Fábio Valeta 11/03/2019
Na segunda metade do século XIX, começou a surgir na Europa formas de se justificar o racismo de um ponto de vista supostamente científico. A Eugenia e outras ciências raciais ganharam força e se alastraram pelo continente, passando depois para os Estados Unidos e boa parte do mundo.
De forma (bastante) simplificada, a Eugenia afirmava que a humanidade estava dividida em diferentes raças, sendo algumas mais evoluídas enquanto outras eram “degeneradas” e sua perpetuação ou mesmo miscigenação com os evoluídos era uma garantia ao fracasso evolutivo de uma nação. Assim, a noção de que os Brancos são superiores e os negros e mestiços inferiores ganhou um ar de ciência, e para muitos, o que já era considerado uma verdade incontestável agora podia ser explicado cientificamente.
No Brasil, tais teorias também tiveram bastante influência, embora com algumas alterações para atender os anseios da elite local. Enquanto o pensamento Europeu e Norte-Americano tratava a miscigenação como uma fatalidade, onde apenas as piores características de ambas as raças passariam para os filhos, no Brasil, um país de mestiços, ela foi vista por vários pensadores como a única forma de salvar o país. Uma vez que, de acordo com o pensamento nacional da época, a miscigenação causaria o “embranquecimento da população” e assim sua evolução para atingir os patamares europeus.
É esse cenário de pensamento psedo-científico que é o foco do trabalho de Lilian Moritz Schwarcz, que, usando como ponto focal a questão racial, faz uma análise do pensamento científico brasileiro e da criação das primeiras instituições de pesquisa nacional, passando por Museus, Institutos Históricos e Faculdades de Direito e Medicina. Todos esses centros de pensamento que tentavam, de uma forma ou de outra, explicar, justificar e criar soluções para o “melhoramento da raça brasileira”.
O livro tem como recorte o período de 1870, uma década antes da Eugenia se alastrar pela Europa (o termo foi criado em 1883 por Francis Galton), até 1930, quando o racismo cientifico começaria a ser levado até as últimas consequências pelo nazismo. A partir dessa obra, é possível entender um pouco mais sobre a mentalidade brasileira do período, quando depois de séculos de dependência, finalmente começava a criar instituições de ensino e tentava criar sua própria história. História essa que, ao mesmo tempo que tentava se afastar de Portugal, se agarrava com unhas e dentes na ascendência europeia de parte da população Brasileira.
Para quem se interessa pela História da Ciência, é um livro altamente recomendável.