Contos eróticos de Paris

Contos eróticos de Paris Anne-Marie Villefranche




Resenhas - Contos eróticos de Paris


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@fabio_entre.livros 04/08/2018

Sexo e observação social
Anne-Marie Villefranche foi uma dama da alta sociedade francesa, integrante de famílias abastadas – tanto por nascimento quanto por casamento. Assim sendo, ela tinha livre acesso a todos os locais e eventos frequentados pela nata da elite de seu tempo. Apesar de não ter exercido a profissão de escritora, um de seus passatempos prediletos era escrever; porém, não simples e vagamente escrever, de forma abstrata: ela gostava de registrar em diários (evidentemente particulares) os relatos de escândalos sexuais e affaires envolvendo seus parentes e amigos dos quais tomava conhecimento. A autora também não se limitou a apenas transcrever esses relatos; com grande habilidade imaginativa ela deu-lhes forma literária, convertendo-os estruturalmente nos contos deste livro, selecionados e publicados por sua neta, a quem os textos foram deixados como herança.
Composto por quinze contos escritos originalmente na década de 1920, o livro começa com um prefácio de Jane Purcell (a neta de Anne-Marie) à edição inglesa, datada de 1982. Logo em seguida vêm os contos, que, como o título do livro deixa claro, retratam com franqueza e em detalhes explícitos diversas aventuras sexuais, a maioria delas “protagonizada” pela família Brissard (que é a própria família Villefranche sob pseudônimo).
Embora todos os textos girem em torno de situações eróticas, eles não se restringem a descrever atividades sexuais; na verdade, eles apresentam perspectivas muito distintas, que se ajustam ao senso de humor, à perspicácia e à observação crítica da autora sobre os costumes sociais vigentes na Paris do início do século XX. Nesse sentido, os contos apresentam uma vasta gama de abordagens sobre a conduta sexual burguesa naquele período. Em alguns contos a autora explora o ridículo de certos comportamentos fetichistas, como em “Christophe à beira-mar”; nesse mesmo texto o protagonista, descendente de uma família falida, planeja obter ascensão social à custa de sua aparência e, obviamente, de suas habilidades sexuais (algo similar à postura do personagem Georges Duroy, de Maupassant). Outros contos apresentam enredos cujo desfecho cômico remete à estrutura de anedotas picantes, como “A prima italiana” e “Uma lição para Bernard”. Outros contos ainda enveredam por uma perspectiva filosófica sobre o sexo conforme o gênero, como em “Armand e suas visitas” e “Nicole liberada” (este último de forma humorada, com uma mudança de ângulo sobre a liberdade sexual).
Algo que considerei interessantíssimo neste livro é a igualdade com que a autora representa as fantasias sexuais retratadas. Há aqui tanto contos sobre fantasias masculinas (como “Gerard experimenta a poesia” e “A emancipada Madame Delaroque”) quanto histórias sobre alguns fetiches femininos (como em “Jeanne arranja um amante” e o já citado “Nicole liberada”). Apesar de ser um livro pouco conhecido – e ainda menos divulgado –, “Contos eróticos de Paris” é uma leitura deliciosa: um compêndio de erotismo que, de quebra, ainda é um maravilhoso retrato de época.
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