Murphy

Murphy Samuel Beckett




Resenhas - Murphy


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Biblioteca Álvaro Guerra 03/08/2023

Arquétipo do solipsismo dos heróis beckettianos, "nascido aposentado", o protagonista sonha com um mergulho em seus abismos interiores, entregue a uma vida mental e livre de compromissos mundanos: mulheres (a noiva deixada para trás ao trocar Dublin por Londres; a namorada que insiste para que arrume um emprego), amigos (o poeta Ticklepenny; o filósofo de quem se fez discípulo; um pitagórico) e figuras inconvenientes ocasionais (o detetive contratado para localizá-lo, por exemplo). Numa narrativa em que o primor estilístico não é o menor dos prazeres – "no princípio era o trocadilho", proclama, joyceano, o romance –, Beckett corta as amarras com a convenção realista e se impõe, inventor de linguagem, desde o início.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9786559212293
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Marcus 02/07/2016

Murphy é desconcertante
Sem roupa, amarrado a uma cadeira de balanço, em busca da privação de sensações no interior de um pombal condenado. É assim que o leitor é recebido por Murphy, personagem-título do romance de Samuel Beckett. Desconcertante desde as primeiras linhas, o livro lançado em 1938 é uma boa porta de entrada para o fascinante universo literário do autor irlandês que se tornou mais conhecido pela peça Esperando Godot.
Sua obra, porém, vai muito além da dramaturgia, e Murphy é uma ótima mostra disso. A narrativa breve - o livro tem apenas 256 páginas na edição da Cosac Naify -, mas densa, retrata a vida do personagem-título, sua amante Celia e de um grupo de amigos em suas andanças e diálogos por Londres.
O texto nada convencional mescla erudição, jogos de palavras e muitas referências a filósofos, escritores e mesmo passagens da Bíblia. Beckett brinca com a atenção do leitor, com nomes de personagens clássicos - Romieta e Julieu - e com o som de palavras, como ex-mordomo, que soa algo como cerveja extra forte. Associação nada sutil com a Irlanda, terra de marcas como a Guinness.
Celia, uma prostituta, insiste para que Murphy consiga um trabalho. Ele acaba se empregando como auxiliar de enfermagem em um manicômio, onde rapidamente cria forte empatia com os internos. A crítica ao tratamento dispensado aos doentes é pouco velada, mas mesmo em meio a um ambiente de alienação mental, Beckett encontra espaço para toques de humor negro, como o homem que planeja o suicídio prendendo a respiração.
Murphy tem tradução e notas de Fábio de Souza Andrade. Essas notas ajudam - e muito - na compreensão do texto, que, pouco convencional, é um desafio e um estímulo à atenção do leitor. Só é preciso atentar para o fato de que elas estão reunidas no fim do livro, sem que as palavras, nomes e trechos a que fazem referência tenham qualquer destaque no texto.
Gravei uma conversa de 20 minutos sobre Beckett e Murphy com Bruno Andrade, estudante de Artes e fã do autor: https://soundcloud.com/marcus-v-gasques/beckett

site: blogbeatnik.blogspot.com
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Diego Avlis 01/07/2015

Viva o Nada
Para Murphy a vida é um fardo pesado cujo peso ele não pode suportar mais. Aflito e não compreendido no vazio e nos desatinos do mundo, ele só encontra paz dentro de si mesmo, onde com a existência fragmentada, nada existe, nem ele mesmo. Para Murphy a vida é um erro e a inexistência a plena panacéia, porque é somente nela que não se percebe o absurdo do mundo, nem o crime atroz, nem a dor. O personagem ao descobrir que dentro de si a inexistência era incompleta e efêmera, decide ir mais além, decide seguir por um caminho sem volta para ser eternamente livre.
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Pedro Daldegan 21/02/2015

"Tente algum dia, gentil folheador."
Murphy foi uma leitura difícil. Por um lado, gostei muito do escritor conseguir despir os personagens, em frases curtas e inesperadas, de forma que eu rapidamente pescava quem eles eram e o que esperar deles. Por outro lado, me senti entediado em meio às várias referências, e ao despropósito com que alguns personagens se lançaram à procura de Murphy. Acredito que parte do meu desgosto provém da minha ignorância, e que a leitura seria muito mais prazerosa se eu compreendesse melhor algumas passagens e referências. Mas isto não quer dizer que não aprecio a obra. Em especial, o personagem principal é muito interessante. Avesso às imposições sociais, Murphy prefere ficar isolado, e busca não paz espiritual, mas algo como 'fechar os olhos e não sentir nada, somente ele e o vazio'. Para ele, realidade é aquilo que se vivencia dentro de si mesmo. Porém, é precisamente a interferência das pessoas à sua volta que o fazem sentir-se vivo, presente. Enfim, mais um livro para eu reler no futuro.
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