Filosofia da Educação

Filosofia da Educação Maria Lúcia de Arruda Aranha
Maria Lúcia de Arruda Aranha
Maria Lúcia de Arruda Aranha




Resenhas - Filosofia da Educação


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jmrainho 21/11/2012


Filosofia da Educação. Maria Lúcia De Arruda Aranha. Moderna, 3ª. Ed. 2006
Empréstimo biblioteca

Maria Lucia é licenciada em Filosofia pela PUC e trabalhou no magistério durante 25 anos até a Filosofia ser retirada da grade curricular na ditadura. Continuou na rede privada. O livro trata de fundamentos da educação, conceitos e teorias pedagógicas.

Embora rigoroso e eficaz, o conhecimento científico é apenas uma das maneiras de compreensão da realidade. Além disso, a ciência reduz nossa experiência do mundo, que se constitui também de intuições, imaginação, crenças, emoções e afetividade. Basta lembrar que a religião e a arte são também maneiras válidas e fortes de compreensão de si e do mundo.

O filosofo desestabiliza certezas e questiona o que é convencional. Não por acaso, para Platão, a primeira virtude do filósofo é admirar-se. Essa é a condição para problematizar, o que marca a filosofia não como posse da verdade, mas como sua busca. Sob esse aspecto, se o filósofo é capaz de se Surpreender com o óbvio e questionar verdades dadas, aceita a dúvida como desencadeadora desse processo crítico.

A filosofia não que explicar a realidade – função que compete à ciência – mas compreende-la. E a compreensão supõe a busca do sentido das coisas da vida. “O tempo é o sentido da vida” (Paul Claudel (1868-1955, diplomata, escritor e poeta católico francês. Da Academia Francesa de Letras).

Filosofia. Pitágoras, que era matemático, um dos primeiros pensadores, chamou de filosofia o pensamento mítico, representado pelas epopéias de Homero (Ilíada e Odisséia). Não se intitulava sábio (sophos), mas “amigo da sabedoria” (philo + sophos).
Ao manter sempre presente o questionamento sobre o que é a educação, a filosofia busca evigtar que ela se torne dogmática ou se transforme em adestramento.

“Até os melhores filósofos disseram absurdos notórios e cometeram erros graves. Quem mais se arrisca a pensar fora dos caminhos intelectualmente trilhados corre mais riscos de se equivocar. Quanto ao mais, quem não for capaz de viver na incerteza fará bem em nunca se por a pensar.” Fernando Savater, As perguntas da vida, SP, Martins Fontes, 2001, p. 209-210.

A palavra PEDAGOGO designava, na Grécia antiga, o escravo que conduzia a criança à escola.
“O poder que dá o saber, destrói o saber; muda a verdade em dogma, e pensador em sensor”. Oliver Reboul (filósofo francês, 1925-1992) , que distinguia educação e doutrinação.
A primeira escola normal no Brasil foi fundada em Niterói (1835). Pressuposto de que não havia necessidade de nenhum método pedagógico específico.

Henry Giroux (critico cultural EUA – 1943 - ...) : “As atuais estruturas da maior parte das escolas isolam os professores e eliminam as possibilidades de uma tomada de decisões democráticas e de relações sociais positivas”. Divisão entre concepção e execução. (igual nas empresas que se separam planejamento e execução) Professores como intelectuais, Porto Alegre, Artmed, 1997.

Os filósofos frankfurtianos são críticos severos da cultura de massa, porque os meios de comunicação de massa são o oposto da obra de pensamento, que é a obra cultura – ela leva a pensar, a ver, a refletir. Cultura é pensamento e reflexão.

Luís Milanesi (bibliotecário, escritor e professor, SP, diretor da ECA, autor do O Que é Biblioteca da Primeiros passos), caracteriza um verdadeiro centro cultural como o resultado da conjugação de três verbos: informar, discutir e criar. (A Casa da Invenção)
Empenho. Para contornar a dificuldade, o taylorismo substituiu a coação visível, típica da violência direta de um feitor de escravos ou de u contramestre de fábrica, por exemplo, por técnicas mais sutis de dominação, que tornam o operário dócil e submisso: ordens de serviço vindas do setor de planejamento, impessoalizadas, burocratizadas. A eficiência torna-se um dos principais critérios dos negócios, estimulando-se a competição . Isso gera a caça aos postos mais elevados, o que, por um lado, dificulta a solidariedade entre os empregados, e por outro, os identifica com os interesses da empresa. A nova organização levam à atomização e a dispersão das pessoas, envolvendo uma cultura hedonista (busca do prazer imediato) e narcisista (egocêntrica, com perda do sentido coletivo da ação humana).

Se a sociedade democrática busca o consenso, nem por isso desqualifica o dissenso, ou seja, o direito de discordar. A essência da democracia é a tolerância, na coexistência de ideologias diferentes.

O valor produzido pela força de trabalho é maior do que o recebido e que a diferença é apropriada pelo capitalista (é o que Marx denominava mais-valia).

A inversão. Ao explicar a realidade, o que é apresentado como causa é na verdade consequência. Por exemplo, se o filho de um operário não consegue melhorar seu padrão de vida, o insucesso é atribuído à sua incompetência, quando na verdade esta é efeito de outras cauãs, tais como as condições precária (saúde, educação, oportunidades, etc) a que se acha submetido; ele participa de um jogo de cartas marcadas, e as chances de melhora não dependem dele.

A racionalidade tecnocrática – típica do taylorismo – minimiza a autonomia do professor. O planejamento dos cursos oferecidos como pacotes de materiais curriculares que transformam o professor em simples executor de um projeto.

“A vida social é feita de conflitos quanto de cooperação, e unicamente as sociedades mortas ou as sociedades que camuflam as divergências por trás de uma harmonia e uma unidade abstratas entre pessoas abandonam o conflituoso. Pedagogicamente, isso significa que a educação deve ser preparação , ao mesmo tempo, para a cooperação e para a luta, e que é preciso devolver seus direitos à agressividade. Evidentemente, o conflito deve ser social e pedagogicamente codificado e não desembocar na violência e na lei da selva”. Bernard Charlot (professor francês, e de pós graduação na Universidade de Sergipe.)

Em fins da década de 1950, começaram a aparecer estudos que desfaziam o mito do poder de manipulação e da onipotência da mídia. Para alguns autores, os efeitos massificantes só teriam chance de ocorrer com maior impacto em sociedades altamente repressivas, como os estados totalitários, em que a mídia é submetida a severo controle e direcionamento. Em um sistema de livre discussão, pluralista, essas chances seriam mais remotas. Com a tecnologia, a multiplicação de fontes de difusão e concorrência entre veículos da mídia, a opinião pública não seria propriamente dirigida, e a mídia tenderia a confirmar, consolidar ou ampliar as opiniões já existentes, das quais não seria causa direta. (p. 103) – (falando sobre os efeitos da comunicação de massa).

Na sociedade escravista grega, o chamado ócio significava a disponibilidade de gozar do tempo livre, privilégio daquele que não precisavam cuidar da própria subsistência. Esse tipo de ócio, porém, não se confunde com o fazer nada, mas significa ocupar-se com as funções nobres de pensar, governar, guerrear. Não por acaso a palavra grega para escola (scholé) significa inicialmente o local do ócio.
Segundo João Amós Comênio (1592-1670), autor da Didática Magna, o ponto de partida da aprendizagem deve ser sempre o conhecido.
É politicamente pobre o cidadão que esqueceu sua história, que não compreende o que acontece, nem por que acontece, que só espera a solução da “mão forte” ou do “bom pai”, que não se organiza para reagir, nem se associa para exigir, nem se congrega para influenciar... (Maria Teresa Sirvent) p. 133

“Não basta querer para mudar o mundo. Querer é fundamental mas não é suficiente. É preciso também saber querer, aprender a saber querer, o que implica aprender a saber lutar politicamente com táticas adequadas e coerentes com os nossos sonhos estratégicos”. Paulo Freire.

A professora Amélia Santoro Franco (coordenadora do Mestrado na UniSantos) adverte sobre o risco de transformar a práxis educativa em meras estratégias do “modo correto de fazer as coisas”, indicativas dessa cientificidade moderna que retira da pedagogia o seu caráter essencial de ciência crítico-reflexiva e transforma o professor transformador em um instrutor.

Por isso educação e liberdade são inseparáveis, já que a liberdade não é algo que nos é dado, mas uma conquista humana.
Há quem parta do princípio de que o ser humano não é de fato livre, tanto são os constrangimentos a que se acha submetido desde o nascimento, o que tornaria a liberdade uma ilusão. Para outros, a liberdade de cada um é limitada pela liberdade dos demais.

Aristóteles – a educação moral como formação de hábitos virtuosos. Em moral, a virtude é a força com que o individuo se aplica ao dever e o realiza. É a permanente disposição para querer o bem, o que supõe a coragem de assumir os valores escolhidos e enfrentar os obstáculos que dificultam a ação. Agir virtuoso não é ocasional e fortuito, mas deve se tornar um hábito, fundado no desejo de continuidade e na capacidade de perseverar no bem. A ética não é descoberta, mas construída. No caso de dois indivíduos que agem da mesma maneira, aquele cuja ação resulta do temor à punição ou do desejo de elogio estaria ainda no nível infantil de heteronomia, enquanto o outro, que se guia pelo critério da justiça, já admite um princípio ético superior na escala do aprimoramento moral.

Política Democrática
Quando se fala em POLÍTICA, é comum pessoas imaginarem um espaço externo à sua vida cotidiana e que diz respeito ao Estado e aos políticos profissionais encarregados da administração do estado, do país. Essa imagem da política é típica das sociedades autoritárias, em que os indivíduos são tutelados e impedidos de interferir nos rumos da coletividade. Desse modo apenas alguns estariam investidos de poder (com capacidade de agir, de produzir efeitos) e, por isso, decidem, mandam, restando à maioria apenas a obediência. Ora, o poder não é uma coisa que se tem, mas uma relação ou um conjunto de relações por meio das quais indivíduos ou grupos interferem na atividade de outros indivíduos ou grupo.É uma relação porque ninguém tem poder, mas é dele investido por outro: trata-se de uma ação bilateral. Todos nós, como cidadãos, deveríamos ter o direito e o dever de participar do jogo político, tomando conhecimento dele, sem permanecermos alienados, estando vigilantes contra o abuso do poder e buscando maneiras de interferir nas decisões. Em outras palavras, os cidadãos também têm poder e devem aprender a exerce-lo. Portanto, a verdadeira democracia é de fato uma policracia (do grego polus, muito, numeroso e kratia, governo, mando), porque nela o poder não está centrado em um indivíduo nem em uma classe dirigente, mas distribuído em inúmeros focos de poder. Só assim é possível gerar uma sociedade pluralista, participativa e transparente, aberta às discussões, ao conflito de opiniões, e em que são acatados os pensamentos divergentes. Talvez você acredite que isso possa gerar uma confusão total, em que ninguém se entenderia. Ao contrário, e preciso admitir a ideia de que, se as pessoas forem educadas para a cidadania, há de prevalecer a boa convivência em grupo e o respeito ao interesse público. Nesse caso, o principal instrumento de disputa do cidadão não é a violência, mas as palavras, o discurso fundado na arte da persuasão e que busca o consenso. Não só. As sociedades democráticas devem respeitar o dissenso, que consiste na divergência de opiniões ou de interesses. (pgs. 179, 180)

A cidadania é conquista recente. Os ideais democráticos que para o próprio liberalismo estavam na base de seus valores, nem sempre se expressaram de maneira extensiva, por se restringirem aos indivíduos de posse, com exclusão do restante.
Embora aspirasse à democracia, o liberalismo desde cedo acentuou o seu caráter elitista, porque a igualdade defendida era de natureza abstrata e puramente formal, justificando a desigualdade entre os membros da sociedade pela diferença de talentos.
“Há dois tipos de cidadãos: os ativos e os passives. Governantes preferem os últimos, a democracia necessita dos primeiros.” John Stuart Mil.(filósofo e economista inglês, 1806-1873)

Marx
A critica feita por Max ao idealismo burguês: não são as ideias que movem o mundo, mas são as condições materiais da existência humana que determinam as ideias (formas de pensar, valores).
Para Marx, esses dois níveis de realidade – a produção material e a produção simbólica – são explicados pelos conceitos de infraestrutura e superestrutura. Infraestrutura ou estrutura material da sociedade é a base econômica, isto é, as formas pelas quais são produzidas materialmente os bens necessários à vida. Por exemplo, na antiguidade, a infraestrutura é constituída pela mão de obra escrava e na Idade Média pela servidão. A superestrutura corresponde à estrutura jurídico-política (Estado, direito, etc) e à estrutura ideológica. A superestrutura compreende as instituições criadas para organizar as relações humanas, bem como se revela no modo de conceber o mundo, expresso nas obras da literatura, da filosofia, dos códigos, dos costumes, das concepções políticas, etc. Segundo Marx, a infraestrutura determina a superestrutura.
A exploração é mascarada e os valores da burguesia passam a ser considerados universais.

Por isso seria ilusório pensar que podemos mudar as estruturas sociais por meio da educação.
Politecnia – não é reproduzir na escola a especialização que ocorre no mundo da produção, mas propiciar aos alunos o domínio dos fundamentos das técnicas diversificadas, utilizadas na produção, e não mero adestramento em determinada técnica produtiva.

Neoliberalismo
Os acontecimentos que se sucederam após a derrocada do socialismo real não nos devem enganar, no sentido de que os seus desacertos não avalizam o capitalismo como defensor da democracia e da liberdade. O pensador Norberto Bobbio (Itália 1909- ....) ponderava, bem antes da queda do Muro de Berlim, que, se o socialismo criou o Estado de não liberdade, em contrapartida, o capitalismo permanece como Estado da não-justiça.Em outras palavras, o malogro do socialismo real não garante o sucesso do liberalismo, que continua gerando os excluídos da riqueza.

O modelo atual de prosperidade capitalista recente não pode ser universalizado – consciência formulada com brutal franqueza há mais de meio século por George Kennnan (Eua, 1904-2005, cientista político, pessoa chave da guerra fria: “Nós (Os EUA) temos 50% da riqueza do mundo, mas apenas 6,3% da população. Nessa situação, nossa principal tarefa no futuro (...) é manter essa posição de disparidade. Para faze-lo, temos de esquecer todo sentimentalismo (...) devemos deixar de pensar nos direitos humanos, na elevação dos padrões de vida e da democratização”.

No espírito do Iluminismo, os filósofos franceses Diderot, D Alembert, Voltaire, Rousseau e Helvetius não eram propriamente educadores, mas encaravam o ensino como veículo importante das luzes da razão e no combate às superstições e ao obscurantismo religioso, ainda que alguns mantivessem um viés aristocrático, isto é, acreditavam na capacidade de bem usar a razão como atributo de uma elite intelectual, caso de Voltaire.

Para Rousseau, o indivíduo em estado de natureza é bom e se corrompe na sociedade, que destrói sua liberdade. “O homem nasce livre e por toda parte encontra-se a ferros”.

Para Nietzsche, o erudito é um eunuco do saber. Acusa ainda os filisteus da cultura, aqueles indivíduos de espírito estreito e vulgar que tornam a produção cultural venal, ou seja, que a transformam em mercadoria, objeto de venda, de consumo.
Kant: “Deus exige que pratiquemos a virtude pelo seu valor intrínseco e não porque Ele o ordena”.

Quanto a relação entre professor e aluno, a educação tradicional é magistrocêntrica, isto é, centrada no professor e na transmissão dos conhecimentos.

Na nova escola, o indivíduo contemporâneo devia se preparar para uma sociedade dinâmica, em constante mutação e, para tanto, precisava aprender a aprender, indo além da fixação de conteúdos predeterminados. Daí o interesse por métodos e técnicas, bem como maio ênfase nos processos de conhecimento do que no produto. O professor é apenas um facilitador da aprendizagem. A Escola Nova é típica representante da pedagogia liberal. O ideário da Escola Nova contribuiu para uma maior elitização do ensino no Brasil.

No tecnicismo, a exaltação da razão descuidou-se de aspectos importantes do ser humano, tais como os instintos vitais, os afetos, a imaginação, os sentidos, para só usar as práticas da tecnologia ancoradas no conhecimento científico. Decorre aí o mito do especialista, cuja valorização excessiva deveu-se à fragmentação do saber em diversos campos das ciências particulares. Para o filósofo Habermas, o mundo contemporâneo orienta-se predominantemente pela razão instrumental, que submete a razão comunicativa.
Em outras palavras, ao apresentar uma solução reducionista, o tecnicismo dá uma resposta simplista demais a uma questão muito mais complicada.

Ivan Illich (1926-2002) apresenta uma proposta radical: desescolarizar a sociedade. Para ele não adiantaria reformar os currículos, os métodos, mas em questionar o fato aceito universalmente que a escola é o único e melhor meio de educação. Melhor seria se ela fosse destruída.

Num mundo marcado pelo controle das instituições, a escola escraviza mais que a família, devido à estrutura sistemática e organizada, à hierarquia, aos rituais das provas e ao mito do diploma. Uma sociedade assim estruturada desconsidera o autodidata e encara com desconfiança aquele que quer aprender por si próprio. Ele também achava que o vertiginoso desenvolvimento tecnológico provoca alienação. Desmistifica o ideal do progresso e de consumo insaciável. Para isso é preciso destruir a megamáquiana. As pessoas poderiam, por exemplo, viver sem o automóvel, preferindo a bicicleta. Faz distinção entre as instituições manipulativas e conviviais. As primeiras são as que merecem suas críticas, pois não estão mais a serviço das pessoas, mas contra elas, constituindo-se “falsos serviços públicos” voltados para os interesses econômicos de alguns privilegiados. As segundas seriam interativas, por permitirem o intercâmbio entre as pessoas com a condição de que todas mantenham sua autonomia. Ele chama de convivialidade a criação de redes de comunicação culturais que facilitariam o encontro de pessoas interessadas no mesmo assunto. Essas redes não seriam escolas.
O grande risco do não-diretismo e do ideal de convivialidade está em que os alunos se encontrariam abandonados a formas conservadoras de pensar e viver, impregnados da ideologia da classe dominante. Para evitar isso, apenas um corpo docente crítico e experiente teria condições de provocar um questionamento profundo e radical, muitas vezes doloroso e demorado.

É comum as pessoas desejarem que seus filhos frequentem a escola para que sejam alguém na vida, sobretudo se pertencem às classes menos favorecidas. A ideia da função equalizadora da escola era ingênua, porque, em vez de democratizar, a escola reproduz as diferenças sociais perpetua o status quo e, por isso, é uma instituição altamente discriminadora e repressiva.

“Qualquer pessoa que tenha lido a história da humanidade aprendeu que a desobediência é a virtude original do homem” Oscar Wilde.

Antonio Gramsci (1871-1937), um dos mais importantes teóricos marxistas italianos, foi mantido no cárcere por 11 anos pela ditadura de Mussolini. Uma contribuição original de Gramsci foi o conceito de HEGEMONIA. Etimologicamente, essa palavra significa “dirigir”, “guiar”, “conduzir”. Uma classe é hegemônica não só quando exerce a dominação por meio do poder coercitivo, mas também quando o faz pelo consenso, pela persuasão, por isso os intelectuais são importantes na elaboração de um sistema convincente de ideias, por meio das quais se conquista a adesão até da classe dominante. De fato, a escola burguesa, classista, além de preparar seus intelectuais, infiltra-se nas classes populares, a fim de cooptar os melhores elementos, que, ao serem assimilados, aderem aos valores burgueses. A classe dominada, por sua vez, impedida de organizar sua própria visão de mundo, permanece desestruturada e passiva, incapaz de tornar eficazes as eventuais rebeliões.

Lev Semenovich Vygostsky faleceu na Rússia com tuberculose em 1934 com 37 anos. Seus trabalhos só foram traduzidos nos EUA nos anos 60 e no Brasil na década de 80. Ele buscou uma alternativa para as teorias comportamentais de tendência naturalistas que predominavam no seu tempo. É considerado da corrente construtivista. Ele admite que também o cérebro possui uma plasticidade, uma flexibilidade que permite o uso de novas funções de acordo com a história do indivíduo e da humanidade.Isso porque, no ser humano, o aspecto biológico se encontra enredado o tempo todo no processo sócio-histórico, representado pelas transformações das expressões culturais. Ele utiliza o conceito de mediação, segundo o qual a relação do sujeito com o mundo não é direta, mas mediada pelos sistemas simbólicos. Vygotsky lera Piaget, e esse só descobriu isso 25 anos depois da morte do colega russo.

Pedagogia progressista é uma denominação retirada de um livro de Georges Snyders (1916). As teorias progressistas tem interesse a partir da relação entre educação e transformação social. Descoberto o caráter político da educação, cumpre construir uma pedagogia social e crítica.(VER EDUCOMUNICAÇÃO).
"Dizer a verdade aos alunos não é suficiente para que eles aprendam. Para convencê-los é preciso explicar por que eles se enganam. Deve-se iniciar, assim, pela crítica à sua concepção, para apresentar, depois, a teoria."

"Quanto mais os alunos enfrentam dificuldades - de ordem física e econômica - mais a Escola deve ser um local que lhes traga outras coisas. Essa alegria não pode ser uma alegria que os desvie da luta, mas eles precisam ter o estímulo do prazer. A alegria deve ser prioridade para aqueles que sofrem mais fora da Escola." (entrevista com Georges Snyders http://www.crmariocovas.sp.gov.br/amb_a.php?t=021)

Em última análise, o objetivo da educação é o desenvolvimento do ser humano integral, bem como a sua emancipação, a realidade efetiva é bem outra. A consequência dessa política tem sido a recorrente ruptura entre trabalho intelectual e trabalho manual, entre teoria e prática. A fim de superar essa dicotomia, a educação progressista quer formar o ser humano pelo e para o trabalha, ou seja, recusa tanto a educação humanista tradicional – que busca a aquisição de uma cultura supérflua – quanto a sonegação da cultura erudita aos pobres. Criticam, portanto, de um lado, as escolas que têm marcenaria, hortas, oficinas de arte e de atividades artesanais em geral, voltadas para o desenvolvimento das habilidades manuais, a fim de que o aluno, ocupado com a atividade intelectual, possa diversificar seus talentos, ocupar o tempo de lazer e descansar do esforço mental. Nesse caso, o trabalho manual consiste em uma atividade paralela, acessória, e diríamos, até com um certo exagero, de “distração”. De outro lado, estão as escolas profissionalizantes, destinadas a preparar mão de obra qualificada e que reduzem a atividade de trabalho à aquisição de técnicas. A proposta de integração do trabalho à escola não aparece de modo hegemônico na tendência progressista. O objetivo não é primordialmente a preparação de mão de obra qualificada, mas a compreensão, pelo aluno, do processo do fazer utilizado nas técnicas atuais. Esse é um dos objetivos da POLITECNIA.

Pedagogia histórico-crítica. Paulo Freire. O saber objetivo transformado em saber escolar não interessa por si mesmo, mas sim como meio para o crescimento dos alunos, a fim de que “não apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultado, mas aprendam o processo de sua produção bem como as tendências de sua transformação” (Dermeval Saviani – PUC 1943)

Para os construtivistas, o conhecimento não é inato nem só transmitido; não está só no sujeito nem é dado apenas pelo objeto, mas se forma e se transforma pela interação entre ambos. Outros teóricos construtivistas: César Coll Salvador (Univ. Barcelona) e

Philippe Perrenoud (1954, sociólogo e antropólogo, univ. Genebra) – teóricos que influenciaram a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais no Brasil – e Josep Maria Puig. Entre os brasileiros, Yves de La Taille (USP), Lino de Macedo (psicologia, USP) e muitos outros. As ideias de Perrenoud tiveram ampla divulgação no Brasil. Apesar disso, alguns críticos veem na adaptação das suas ideias nos Parâmetros como uma aproximação da noção de competência aos princípios de mercado, estabelecidos pelo neoliberalismo.

A partir de 1990 os educadores passaram a discutir o construtivismo pós-piagetinao e, posteriormente, o pós-construtivismo. Pós-modernos: François Lyotard (filósofo Frances, 1924-1998), Jurgen Habermas (filósofo alemão, 1929, foi assistente de Adorno) – o projeto iluminista da modernidade apenas está incompleto, podendo ainda realizar as promessas não cumpridas. Na mesma linha, Sérgio Paulo Rouanet (criador da lei Rouanet, prefere usar a expressão neomoderno. Nunca há verdade última que seja absolutamente certa, que possua a objetividade de um fato, porque há apenas, no sentido que Nietzche dá a esta expressão, “perspectivas” sobre o mundo, doravante infinito (Luc Ferry –filósofo Frances, 1951).

Na primeira metade do século XX os filósofos da Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, Benjamin e Marcuse) partem da convicção de que os ideais da razão emancipadora sonhados pelos filósofos iluministas do século XVIII não foram atingidos. Ao contrário, sofrerem desvios perversos na sociedade em que a ciência e a técnica se encontram a serviço do capital e em que se procede à dominação da natureza e do ser humano para fins lucrativos. Os frankfurtianos criticam a exaltação ao progresso e desmistificam esse conceito, sobretudo quando os fins propriamente humanos são substituídos por outros que excluem a compaixão e levam ao ódio primitivo e à violência. No mundo “desencantado” – porque regido pelo cálculo, pelo lucro, pelos negócios – impera a razão instrumental, sem lugar para os afetos, as paixões, a imaginação, enfim, para subjetividade. E se perguntam como pode ser concebível uma civilização da opulência, tão desenvolvida na sua ciência e técnica, permitir a coexistência de tantos excluídos, condenados à fome, à ignorância e submetidos à violência de toda sorte. Qu4 racionalidade é essa que permite a barbárie dos Estados totalitários, ainda mais quando lembramos que o nazismo surgiu na Alemanha, tão culta e educada? A esse propósito, vale ler o clássico texto de Adorno “Educação após Auschwitz”. Para os frankfurtianos, no entanto, criticar a razão não significa enveredar pelos caminhos do irracional, mas regatá-la tendo em vista a emanciapação humana. Justamente porque é preciso recuperar o indivíduo autônomo, consicente dos fins que se propõe.

No seu livro A Filosofia e o espelho da natureza, Richard Rorty (norte americano 1831-2007) principal representante do neopragmatismo), recusa-se a buscar a verdade objetiva, criticando a epistemologia tradicional, segundo a qual a mente humana teria a capacidade de espelhar a natureza e atingir a sua representação precisa. Para ele, o significado está sempre em aberto. Não pretende, portanto, alcançar a pretensa objetividade da verdade, mas reconhece que o ser humano está sempre aberto à intersubjetividade, pela qual encontra soluções para os problemas, para em seguida deparar com outros problemas que aguardam novas soluções).

“A inteligência dos alunos não é um vaso que se tem de encher; é uma fogueira que é preciso manter acesa”. Plutarco.

“Um estado de equilíbrio não é um estado de repouso final, mas constitui um novo ponto de partida”. Piaget.

A crise da sociedade contemporânea.(p. 294-295)
Já vimos como a sociedade vem-se transformando de modo acelerado, sobretudo depois do desenvolvimento da ciência moderna e da tecnologia. Apenas como reforço, lembramos as mudanças decorrentes das novas tecnologias de informação e comunicação que alteram profundamente as maneiras de lidar com o conhecimento, tanto na sua produção como na sua transmissão, crítica e reformulação. Aliados a isso, os fenômenos da globalização, da interação intensa entre culturas e populações heterogêneas, da pluralidade de valores e de comportamentos têm ajudado a romper as estruturas tradicionais. Os ideais do Iluminismo ainda não se cumpriram, cabendo a nós resgatá-los.

A Idade Moderna começou no século XVII com a esperança de colher os frutos da racionalidade humana depurada de crendices, supertições e mitos. Os novos tempos se espelharam no sucesso da classe que emergia da burguesia capitalista, nos ideais de tolerância religiosa e de liberdade, na filosofia de Descartes, Bacon e Locke e no novo método científico desenvolvido por Galileu, Kepler e Newton. No entanto, hoje em dia, a essa racionalidade se contrapuseram duas guerras mundiais e o horror do holocausto na Alemanha, pais conhecido como modelo de refinamento intelectual. Além disso, o progresso trouxe o desequilíbrio ecológico e a ameaça da aniquilação atômica, e a opulência não resolveu o problema da miséria e da exclusão.

O acolhimento do novo depende da construção de novas maneiras de conhecimento e de poder, de uma subjetividade emancipada e de outra sociabilidade. Portanto, lembremos que, se a educação exige intencionalidade e recusa o espontaneísmo na ação, também se beneficia de um espírito desarmado, disposto a reconstruir e abrir caminho à força da imaginação.

Até agora constatamos e esforço – sem sempre alcançado – da universalização da educação, acrescido de outra questão que amplia o problema: diante das transformações vertiginosas da alta tecnologia, que muda em pouco tempo os produtos e a maneira de produzi-los, criando umas profissões e extinguindo outras, ninguém mais pode se formar em alguma profissão para o resto da vida. A educação permanente é, portanto, a exigência de continuidade ininterrupta dos estudos, o acesso às informações, mediante uma autoformação controlada.

Mas o essencial se encontra em um novo estilo de pedagogia, que favorece ao mesmo tempo as aprendizagens personalizadas e a experiência coletiva em rede. A segunda reforma diz respeito ao reconhecimento das experiências adquiridas. Se as pessoas aprendem com suas atividades sociais e profissionais, se a escola e a universidade perdem progressivamente o monopólio da criação e transmissão do conhecimento , os sistemas públicos de educação podem ao menos tomar para si a nova missão de orientar os percursos individuais no saber e contribuir para o reconhecimento dos conjuntos de saberes pertencentes às pessoas, aí incluídos os saberes não acadêmicos.

Diante da abundância de informações, convém estarmos atentos ao acesso, seleção e controle desses dados, sobretudo pelo fato de que elaborar, difundir o saber sempre significaram formas de poder que devem se tornar transparentes.
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