Rangel 24/02/2011
Uma crítica ao ateísmo fundamentalista
O livro "O Delírio de Dawkins" de Alister McGratth e Joanna McGratth procura refutar as ideias do livro "Deus, um delírio" de Ricahrd Dawkins. Dawkins é professor da disciplina "compreensão pública da ciência" da Universidade de Oxford, universidade esta feita pelo autor Alister, que fez doutorado em biofísica molecular. Ele aborda a respeito da fé, que para Dawkins, significa confiança cega na ausência de evidências, e que, portanto, é um processo impensante. Dawkins chega a afirmar que quem tem fé em Deus, passa por um processo impensante, portanto, um delírio. Critica veementemente que a fé é infantil e que deveria desaparecer quando a humanidade atingisse a maturidade da razão. Enfatiza que crer em Deus é a mesma coisa que crer em Papai-Noel e Coelhinho da Páscoa, tipo de crenças infantis, que são abandonadas quando as pessoas crescem. Ele critica a religião, para ridicularizá-la. Contudo, esquece-se que nenhum adulto depois de velho vá voltar a acreditar no Coelhinho da Páscoa, mas em relação a Deus, pessoas que geram ateias voltam a acreditar em Deus, em plena idade de maturidade. Aí, vem o questionamento de como Deus pode ser uma ideia infantil em pessoas bem esclarecidas, instruídas e até ateias e céticas chegarem a conclusão da existência de Deus. Exemplo aconteceu com Anthony Flew, notável filósofo. "Deus, um delírio" chega até a acertar a respeito da educação das crianças pelos pais, os quais ensinam as doutrinas bíblias com suas mitologias. Contudo, há uma falha na sua crítica, que quando as crianças crescem, por discernimento, vão compreendendo o que é um mito e procura entender o sentido da religião. For que há casos que pais não ensinam religião a seus filhos, no caso, dos comunistas ateus. A crítica principal contra Dawkins é ele apresentar o patológico como normal, o extremo como o centro, o excêntrico como padrão, o que não é aceitável no meio científico. Ele constantemente ataca a fé cristã com crença com fortes evidências contraditórias. Sustenta que os cristãos se auto-enganam, são iludidos pelo argumento irracional da fé. Dawkins não consulta fontes históricas sobre suas argumentações, como que Tertuliano ter dito que se deve ter fé no absurdo - o que ele não disse. Lutero é outro exemplo que fala da razão humana a ser utilizada na opção de vida pela fé. A questão da existência e inexistência de Deus faz de Dawkins discordar das cinco provas de Tomás de Aquino, quando argumenta racionalmente a respeito da demonstração de coerência interna mental da fé em Deus. Aquino mostra coerência interna mental a respeito da fé em Deus, algo que o ateísmo discorda sem levar em consideração a coerência interna mental, procurando reduzir as provas nas evidências empíricas. 'A linha básica do pensamento de Aquino consiste em que o mundo reflete Deus como criador.' A argumentação se baseia na suposição derivada da fé, que afirma a repercussão naquilo que se observa na realidade do mundo e do universo, o que remete uma explicação para a existência de um Deus criador. Esquece-se, Dawkinks, que os filósofos da ciência já perceberam que teorias científicas, hoje consideradas verdadeiras, podem ser rejeitadas no futuro, à medida que surgirem outras provas a serem desenvolvidas novas interpretações teóricas. Procura questionar "quem criou Deus", com uma pergunta incoerente. Procurar uma regressão infinita para saber o que originou Deus, leva a uma metáfora de quem projetou o projetista, o que para a ciência, significaria a busca da "teoria do tudo" ou "teoria da grande unificação", a qual busca uma explicação irredutível da pesquisa científica de não se possuir incoerência lógica, nenhuma falha conceitual ou nenhuma autocontradição envolvida. Quando Dawkins procura questionar Deus a respeito, chega assinar a improbabilidade da própria existência humana e do universo, uma vez que reconhecer a complexidade da afirmação da improbabilidade é altamente problemático. É bom ressaltar que refletir sobre tal probabilidade da realidade faz implicar em afirmar a própria existência. Ele também critica o que chama "Deus das lacunas", onde a interpretação científica não tem explicação, o que é uma generalização grosseira e falta de reconhecer a limitação da capacidade da própria ciência em pontos a serem explicados sobre a realidade. Swiburne afirma que a intelegibilidade do próprio universo precisa de explicação, o que não significa margem de lacunas, mas compreensibilidade das formas científicas, o que requer explicação da compreensão do próprio universo. Portanto, a ciência não refutou Deus veementemente, como acham os ateus, uma vez que questões fundamentais de sentido e significado de vida, como teoriza Karl Popper, a respeito de que as questões científicas não dão certeza de tudo, que são subdeterminadas pelas evidências, mas que grandes questões fundamentais ficam sem resposta. Juízos e declarações metafísica são necessárias para analisar questões fundamentais da vida, o que faz pensar que a ciência não explica tudo. A ciência serve para explicar os fenômenos observados no mundo e não de explicar o mundo. As ciências naturais, conforme Bennert e Hacker, não são as únicas detentoras do método científico. Segundo Medawar, há questões que a ciência não responde, por exemplo: 1) como tudo começou?; 2) para que estamos todos aqui? e 3) qual o sentido da vida? Essas questões não podem ser colocadas num positivismo doutrinário e requerem reflexão filosófica. Na verdade, há questões de magistério não interferentes e magistérios parcialmente interferentes a respeito da explicação da realidade, que nas quais, cientistas não deveriam entrar no campo dos teólogos e os teólogos não adentrarem no campo dos cientistas. Existe vários cientistas que crêem em Deus. Owen Gingerich publicou "O universo de Deus" que declara que o universo foi criado com intenção e propósito e que tal crença não interfere no empreendimento científico. Francis Collins publicou "A linguagem de Deus", em que argumenta que a maravilha e a ordem da natureza aponta para um Deus criador, em absoluta conformidade com a concepção cristã tradicional. Collins era um ateu que se converteu a fé cristã. Paul Davies publicou "Enigma Goldilocks", que argumentar em favor da existência de uma "sintoni-fina" do universo e a biossocialidade do universo aponta para um princípio abrangente, que impulsiona o desenvolvimento da vida e da mente. O físico Freeman Dyson ao mesmo tempo que critica a religião, critica também o ateísmo que em pouco tempo provocou o mal na humanidade. Na verdade, Dawkins faz um desserviço a ciência, quando a coloca no seu fundamentalismo ateu. Colocar Deus como consolação, alienação e projeção dos desejos humanos não vai resolver os problemas do mundo. Segundo Daniel Dennett, acreditar em Deus é algum subproduto do mecanismo evolutivo. É sabido que a religião é objeto de estudo em várias universidades para verificar fenômenos antropológicos, sociológicos e psicológicos. Antes de criticar os dogmas, precisa-se compreender que os dogmas são proposições que aparecem num contexto social, que cumprem a função social das comunidades religiosas em chegarem a um consenso em sistematizar experiências religiosas e crenças individuais. Os dogmas são decorrentes do conservadorismo das religiões, que expressam declarações de fé, na tentativa de descrever tais proposições. Em outras palavras, Dawkins não tem qualificação suficiente psicológica, sociológica e antropológica para abordar tais questões. Dawkins aponta a fé como vírus da mente, mas não se atenta em dizer quem é autoridade para dizer o que é racional e o que não é. Generalizar a religião como má e induz a violência, é preconceito e desvio do seu real sentido. Exemplo ao contrário de tal generalização é verificar que o ateísmo soviético provocou medidas violentas de erradicar a religião, o que contradiz Dawkinks nas suas afirmações que o ateísmo não gera o mal. Toda visão religiosa e de mundo tem seus pontos vulneráveis. O ateísmo não pode ser uma aversão à religião para não se tornar uma visão deficiente de mundo, que pode gerar fundamentalismo e fanatismo. Talvez o livro de Dawkins seja para renovar a confiança dos ateus no ateísmo, uma vez que estavam enfraquecidos diante de mundo que precisa de um sentido de vida e as pessoas vêem isso mais na religão do que a não-religião. Fazer do ateísmo intolerante, doutrinário, agressivo e desagradável é bem pior do que uma religião com tais características, uma vez que só podem recorrer em confiar cegamente na ciência, que pode estar equivocada, principalmente na questão da origem das coisas e de tudo. Dawkins confia mais na retórica do que na evidência, no seu livro e tem um delírio a respeito sobre Deus. Ciência e religião podem conviver um com o outro, sem precisar de haver um conflito.