spoiler visualizarValdeci 14/10/2011
Filha do Amanhecer, de Pauline Gedge é um romance baseado na história da primeira mulher faraó do Egito, Hatshepsut. Devo dizer que sou apaixonado pela história deste povo e sua mitologia e esperava encontrar nas suas 457 páginas muito mais do que realmente encontrei. De qualquer forma é um livro interessante que retrata a XVIII dinastia do Império Novo no começo do século XV a.C. Seu reinado é conhecido por um período de paz e prosperidade para o Egito Antigo. Era uma mulher determinada, guerreira e, apesar de todas as previsões contrárias sobre seus poderes e direitos sobre o título de Faraó, governou com mão de ferro e coragem. Com certeza não foram anos fáceis e as intrigas palacianas e nos templos devem ter sido uma verdadeira queda de braço. Infelizmente o relato passa muito rapidamente sobre tais percalços e as manobras políticas e religiosas que Hatshepsut teve que arquitetar para manter-se no poder. Preconceitos dos poderosos dos templos, das famílias ricas do país e do povo que acreditava que uma mulher não teria pulso firme para administrar um país que era considerado um verdadeiro império da época. Além é claro da tradição milenar de somente homens ter o direito de colocarem sobre a cabeça a dupla coroa.
Hatshepsut nasceu em Tebas e era filha do faraó Tutmés I e da rainha Ahmose. Como o título de Faraó era dado somente aos homens ela teve que se casar com seu meio-irmão Tutmés II para que este pudesse ter o direito divino de ter sobre a cabeça a dupla coroa do Alto e Baixo Egito. Quando seu pai morreu, ela teria cerca de quinze anos. Tutmés II não teve filho homem com Hatshepsut, mas teve um filho varão que recebeu o nome de Tutmés III com sua concubina chamada Isis (ou Iset). Assim, cabia a Tutmés III o direito a sucessão ao trono após a morte de seu pai o que não foi possível visto que ele era ainda uma criança quando o Faraó veio a falecer. Por esta razão Hatshepsut, na qualidade de grande esposa real do Faraó Tutmés II, assumiu o poder como regente na menoridade de Tutmés III. Tempos depois ela decide assumir a dignidade de Faraó colocando sobre a própria cabeça a dupla coroa.
Pauline Gedge faz um breve relato da infância de Hatshepsut como uma menina voluntariosa, esperta e que tinha a ambição de se tornar uma mulher poderosa. Hábil na caça, na luta e um espírito um tanto quanto masculinizado para a época era tida como a preferida por seu pai para sucedê-lo. Nas páginas seguintes a escritora Pauline descreve a luta de Hatshepsut para conquistar a coroa e o direito ao título de ser a primeira mulher Faraó do Egito e suas realizações no trono por mais de vinte anos. Alguns fatos históricos são relatados no livro como a campanha militar que, segundo alguns estudiosos, a própria Hatshepsut liderou na Núbia e a expedição à região do Punt (costa da Somália) que era conhecida por suas riquezas, como a mirra, incenso, ébano, marfim e animais exóticos. Também é relatada no livro a construção de seu templo de Milhões de Anos considerado uma verdadeira obra-prima da arquitetura e engenharia.
Claro que não poderiam faltar nas páginas deste romance os relacionamentos amorosos da rainha bem como as intrigas e os conchavos palacianos. O romance de Hatshepsut com Senemut de origem humilde, mas que desempenhou inúmeras funções a serviço da rainha. Senemut foi chefe do conselho e preceptor da filha de Hatchepsut, a princesa Neferuré entre outros títulos. A amizade com Hapuseneb, sacerdote de Amon que dirigiu vários trabalhos de construção em Tebas também é citado. Para os amantes da cultura egípcia talvez o livro decepcione um pouco uma vez que tais fatos históricos são relatados muito rapidamente e com poucos detalhes. Todavia é interessante que a história desta mulher fantástica venha a publico e tenha um livro dedicado ao seu reinado.
Por muitos séculos o período de Hatshepsut como Faraó do Egito foi ignorado, inclusive por seu povo, já que ao morrer muitas das suas obras foram danificadas e os registros suprimidos das principais listas de reis do Antigo Egito. Só em meados do século XIX iniciou-se a redescoberta da rainha-faraó. Entre 1922 e 1923 o egiptólogo Herbert Winlock encontrou uma série de estátuas de Hatshepsut nas escavações em Deir el-Bahari na área pertencente ao rei Mentuhotep II. Em uma caixa mortuária de madeira com o nome da rainha-faraó entalhado foram encontrados um dente molar e seu fígado mumificado. Através de testes de DNA e tomografia computadorizada foi possível afirmar que a múmia encontrada era de Hatshepsut.