@garotadeleituras 18/02/2017
Uma estória onírica?!
Publicado em 2013, Opisanie Swiata da escritora brasileira Veronica Stigger, foi o livro vencedor do prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional do mesmo ano; isso por si só é um estímulo para o leitor que procura boas leituras referenciadas. Ao abrir o livro nos deparamos com uma carta de Nataneal, que hospitalizado, e acreditando encontrar-se nos momentos finais, envia uma carta para seu pai desconhecido, manifestando o desejo de conhecê-lo antes de morrer. A correspondência é o ponto de partida para o regresso de Opalka a Amazônia. Na estação de trem polonesa, com o jornal e seus doze limões para enjoo, Opalka depara-se com um sujeito diferente, o senhor Bopp, que assim como ele, fala português, mas apresenta como peculiaridade suas manias e desejo de entabular dialogo continuo com quem lhe cruza o caminho. o excêntrico companheiro chama atenção não apenas pelo físico atarracado, barriga protuberante e seu bigode fino, ou sua capa que remota à um quimono florido que arrastava tudo que encontrava pelo caminho, mas por seus relatos, simpatia e “estrambelhamento". Bopp de longe é o que mais cativa o leitor, com seu inoportunismo, "suas andanças" como um barco que atraca onde tiver um porto disponível, e a sensibilidade com a missão de Opalka , decidindo então acompanhá-lo.
Os personagens que dão tom a narrativa são exóticos, assim como os acontecimentos encontrados no livro: Priscila e o devaneio para encontrar um animal de estimação invisível; o casal Andrade na sua estranha relação, a levada cachorrinha Margarida, as gêmeas puritanas Olivinhas que vão embora depois de um batismo mais parecido com um trote e finalmente o comportamento contido de Opalka com seu jornal. O gesto singelo acontece quando Bopp, ao despedi-se, o presenteia com um caderno desgastado em branco para que ele possa escrever suas memórias, além de utilizá-lo como terapia para superar a morte do filho.
"Tome - Disse Bopp, estendendo-lhe um caderninho preto. - É um presente. Serve para fazer anotações. Para que o Senhor escreva o que passou. Ajuda a superar. E a não esquecer. A gente escreve para não esquecer. Ou fingir que não esqueceu. Bopp se calou e, depois de um tempo acrescentou: - Ou para inventar o que esqueceu. Talvez a gente só escreva sobre o que nunca existiu." (p.145)
Sobre o livro em si, é uma leitura que particularmente achei meio onírica. São cenas sucintas, com os acontecimentos sobrepostos e ao mesmo tempo sem ligação que movimentam a narrativa e nada mais. Os personagens permanecem desconhecidos para o leitor. Só sabe-se o que está sendo narrado no momento, sem informações adicionais; quase nada sobre o passado ou planos para o futuro. Eis aqui um livro que provavelmente não agradará a todos. A edição dispensa elogios com aquele esmero típico da Cosac, com ilustrações e diagramação para cativar o olhar. Resta saber se o livro em si, conquista quem ler.