Jeff.Rodrigues 05/11/2018Resenha publicada no Leitor CompulsivoPraticamente desconhecido no Brasil, com sua obra sendo publicada por uma agência de tradutores e disponível apenas em e-book, Scott Nicholson se enquadraria bem naquela geração de autores de terror anos 1970 e 1980 cujas histórias tinham o sobrenatural-demoníaco influenciando e espalhando o caos na vida de pequenas cidades. Seu primeiro e mais cultuado livro, A Igreja Vermelha, foi publicado em 2002 e é uma boa mostra do talento gore do autor.
Apresentada sob o ponto de vista de diferentes personagens, A Igreja Vermelha traz a interessante premissa de um Segundo Messias enviado por Deus ao mundo para corrigir os erros de Jesus. Como não poderia deixar de ser, o palco dos eventos sangrentos é uma pequena cidade com famílias tradicionais e segredos muito bem guardados, mas não tão bem enterrados. Existe um passado de sangue que insiste em não ser esquecido. E quando um novo pastor assume a congregação da igreja vermelha, um rastro de sangue, mortes violentas, rituais macabros e manifestações demoníacas sacode a vida dos moradores.
Com uma ótima ambientação e descrições precisas do clima de cidadezinha de interior, Scott Nicholson entrega uma boa história de terror, com altos e baixos bem claros. Talvez por uma tradução não tão cuidadosa, alguns pontos do livro acabam ficando meio sem sentido, o que certamente vai desagradar muitos leitores. Por outro lado, a abordagem religiosa com a construção de uma fé cega, baseada na visão de um deus que exige sacrifícios, é o ponto alto da trama, que compensa quaisquer descuidos de linguagem. As sequencias finais mais tensas trazem cenas para embrulhar o estômago e mexer com os nervos dos leitores.
Aproveitando-se da facilidade com que ensinamentos religiosos podem ser adaptados para visões pessoais, e também da facilidade com que as pessoas abraçam causas sem muitos questionamentos, ainda mais quando se encontram em situações de vulnerabilidade, A Igreja Vermelha mostra que a fé pode ser maquiada como algo bom quando na verdade suas verdadeiras intenções são o mal. Nem sempre falar em nome de Deus significa buscar o bem.
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