Reprodução

Reprodução Bernardo Carvalho




Resenhas - Reprodução


13 encontrados | exibindo 1 a 13


Ricardo256 29/05/2022

Livro bem brasileiro
Esse é o meu terceiro contato com Bernardo Carvalho e senti neste livro um déjà vu de outros livros que li do autor. Foi escrito em 2013, mas em muitas cenas, o livro se apresenta muito atual. O livro é dividido em 3 capítulos. O capítulo 2 eu senti uma leve dificuldade em entender, mas nada que duas leituras não resolvessem a situação. ?gostei do final.
comentários(0)comente



Wlange 22/03/2021

Reprodução
Uma professora chinesa, suspeita de carregar drogas, é retirada de um aeroporto. Um antigo aluno dela é detido por um mal-entendido. A trama se revela e se desenvolve muito lentamente através de monólogos gigantes do estudante de chinês e de uma delegada, além de alguns trechos em terceira pessoa.

A ideia é ótima, mas a execução deixa muito a desejar. O livro acabou ficando cansativo demais.

O narrador em terceira pessoa, com seu sarcasmo, é uma voz muito mais interessante do que as narrações em primeira pessoa dos personagens. Os monólogos são muito repetitivos e dão a sensação de que não precisavam ser tão longos. Boa parte desses monólogos não contam história, principalmente na parte do estudante de chinês. Acho que dava pro autor ter conciliado de um jeito muito mais interessante essa forma peculiar de contar ao enredo propriamente dito.

A verdade é que eu gostaria que o livro fosse outra coisa. Gostaria que as histórias dos personagens ficassem em primeiro plano, porque elas são bastante instigantes. Mas o livro não é isso. A meu ver, o livro é sobre língua, sobre pessoas que desejam se expressar ao máximo e sobre "diálogos" em que só um lado é ouvido. Por isso ele tem essa forma, e se tivesse uma forma diferente, seria um livro diferente.

Resumindo, eu não gostei muito. Pra mim, o maior ponto positivo é que as características dos personagens são bem construídas, a gente consegue entender bem quem eles são a partir dos monólogos. Mas essa característica não é forte o suficiente pra salvar o livro de ser chato.
comentários(0)comente



Guilherme.Gomes 29/12/2020

3 / 5
Fazer um livro só com diálogos onde você tem acesso apenas as falas do protagonista, se mostrou interessante no começou - engraçado até - mas depois fica desgastante...difícil não dispersar. Salva a história...que é legal. Principalmente a abordagem sobre a sociedade louca por informação em que vivemos e os comentários xenófobos do protagonista, sempre seguidos por um "mas eu não sou racista, ok?".

Tão BR.
comentários(0)comente



Guilherme 22/08/2020

Eu tô falando contigo.
A experiência do livro foi conversar com a história e montar o quebra-cabeça, tentar entender o que está acontecendo através dos longos parágrafos, um fluxo de discursos que os personagens emitem, entrecortados por algumas intervenções do narrador. Me perguntei algumas vezes, "por que estou lendo?", mas no fim das contas você quer acompanhar o que pensam esses personagens cômicos e caricatos, perdidos em suas próprias digressões, sustentados por seus defeitos.
Gostei do livro e recomendo a experiência dessa leitura tragicômica.
comentários(0)comente



Leila de Carvalho e Gonçalves 17/07/2018

Uma Série De Desentendidos
De autoria de Bernardo Carvalho, "Reprodução" foi o vencedor do Prêmio Jabuti em 2014 na categoria romance.

Sua história revela uma série de mal-entendidos, envolvendo um homem que pretende viajar para China. Tendo como pretexto aprender o idioma, o que ele pretende é fugir do fracasso, já que está desempregado e sua mulher acaba de trocá-lo por outro.

Porém, pouco antes do embarque, ocorre um tumulto no aeroporto e ele acaba detido pela Polícia Federal, suspeito de tráfico de drogas. A partir daí, começa um estranho interrogatório no qual ele desanda a falar e não há jeito de fazê-lo parar.

Seu discurso sem eira nem beira é preconceituoso, cercado de clichês e reiterações. Cede espaço uma única vez para dar voz à delegada titular que sem desconfiar da presença de um estranho, coloca mais lenha na fogueira, revelando detalhes sobre sua vida pessoal e os bastidores das investigações em andamento. Literalmente, uma confusão digna de um filme de Quentin Tarantino.

A maneira como Carvalho descreve a ação é audaciosa. O livro não possui parágrafos nem capítulos e é dividido em três partes. Cada uma apresenta um interminável diálogo no qual o leitor tem acesso à voz de um único interlocutor, por sinal, recurso semelhante ao empregado por Guimarães Rosa em "Grande Sertão: Veredas".

Conforme avança a leitura, o que mais incomoda é que por mais absurda e cômica que seja a situação, ela também é desconcertantemente plausível. O romance "reproduz" com fidelidade a Babel que vivemos. Pelas suas páginas desfilam a corrupção policial e da Igreja, o autoritarismo e o livre arbítrio, além do desprezo pelo próximo e uma ignorância disfarçada de uma aparente cultura enciclopédica que, inútil, só leva a julgamentos enganosos.

Perturbador e desconcertante, recomendo.

"Para aumentar seu saber, escute o que dizem os outros." (Xenofonte)
comentários(0)comente



Marry 28/05/2018

Um dos piores livros que já li na minha vida!
Daniana.Bittencourt 28/05/2018minha estante
Pior em qualidade ou temática?


Leila 28/05/2018minha estante
misericórdia! rs


Marry 28/05/2018minha estante
Péssima qualidade!




Leituras do Sam 14/07/2016

Falar, falar, falar e falar...ouvir? NÃO! To muito ocupado falando. (rede social, mais próxima. 2015)
A história desse livro se perde na própria narrativa e acredito que essa seja a intenção do #bernadocarvalho.

Em uma série de falas que facilmente encontramos nas redes sociais, os discursos racistas, xenófobos, homofóbicos, são aqui reproduzidos num monólogo interminável do personagem principal.
É nessa reproducao de falas, "conceitos" e afirmações que o livro expõe e critica os "debates" sem fundamento, a era da muita informação e pouca sabedoria.

Com uma narrativa diferente - um "diálogo" em que nos é apresentada somente a voz de um dos interlocutores (que desembesta em falar) - ácida, divertida, mas que nos causa indignação por saber que tem muita gente reproduzindo os mesmos discursos por aí, vale a leitura pra quem embarca não na história, mas na maneira que ela foi contada.
Carlos 26/01/2018minha estante
Começo a leitura semana que vem. Obrigado pela resenha.


Leituras do Sam 03/02/2018minha estante
Que bom que gostou Carlos. Volta pra dizer o que achou do livro




Pedro 09/01/2016

Uma experiência diferente!
Crítico, irônico, engraçado, contraditório, "mal entendido", e singular! Um dos livros mais diferentes que já vi...
comentários(0)comente



Pedro Nabuco 09/09/2015

Uma bela crítica à guerra de "verdades" em que vivemos.
A premissa do romance é muito boa, o autor, com uma narrativa quase toda desenvolvida num diálogo em que só nos é apresentada a fala de um dos debatedores, expõe muito bem o que ocorre em nossa contemporaneidade, flagrantemente nas redes sociais, um emaranhado de reproduções de discursos e muito pouco senso crítico, a "ciência", os colunistas, a imprensa de modo geral, ditam as verdades nesse mundo de contradições em que vivemos, e a "verdade final" não está com aquele que detém os melhores argumentos, e sim associada à crença. A impressão que me ficou ao fim do livro foi que o autor quis transmitir o paradoxo a que estamos submetidos: alardeamos o uso da razão para chegar às nossas concepções e nossa verdade acerca do mundo, mas no fundo o que somos e acreditamos é definido pela simples crença e reprodução de discursos. Há pouco espaço para o livre pensamento nessa guerra de informação que vivemos, bombardeados o tempo todo por ideias e "novas verdades científicas".
Como eu disse acima, essa premissa do livro é muito boa, contudo ela pede uma contrapartida do leitor para apreensão total. Em certo ponto a leitura fica um pouco cansativa mesmo sendo um livro de menos de 200 páginas, contudo o autor tem um bom domínio da linguagem e um humor não muito sútil, mas bastante inteligente que faz o diálogo ter momentos de desafogo em contrapartida à sua extensão.

Vale a leitura, contudo é um livro que pede muito por parte do leitor, o que pode ser encarado com uma falha na construção da ideia e da narrativa ou uma mensagem subentendida do autor. Na inteligente crítica do autor no meio desse turbilhão de reproduções de falas, de pesquisas, de opiniões, acabamos por nos perder e perder nossa identidade, e qual a saída para essa confusão, senão refletir?
comentários(0)comente



Paula 01/05/2015

O balbucio do mundo moderno
Um livro estranho. Comecei odiando tudo, achei o texto extremamente cansativo, por vezes mesmo irritante. Mas depois de ler, parei para refletir sobre o livro e na tese que acho que o autor quer defender e, com isso, ele acabou subindo mais no meu conceito. Ao escrever um livro que causa tanto desconforto no leitor, que incomoda e nos faz refletir sobre a linguagem, Bernardo Carvalho aborda um tema muito importante do mundo contemporâneo, que é a nossa incapacidade de dialogar, de ouvir de fato o outro, de refletir sobre as informações que recebemos dos meios de comunicação antes de tomá-las como verdade absoluta e simplesmente reproduzi-las. É um livro que nos faz pensar sobre a reprodução de clichês e informações que vemos diariamente nas redes sociais, de forma superficial, sem que sejam problematizadas ou ponderadas.
Ainda não sei como avaliar esse livro, nem sei se gosto dele ou não. É uma leitura difícil, por vezes chata, que incomoda, mas que nos faz pensar no papel que nós, leitores, temos diante desse caos de informações, nem sempre verídicas, com as quais somos bombardeados diariamente, ou seja, na nossa função de ver o mundo com um olhar crítico, de sujeito pensante, e não apenas reproduzir o que está sendo dito, como muitos tem feito.
Manuella_3 01/05/2015minha estante
Gostei muito da sua observação, Paula. O livro está na minha lista e foi bem recomendado. Fiquei ainda mais curiosa depois da sua percepção.


Luís Henrique 01/05/2015minha estante
Tive a mesma sensação que você. Livro chato mas que parecia que tinha que ser escrito. Nada melhor que ter sido por ele: Bernardo Carvalho. Acho que também teria que ser lido. Para nos inquietarmos.


Paula 01/05/2015minha estante
Pensando no livro hoje, com mais distanciamento, concordo com você, Luís Henrique, acho que merece ser lido, pois essa reflexão é mesmo necessária.




Leonardo 22/04/2014

Boa história. Mas poderia haver mais.
Como mencionei na minha resenha sobre A Maçã Envenenada, de Michel Laub (aqui), Bernardo Carvalho era uma das minhas lacunas mais consideráveis no tocante aos autores contemporâneos brasileiros. O livro dele que mais me desperta a atenção é O Filho da Mãe, mas acabei começando por este Reprodução, que conta a história de uma série de mal-entendidos envolvendo um homem que pretende ir à China.

Este homem, nunca nomeado, é um estudante de chinês que pouco aprendeu do idioma. Ele está indo à China “justamente para escapar ao inferno dos últimos sete anos, seis deles divorciado, desempregado e estudando chinês, quando depara, na fila do check-in, com a professora de chinês desaparecida dois anos antes”.

Ocorre uma confusão no aeroporto, no exato momento em que ele encontra sua antiga professora de chinês. Algo envolvendo drogas e a polícia. O estudante de chinês é levado até a sala da polícia e lá começa um estranho interrogatório. Ele não para de falar. Não para mesmo.

Revela-se um sabe-tudo, destes que pululam nos tempos atuais, pós WEB 2.0 e Wikipedia. É um contumaz comentarista de blogs na Internet, sente-se à vontade para falar sobre a situação econômica do mundo, sobre o futuro da China, sobre judeus, policiais, educação. É preconceituoso, racista, um tanto estúpido. Julga-se, naturalmente, superior ao próprio policial que tenta obter dele informações a respeito do seu envolvimento com a professora de chinês.

Enquanto revela suas idiossincrasias, o estudante de chinês vai se complicando ainda mais. E vamos sabendo um pouco mais sobre os problemas pessoais e profissionais que enfrentam o policial que o interroga e outra policial, também integrante da investigação.

“Como? Droga? Que droga?! Ela é crente! Afinal, que língua estamos falando aqui? Então somos dois. Coincidência mesmo. Porque os crentes também me dão arrepios. Sei como é. Quanto mais distante da religião, mais bela lhe parece. Me diga se estou errado. Aposto que deve achar o budismo lindo. Aposto que é budista. E vegetariano. A religião das plantas. Judeu? Mesmo? Não, nada. Desculpe. Não parece. Polícia judeu. Racismo nenhum, pelo amor de Deus! Nunca vi polícia judeu. Claro que estou nervoso. Da boca pra fora. O senhor não sabe que brasileiro é inconsequente? Semita? O meu nome? Não, não é. É, parece árabe, mas não é. Não, não é. Certeza absoluta. Onde é que o senhor quer chegar? O senhor não vai reter o passaporte, vai? Vai reter? O nome não é árabe. Como é que é? Falso?! (…) Não é porque o senhor é judeu que eu não vou dizer o que eu penso. O senhor leu a última declaração do vice-presidente do Irã? Não leu? Pois devia. Não lê jornal? Aqui não tem wi-fi?”

A forma como a história é narrada é, literalmente, de tirar o fôlego. Quase a totalidade do livro é contado pelo estudante de chinês, na forma de depoimento, lembrando O Complexo de Portnoy, de Philip Roth. Em praticamente todo o livro não há parágrafos, nem capítulos, apenas uma divisão em três grandes partes. A primeira – A língua do futuro – é inteiramente dedicada ao estudante de chinês e seu diálogo com o policial (cujas intervenções são omitidas, mas facilmente deduzíveis). Na segunda – A língua do passado – conhecemos uma delegada com sérios problemas (e que também conversa com o mesmo policial que interroga o estudante de chinês). Na terceira parte – A língua do presente – a voz retorna mais uma vez ao estudante de chinês.

Conseguimos, nas 167 páginas do livro, conhecer muito do estudante de chinês, da sua antiga professora e do seu drama para retornar ao seu país natal, do policial e da delegada. Não deixa de ser um grande mérito de Bernardo Carvalho.

Não sei descrever bem exatamente o que me fez não gostar tanto do livro. A prosa de Bernardo Carvalho é mais do que competente, é fluída, elegante, boa de ler. Seu humor é impecável, seus diálogos têm excelente qualidade. A impressão que tive ao final é que tudo aquilo funcionaria melhor se fosse um conto. Mais até: que tudo aquilo deveria ter sido um conto, e de alguma forma foi crescendo, crescendo até ganhar ares de romance. O episódio do mal-entendido eclipsa, de certa forma, o problema da delegada. Talvez eu que não tenha entendido tudo, sei lá.

Mas não tenho dúvidas de que lerei Bernardo Carvalho novamente.

Minha Avaliação:

3 estrelas em 5.

site: http://catalisecritica.wordpress.com
comentários(0)comente



Bruno 17/04/2014

Uma irônica comédia dos mal entendidos, Reprodução é o livro mais recente do contemporâneo Bernardo Carvalho. Somos apresentados ao estudante de chinês, perfeito cidadão médio brasileiro, leitor de colunas, jornais e blogs. Fruto da sociedade da informação, ele se considera e brada a alta voz que é informado, que não é racista (afinal, brasileiro o é), tolerante e ciente de seus direitos. Ao encontrar sua ex-professora de chinês em um aeroporto, donde pretendia partir para Pequim, é detido pela polícia do aeroporto. Aparentemente, a professora está metida em alguma ação criminosa e, como a cumprimentou (infelizmente, sem entender seu chinês), agora é suspeito, cúmplice, ou algo que o valha.

O recurso narrativo usado durante a maior parte do romance é o diálogo de um lado só. A voz do estudante de chinês é ouvida, própria e cômica, enquanto conversa com o delegado que o interroga — e não ouvimos as falas do policial. O livro então encadeia-se em um fluxo de conversa unilateral e constante, sem pausa, sem parágrafo; apenas períodos encadeados e seguidos. Ponto, exclamação, repetição, mal entendido. Aos poucos, o estudante de chinês conta mais sobre si mesmo, sobre seus valores e suas opiniões — mesmo quando não são pedidas. Sente uma necessidade de opinar, de dar palpite, de compartilhar sua moral e suas ações.

A ironia que transborda do retrato pintado do contemporâneo nacional é palpável e chega a ser engraçada; as contradições internas, a auto-cegueira que o indivíduo se impõe ao não aceitar seus próprios defeitos (ou, em um lado mais claro, a sua índole reacionária). E seu depoimento não é nada mais que uma reprodução daquilo que lê, do que assimila de suas colunas, blogs e jornais, do que a mídia lhe vomita e ele, acrítico, engole como a verdade absoluta.

Ao mesmo tempo, temos como os mal entendidos — que, segundo o narrador, não deixa de ser uma forma de comunicação — estão presentes a todo o momento. Seja em trechos pontuais, de não entender o que disse no momento, para deixar de entender toda a situação, o grande plano, a falta de um relatório, o ambiente do aeroporto, um dilema familiar. Mal entendidos são uma forma de entendimento, e não deixa de haver uma troca. E eles estão presentes, são um personagem próprio, em Reprodução. Em uma sociedade onde todos estão ocupados demais pensando em seus próprios dilemas — e o romance não deixa de apontar que até a escrivã subalterna tem a sua própria história — ninguém consegue se entender perfeitamente.

Uma segunda voz se faz presente a partir da metade do romance, na segunda parte do livro, que é dividido em três. O delegado que tenta, sem sucesso, manter um diálogo compreensível com o estudante de chinês troca palavras com sua colega, uma outra delegada — desta vez, só ouvimos a parte dela do diálogo. E segue-se uma segunda comédia dos mal entendidos. Aqui o foco dramático se desloca dos valores do estudante para os dilemas da delegada; sua insegurança, possível religiosidade, seus medos e frustrações; um caso de paternidade e, em menor grau, a própria questão da professora de chinês e de seu desaparecimento, sequestrada por um agente da polícia pouco antes de deterem o estudante. Sua voz narrativa-conversativa é diferente, ainda interessante, e demonstra a competência do autor em desenvolver vozes distintas. Os diálogos (quase monólogos) são ao mesmo tempo parecidos e diferenciados em tom e tema.

Entretanto, o romance, que se estende por 167 páginas, talvez acabe pecando em sua extensão. O recurso é original e, a primeira vista, instigante — mas a sua validade acaba perdendo sustentação depois de um certo tempo, quando a novidade deixa de fazer diferença e os mal entendidos começam a se tornar cansativos. O livro precisa de fôlego e dedicação do leitor, sem pausas e com uma mancha gráfica pesada, e pode acabar desestimulando. Após uma certa extensão, o uso dos mesmos artifícios frasais para ouvirmos implicitamente o outro lado da conversa acabam ficando repetitivos e algo enfadonhos. Por exemplo, o locutor repetir, como se não tivesse entendido, o que seu interlocutor acabou de fazê-lo. Pedir uma recapitulação. Uma ideia que, apesar de funcionar se usada esparsamente, acaba soando forçada justamente pela sua insistência. Talvez existissem outras formas de se alcançar os efeitos de um quase-entendimento de maneira mais eficiente, usando uma gama maior de recursos. Ou, por outro lado, se o romance se estendesse menos, não houvesse esta necessidade.

Em um livro sobre tragédia, ironia e atualidade, Bernardo Carvalho aponta o retrato das inseguranças e falsas seguranças do brasileiro contemporâneo. Pode servir para desestabilizar quem se enxerga na reprodução do estudante de chinês. E acaba que o título pode ter vários significados — Reprodução de ideias, de falas, de pessoas, da mídia. E, apesar da crítica não ser em nada sutil, sucede em passar bem uma ideia, através de uma caricatura de pessoa que, surpreendentemente, existe em todo lugar. É um romance instigante, talvez menos por uma história do que por uma ideia — não obstante, ao final, ficou a impressão de que o livro poderia ser mais condensado.

site: http://adlectorem.wordpress.com/2014/04/17/reproducao/
comentários(0)comente



spoiler visualizar
Cezar 05/09/2016minha estante
Concordo com você




13 encontrados | exibindo 1 a 13


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR