouco atrasada e tradicional demais, ou Piera foi muito precoce. Com 12 anos eu ainda brincava, lia quadrinhos e assistia desenhos animados (ok, eu ainda faço um pouco essas coisas, mas o que eu quero dizer é que eu definitivamente não pensava em garotos nessa época – nem minhas amigas). Além disso, Piera também conta que, antes de André, namorou outros dois garotos! Com o quê? 10 ou 11 anos? E inclusive ela namorou com essa idade um garoto de 16! Primeiro: como o seu pai, tão zeloso, permitiu uma coisa dessas? Segundo: como um garoto de 16 anos se interessou por uma garota de 11 anos?! Nada disso entra na minha cabeça. Nunca vai entrar, sinto muito, não importa o quanto a autora explique que já viu isso acontecer; mesmo assim, isso é uma exceção. Não fez o menor sentido para mim.
A minha grande crítica ao livro é exatamente sobre a idade da protagonista. Assim como a Cuca, com 12 anos eu ainda brincava e assistia desenhos. E antes de 12 anos a Piera ainda teve dois namorados! Inclusive, para a história trabalhada, faria muito mais sentido se a protagonista fosse um pouco mais velha, principalmente pelo final (que eu não posso contar porque é spoiler). Eu sei que ela era mais madura por causa da ausência da mãe, mas mesmo assim, isso não justifica ela começar a namorar tão cedo.
Porém, tentei aceitar o fato e seguir em frente na leitura. A trama que de longe achei mais interessante nessa leitura foi a da mãe de Piera: Cecília. Quando a menina tinha apenas um mês de idade, a mãe abandonou a filha, deixando-a aos cuidados do pai. Claro que isso causou cicatrizes em Piera, apesar da maneira zelosa que o pai cuidou dela por toda sua vida. Agora, sua mãe está de volta, diagnosticada com uma depressão profunda e esquizofrenia, e quer conhecer a filha. Gostei muito dessa parte da história e gostaria, de fato, que Tammy tivesse dado mais importância a essa trama. Achei bem legal como ela pesquisou sobre o assunto, a doença, as manifestações da mesma, os comportamentos. Tudo aqui foi muito verossímil e emocionante. Conheço uma pessoa que tem essa mesma doença e é mãe também, e os sintomas, as atitudes, foram muito semelhantes. Aqui deu para notar que Tammy se empenhou em um trabalho árduo de pesquisa ou então conhece de perto alguém com esse problema. As interações, inclusive as cartas que a mãe de Piera deixa para a garota, foram tocantes. É uma pena que esse lado da trama tenha sido dramaticamente colocado de lado para dar espaço ao romance. As cartas foram lindas demais! Palmas para toda a pesquisa da autora sobre depressão. Eu também queria que a Cecília tivesse aparecido mais…
Foi através da mãe, em uma situação inusitada, que Piera conhece Marcelo, o administrador da clínica onde sua mãe está internada. Ele está estudando medicina e não há outra palavra para descrevê-lo: ele é perfeito. Novamente Tammy volta com personagens perfeitos demais em sua trama. A própria Piera é uma personagem que, por quase 200 páginas, mostra-se perfeita e incrível demais aos olhos do leitor. Infelizmente isso, para mim, não atrai; não consigo desenvolver uma empatia por personagens sem defeitos visíveis e apresentados ao leitor na trama, apenas qualidades. Algo que me desencantou bastante nesse livro foi o fato de que aqui todo mundo é bonito, bacana e rico, muito rico. É quase um mundo à parte. A minha sensação foi ter mergulhado em uma novela do Manoel Carlos, onde todo mundo é bonito, bonzinho, rico e mora nos bairros chiques do Rio de Janeiro. Inclusive algumas vezes a própria autora diz que a vida de Piera pode ser comparada a uma novela. Não consigo me identificar com os personagens nas novelas dele e também não consegui me identificar com esse mundo de luxo apresentado no livro. Se pelo menos tivesse um outro personagem um pouquinho menos abastado… Havia o núcleo de um lar assistencial que Piera ajudava – o que eu achei super legal de aparecer no livro – mas não havia uma finalidade específica para eles estarem lá além de mostrar como a personagem era ainda mais bacana. Tudo isso junto me trouxe uma sensação incômoda de irrealidade por todo o livro.
A irrealidade também se apresentou em alguns pontos que, em contrapartida à brilhante pesquisa que a autora fez sobre a depressão, ela pecou por aqui. Em certo momento, Marcelo conta que era um garoto excluído, gordinho e de óculos na infância e que resolveu dar uma guinada na vida. Aos 16 anos começou a praticar esportes, emagreceu e operou os olhos. Foi aqui que encontrei um descuido de pesquisa: não se faz cirurgia de vista aos 16 anos, jamais. Se Marcelo fizesse isso chegaria à idade adulta novamente com problemas de visão. Eu precisei esperar até os 24 anos para operar. Um problema de pesquisa simples, que causou uma sensação de irrealidade na leitura. Eu tive que parar e voltar nesse trecho, achando que eu tinha lido a idade errada. Tudo bem que isso é um detalhe, mas me incomodou. A autora fez uma brilhante pesquisa para o livro, e comete um erro que é tão facilmente percebido? Mas além disso também me incomodou a sensação que foi passada aí de que é preciso ser magro e bonito (e ser bonito parece significar também não usar óculos) para ser feliz, bem-sucedido e aceito na vida. Para mim, isso é um pensamento adolescente, não uma visão madura. Uma sensação que tenho, após ler dois livros da autora, é que Tammy ainda não escolheu se quer falar de adolescentes ou de jovens adultos: seus personagens sempre estão presos entre esses dois mundos, pensando como adolescentes e vivendo situações adultas precocemente. Eu adoro ler livros de adolescentes e eu adoro jovens adultos. Eu li até Allie Frinkle da Meg Cabot que é para crianças. Mas você tem que definir muito bem para quem você está escrevendo. Não porque só as pessoas daquela faixa etária vão poder ler aquele livro – mas para a voz dos personagens ficarem coerentes. Quer escrever para adolescentes? Sensacional. Escreva sobre os problemas deles. Idem para jovens adultos. Essa mistura só deixa o leitor confuso.
Foi só lá pela página 200 que a autora assumiu para os leitores que Piera tinha sim alguns defeitos. Durante alguns acontecimentos, Piera demonstrou ser uma pessoa fraca, mimada e sem atitude, que se acomodava com a infelicidade e boicotava suas oportunidades na vida. Foi aí que comecei a achar o livro mais interessante, pois finalmente encontrei em Piera uma pessoa real, com qualidades e defeitos. O ponto altíssimo do livro para mim foi quando finalmente Marcelo – talvez o único a fazer isso – despejou uma porção de verdades para a garota: o fato de ela não ser a única a sentir dor, a passar por problemas, a se sentir sozinha. Piera só pensa em si mesma o livro inteiro, faz drama todo o tempo e não enxerga que os outros também passam por dificuldades, também se magoam. Ela afasta as pessoas sem motivo e sem explicação. Foi nesse momento que também simpatizei um pouco mais com Marcelo, por ele finalmente tomar uma atitude e ser verdadeiro com Piera, por ele finalmente demonstrar que tem sangue correndo nas veias e dizer o que pensa.
É claro que isso não dura muito. O que ficou para mim, após tudo isso e ao encontrar o final do livro, foi que a felicidade é aleatória e vem para pessoas que não buscam por ela, um conceito que não acredito de maneira alguma. Para mim, felicidade é algo que a gente deve buscar todos os dias, lutar por ela, e lutar significa tomar atitudes, enfrentar a vida e os problemas, não se esconder e esperar que outras pessoas tomem as rédeas de sua vida e salvem-na da infelicidade. Não é assim que as coisas funcionam, mas foi isso que o livro passou. Piera não evoluiu durante a o livro, não amadureceu. Em nenhum momento ela tomou uma atitude ou teve coragem de conduzir sua vida. Até o último instante ela se acomodou em ser conduzida pelas atitudes dos outros, com medo de viver a própria vida. Achei ótimo o paralelo com a mãe dela, Cecília, que agia da mesma maneira, porém a realidade aconteceu apenas para ela, não para Piera; para a garota, as coisas davam certo sem que ela se esforçasse. Na vida real, ela teria o mesmo fim solitário que a mãe.
Essa foi exatamente a características que mais me incomodou na Piera: ela não toma nenhuma atitude, ela fica sempre esperando que alguém resolva os seus problemas. Temos um exemplo ótimo nesse trecho:
“Não sei terminar relacionamentos e preferia tomar um enorme pé no traseiro, me ferrar de chorar, mas depois não achar que não tinha culpa de nada, tudo tinha sido decidido por ele, pelo destino”
Destino é quando você tropeça em uma pedra e cai nos braços do seu futuro marido. Destino não vai fazer com que você se case com ele. Para isso alguém vai ter que tomar alguma atitude. E a Piera é assim: ela deixa que todo mundo resolva as situações por ela. E não são só as amorosas! E quando ela resolve fazer algo, é no calor do momento e ela se arrepende amargamente depois.
Encontrei alguns erros de português e concordância que não deveriam ter passado batido na revisão da editora, mas que também não atrapalham a leitura. Tem um parágrafo enorme com um só ponto final, mas tirando isso também não notei grandes erros. Por outro lado, gostei bastante do capricho da editora com a edição. Cada início de capítulo e cada página tem um trilha de borboletas, dispostas de maneira muito singela e sensível, o que combinou muito bem com toda a analogia da borboleta que a autora fez com a personagem durante todo o livro. Aliás, isso foi algo muito bonito e eu gostei bastante durante a leitura: a comparação de Piera a uma borboleta foi uma metáfora belíssima, pena que Piera desabrochou não por seu próprio esforço para abandonar a crisálida, e sim porque alguém a libertou.
Eu ADOREI a comparação com a borboleta. Sério, foi LINDO! Eu nunca tinha lido nada da Tammy, mas o que eu pude notar é que ela é muito boa com as palavras. Ela escreve muito bem, ela sabe passar os sentimentos e faz analogia sensacionais. Tem uma frase que o Marcelo fala que eu adorei porque é algo que eu sempre concordei:
“Uma vez li algo que dizia que o relacionamento perfeito é a gente amar as qualidades da pessoa e aceitar seus defeitos. Quando você não está pronto para conviver com as falhas de alguém, será mais difícil dar certo”.
Mas o problema durante a leitura foi exatamente no desenvolvimento dos personagens e isso acabou sendo refletido no romance. Eu já falei várias vezes sobre livros em que os protagonistas se apaixonam rapidamente. Nesse caso, além disso ter acontecido, foi em um momento não muito oportuno. Eu pensei: “Piera, acho que você precisa redefinir as suas prioridades”. Em alguns momentos o romance foi caminhando lentamente e em outras rápido demais. Era difícil se conectar com os personagens porque eu às vezes ficava me questionando sobre algumas escolhas deles.
E é por isso que eu fiquei completamente dividida com Claro que te amo! Foi uma leitura leve e com cenas e reflexões muito bonitas. Mas as reflexões não condiziam com as atitudes dos personagens…
Claro que te amo! é uma leitura recomendada para quem gosta de romances, mas não espere muita profundidade nem evolução da protagonista. É um livro para se jogar no romance e esquecer o restante, coisa que não consigo fazer de maneira alguma, mas sei que muita gente consegue.
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