Renata 24/04/2014Esta resenha foi publicada originalmente no blog Entrando Numa Fria!
No ano de 1948 uma pequena aldeia das proximidades de Jerusalém, Deir Yassin, foi invadida e massacrada por gangues israelenses que demoliram casas, mataram moradores entre eles crianças e idosos. Algumas pessoas conseguiram sobreviver ao massacre, entre eles 55 crianças que perderam suas famílias e foram expulsos e abandonadas perto do Portão de Damasco, na cidade Velha de Jerusalém, entregues à própria sorte, com fome, frio e sujeitas a toda a sorte de pessoas maldosas. Isso foi no começo da guerra árabe-israelense. Comovida com a situação daquelas crianças a jovem Hind Husseini, decidiu ajudá-las da forma que podia e chegou ao ponto de vender todos os sues patrimônios para fundar Dar El-Tifel.
Tudo até então aconteceu de verdade, o plano de fundo usado por Rula Jebreal realmente aconteceu, ela inclusive viveu na instituição desde os 5 anos e de lá só saiu para a Universidade de Bolonha, quando foi contemplada com uma bolsa de estudos. Rula usa parte do que foi a sua infância para nos contar com muita propriedade a história de Miral, e para isso ela tece anteriormente uma rede de histórias que misturam ficção com fatos verídicos, até chegar na família da nossa jovem protagonista, de como ela foi para na instituição e como começou a se interessar pela Primeira Intifada.
“Fátima lia muito, como sempre fizera, percebendo que, ainda que um livro não pudesse mudar o mundo, tinha, ao menos, o poder de fazer os muros da prisão desaparecerem.”(p74)
A Estrada das Flores de Miral, assim como o título nos sugere, nos conta não uma, mas várias histórias que em um determinado momento se cruzam e que seguem caminhos completamente diferentes, alguns mais felizes, outros mais trágicos, alguns previsíveis e outros surpreendentes! A narrativa da autora é muito simples, em cada capítulo ela nos conta a história de uma personagem e vai tecendo a trama da história de Miral de uma forma belíssima e muito tocante. Algumas passagens são bem fortes e quando a gente pensa que aquele pode ser o relato ocular do que aconteceu, tudo fica muito mais chocante.
Antes de começar a fazer esta resenha fui pesquisar um pouco sobre Dar El-Tifel e a instituição ainda existe, foi um impacto pra mim e um arrependimento também só ter procurado pelas informações depois de ter lido o livro. O site conta com várias imagens, como estas que estão aqui embaixo e mostram exatamente o que a Rula nos relatou em sua história! Gostaria muito de ter conhecido o site durante a leitura, certamente eu sofreria mais, os rostos e as histórias seriam mais reais, mas conhecendo agora, a emoção me dominou da mesma forma!
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(Fonte)
“Por que eu deveria aprender inglês ou ir estudar em damasco? Não preciso disso. Adoro escrever histórias, mas preciso mesmo é de um rifle, para poder lutar e ajudar a reconquistar a terra que os meus ancestrais cultivaram com oliveiras durante séculos.” (p.152)
A capa do livro tem tudo a ver com a história, o trabalho foi muito bem feito, a diagramação está muito boa, favorece bastante a leitura. Em suma, A estrada das Flores de Miral está super recomendado, é um livro, sensível que mostra como os caminhos podem ser diferentes de acordo com as orientações que temos. Penso que todo mundo deveria ler, um livro que humaniza a gente, e muito!
site:
http://epigrafe.org/?p=2505