Quando cadastrei o livro no Skoob nas semanas próximas ao lançamento não esperava lê-lo em tão breve. Porém a editora ofereceu um exemplar para eu resenhar e fiquei muito feliz. Afinal não só é bom sair da zona de conforto como ler uma história mais realista. Além disso estava querendo ler algo com esse cenário desde que li A Cidade do Sol. Com uma prosa bela e entrecortada Sahar Delijani nos apresenta um apanhado de um período histórico tenso pontuado por grandes personagens.
A história começa no passado durante a primeira revolução iraniana nos anos 80, nos apresentando Azari, Parisa, Amir e Maryam cujas vidas foram sacudidas pela ascensão do novo governo. Jogados na cadeia sem saber ao certo qual o crime haviam cometido eles veem seus filhos arrancados de si. Azari que dá a luz na cadeia tem de entregar a filha para a mãe cuidar, Parisa não sabe o que foi feito de seu filho. Quando prenderam ela e o marido ele estava comendo na mesa de casa. Todas essas crianças vão parar na casa de Leila, tia de muitas delas ou apenas conhecida das mães. Leila viu as irmãs casar, formarem família, e também viu suas vidas partindo e seus filhos sozinhos. Com o passar dos anos Leila abriu mão da própria vida para cuidar de Omid, Forugh, Sara, Dante e tantas outras. A casa de Maman Zinat onde tantas mulheres procuravam abrigo. Mulheres fugindo dos maridos, garotas fugindo de casa, mães desesperadas sem onde deixar os filhos. Sob o pé de jacarandá e suas flores roxas todos encontraram um refúgio onde não podiam ser alcançados. E Leila viveu sua vida para eles, até o dia em que subitamente as mães ausentes estavam de volta e suas crianças foram levadas. Com a morte de Maman Zinat todos retornam e com eles todas as memórias. Um tempo de dor, mas também de muito amor, redenção e esperança.
A premissa do livro é a vida partida de tantas pessoas por causa de uma revolução que começou como esperança de mudança para melhor e terminou em um pesadelo onde ninguém estava a salvo. Famílias separadas e vidas mudadas para sempre, mas no meio disso tudo um refúgio estável, um pedaço onde os frutos dessas famílias partidas encontraram um lar. Crianças que carregam em suas vidas as marcas da instabilidade de um país, que viram suas vidas mudarem diversas vezes. É a partir dessas vidas que Sahar Delijani constrói o mosaico que forma a história de Filhos do Jacarandá.
A narrativa entrecorta diversos períodos e diversos personagens, construindo pouco a pouco uma história que tem como base mais do que as radicais mudanças na política do Irã. Apesar de ter diversas vozes narrativas a história ressoa em um mesmo tom, os personagens têm forças semelhantes e a forma que descrevem suas vidas é uma das coisas que mais marcam no livro. Com descrições vívidas a autora revela ao leitor um cenário que surpreende pelo calor humano, e os sentimentos que eles passam. Para quem imagina apenas o Irã das notícias de jornais é surpreendente o ambiente que acompanha os personagens. O desenrolar da história fecha o ciclo dessas vidas partidas com uma nova revolução e uma nova promessa.
A leitura flui rápida e a escrita de Sahar Delijani é pontuada por um tom inconfundível de realidade. A história que a autora conta não é apenas sua ou de seus personagens, pode ser confundida por tantas outras e o que fica é um retrato único dos efeitos da opressão nas vidas de uma geração inteira, e o sentimento constante de busca por algo. A edição da (...)
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