Bells - @brumbells 21/04/2018Rebecca e Hephzibah são duas irmãs bem diferentes uma da outra; embora sejam gêmeas, elas não se assemelham muito em aparência devido principalmente à síndrome de Treacher Collins, a qual Rebecca é portadora. Esta síndrome fez com que o rosto de Rebecca não ficasse como o dito “comum”, transformando-a numa jovem bastante tímida, introvertida, calada e mais “na dela”, que gosta muito de ler e aprender coisas novas. Já Hephzibah, por sua vez, é mais extrovertida, animada, não sofrendo os olhares discriminatórios como sua irmã, assim gostando mais de sair e se divertir com os amigos, curtindo a vida. Entretanto todos os seus sonhos e planos para o futuro terminam quando a jovem morre precocemente, deixando sua irmã gêmea arrasada e mais sozinha do que nunca.
“Agora, com a partida de Hephzi, ele se tornara mais rabugento que nunca. E amargurado. Essa raiva ácida e afiada era dirigida a mim, aquela que sobrevivera. Aquela que deveria ter morrido.”
(Louisa Reid, p. 34)
Agora Rebecca além de ter de lidar com a morte recente da irmã e o sentimento de culpa por não tê-la protegido, terá ainda de conviver mais ainda com a pressão constante dos pais, que cegos pela religião, tratam as filhas de maneira bastante dura sempre sem mostrar aos desconhecidos o que realmente fazem. O pai das meninas, o pastor Roderick, é extremamente severo com as filhas, e ao longo da trama percebemos que não é somente Rebecca a que mais sofre com suas ações - embora esta sofra muito devido à síndrome de Treacher Collins.
“A única coisa que ela não sabia a meu respeito era que minha vida era uma droga, assim como a dela. Que eu achava tudo tão difícil quanto ela [...]”
(Louisa Reid, p. 65)
E a mãe das gêmeas, Maria, não dá nenhum apoio às duas, sendo totalmente submissa às demandas do marido.
Dividida em duas partes - a primeira alternando entre o presente, sob o ponto de vista de Rebecca, e momentos do passado, antes da morte de Hephzibah morrer e narrados por esta, e a segunda, narrada somente por Rebecca e no presente -, proporcionando assim que tenhamos um vislumbre da vida das meninas desde que eram crianças, cujos momentos mais felizes eram passados com a avó, até os dias atuais, já estudando no Ensino Médio e conhecendo novas pessoas.
Uma família desestruturada pela fé mal empregada é o que encontramos neste drama difícil, cuja narrativa visceral e sem os clichês bonitos e finais felizes comuns ao gênero consegue envolver o leitor ao longo da história, levando até mesmo a pararmos a leitura para respirar um pouco e encarar a dureza das palavras nesta triste história.
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