underlou 24/10/2022
"Sejam quais forem os princípios que você tomou para sua vida, considere-os como leis que, caso transgredidas, o condenariam a vergonha. Mas não preste atenção naquilo que qualquer um fala de você, porque é algo que está fora do seu próprio controle."
Gosto do modo como o editor desse livro tenta se desvincular da alcunha de autoajuda ao proferir na apresentação que "a filosofia é a verdadeira autoajuda, o verdadeiro autoconhecimento, o verdadeiro amor ao saber"; mas essa defesa parece partir do seu próprio preconceito.
Epícteto nasceu escravo, mas foi um dos maiores sábios do seu tempo. Assim como Sêneca, defendia um estoicismo para o qual a virtude era suficiente para a felicidade. Como o filósofo não deixou nada por escrito, foi graças às anotações de seu discípulo Flávio Arriano que seu discurso foi popularizado como um manual.
Essa edição apresenta o principal argumento do filósofo logo na capa: "As coisas se dividem assim: as que dependem de nós e as que não dependem." E ao longo do livro, é claro, somos iluminados pelas ideias estóicas de Epícteto, com palavras que ora reverberam mal, ora nos constrangem; ou nos fazem muito sentido. Mas principalmente, excertos que se assemelham a frases motivacionais daquelas que a gente gostaria de publicar como legenda de alguma postagem em rede social...
Então, por mais que o editor se esforce para se afastar do nicho motivacional, não obtém sucesso (não estamos descaracterizando o teor filosófico da obra): esse Manual continua sendo uma "autoajuda"; e não há problema nenhum nisso, se considerarmos também que a própria epígrafe do livro é uma citação batida do escritor J. R. R. Tolkien.