Barreira

Barreira Amilcar Bettega




Resenhas - Barreira


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Franco 09/05/2020

Voltas e voltas: mas chega aonde?
Bem, não curti.

O autor investe bastante em estilos narrativos diferentes, o que em alguns momentos se torna bastante cansativo (principalmente o começo). E nem sempre o uso desses estilos parece justificável, o que pode dar a impressão de que o autor quis mais mostrar um certo virtuosismo do que propriamente contar uma história (mas confesso que essa análise pode ter sido falha de minha leitura, claro).

E é com esses estilos cambiantes que a história vai de desenrolando numa sucessão de confusões, desencontros, lacunas que estão sempre lá e em todos os personagens. E isso é até bacana e nos dá a sensação de que estamos prestes a chegar a algum lugar, sensação de que o livro está nos falando algo importante - mas aí, novamente, o estilo narrativo parece causar alguns 'trancos' que acabam dificultando aquele 'chegar a algum lugar'.

Ao final, até há um enlace entre algumas pontas soltas, contudo, fica-se ainda com a sensação de que o sentido daquilo tudo se perdeu em algum lugar durante as idas e vindas da narrativa empregada para contar a história.

Enfim, como dito no início, o livro não agradou. Me pareceu dar muitas voltas e custar a chegar (e não sei se entendi bem onde chegou). O que fica de certo sobre esse livro é que deve ser lido com calma, paciência e dedicação, já que (insisto) seu estilo narrativo é um tanto cansativo.
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MR.Santi 19/01/2015

Labirintos internos
Imagine-se dentro de um carro que passa rapidamente por uma bela estrada. Sua visão percebe as coisas na mesma velocidade do automóvel. Certamente não conseguirá captar tudo na primeira vez. Imagine que esse carro para em frente a uma porta. Você desce, se aproxima da porta e entra onde quer que ela dê. Um labirinto se abre à sua frente. Você começa a se aventurar por ele. As muitas esquinas e curvas lhe levam a lugares que lhe dão a sensação de já percorridos. Você se sente andando em círculos, se sente perdido. Mas continua a caminhada e a procura pelo centro, até que o encontra. Sobe até um segundo nível que permite a visão de todo o labirinto e percebe que todas as voltas e esquinas foram necessárias para que você chegasse ao centro. Nenhuma em excesso. Nenhuma em falta.
O romance Barreira, de Amilcar Bettega, foi lançado em 2013. O gaúcho de São Gabriel, nascido em 1964, é autor de três livros de contos (O voo da trapezista, 1994; Deixe o quarto como está, 2002; Os lados do círculo, 2004). Já publicou seus contos em diversos outros países e ganhou duas vezes o Prêmio Açoriano de Literatura e uma vez o Prêmio Portugal Telecom.
Assim se estrutura seu primeiro romance: num labirinto de 253 páginas que nos leva de Porto Alegre à Istambul à Paris e de volta à Istambul. Uma estória em que não há um personagem principal, mas uma busca principal que une vários personagens. A história de um pai que, em busca da filha, retorna às raízes já esquecidas. A história de um pai (outro pai) que se encontra com a perda de um filho. A história de um artista recluso cuja maior obra talvez seja sua própria existência. A história das coincidências, do inexplicável e do indizível que formam e contornam a vida humana.
Bettega utiliza diferentes estilos de escrita. Vai da narração frenética, separada somente por vírgulas, sem parágrafos ou pontos, até a narração a que já estamos habituados, com parágrafos, pontos e falas indicadas por aspas, passando por mudanças bruscas de voz e discursos indiretos que, somados aos vários loops da narração formam a estória numa obra única. As descrições e utilização dos nomes turcos em abundância colocam o leitor dentro da cena, fazendo-o participar da estória. As descrições introspectivas, dúvidas, dilemas, verdadeiras guerras interiores dos diversos personagens, realizadas com maestria pelo autor formam o principal da obra. Os conflitos internos e externos, conforme as histórias chegam a seu ponto de encontro, vão moldando a noção de “vida real”; a noção de que, como no mundo concreto em que vivemos, naquela estória não existem heróis ou vilões, mas somente pessoas.
Sim, as histórias se encontram. Barreira é, sobretudo, uma estória fechada, com um início, um meio e um fim (apesar de incertos). Entretanto, ser uma narração em sua completude não a impede de abrir novas possibilidades a cada momento, de trazer novas ideias e novas visões a cada leitura. Barreira é um estória fechada (começa em um ponto e termina em um ponto), mas que se permite ser aberta (se permite ir muito além dos pontos de início e fim).
Como a visão inicial do carro, Barreira é uma estória que permite novidades a cada leitura. Certos pontos que passaram despercebidos ou borrados e confusos na primeira ida, podem tornar-se vistos ou nítidos na segunda, terceira, quarta... Como na imagem do labirinto, a estória permite perder-se, reencontrar-se, tentar novos caminhos. A história permite que acompanhemos os personagens, convivamos com eles. Nos permite segui-los em sua busca e aprender com eles que as buscas externas são muito mais internas do que imaginamos.

site: https://prosaicu.wordpress.com/
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Beto 02/06/2014

Barreira
Barreira
Autor : Amilcar Bettega

No começo uma leitura difícil, mas com o decorrer da leitura, o jeito de escrever, do autor, e de interpretar, do leitor, vai melhorando.

“E foi só assim, sendo observado (ou com a sensação de ser observado) à janela de seu quarto de hotel, que ele pôde enfim recuperar aqueles instantes apagados e dessa forma, como se esse olhar exterior iluminasse não só sua memória recente mas seu próprio olhar, ele também pôde ver que de repente a noite começou a cair, que as pessoas na rua apressaram ainda mais o passo, que de um instante para outro começaram a surgir guarda-chuvas e gabardines até então improváveis para um dia de sol e calor, que um vento quente bafejou sobre as calçadas ressequidas, que uns pingos começaram a cair.”
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