Mara Vanessa Torres 15/05/2010
Crenças, mitos e uma boa seleção
Licantropia, instinto, sensualidade, forças ocultas. Uma boa lenda surge a partir da mistura destes ingredientes com doses nada homeopáticas de crença. Foi assim que histórias sobre 'homens lobos' começaram a ganhar corpo e se espalhar pelas tradições europeias, assumindo as mais diferentes conotações - desde procriadores até bestas demoníacas.
Homens, Lobos e Lobisomens: As histórias mais fascinantes (org. Edson Bini, Marco Zero Editora, 2004, pág. 294), uma coletânea de contos escolhidos a dedo pelo organizador e tradutor Edson Bini refletem essa variedade de ideias. Com monstros que comem pedaços humanos, mulheres que enfeitiçam e devoram homens, famílias amaldiçoadas e muita carnificina, Bini seleciona mestres da literatura universal, como Alexandre Dumas e Guy de Maupassant, congregando-os com autores menos conhecidos, caso de Edith Nesbit, Ambrose Bierce e Sutherland Menzies (pseudônimo de Elizabeth Stone, grande expoente da cultura gótica norte-americana).
Tensão e terror bem construído fazem dessa seleção uma dica poderosa para os amantes dos licantropos. Me arrisco a apostar que o filme O Lobisomem (The Wolfman, 2010) regravado e lançado este ano, teria um plus a mais depois da leitura desta compilação. Não que a interpretação de Benício del Toro (*suspiro) e Anthony Hopkins tenham deixado a desejar, mas faltou um pouco mais de feeling na relação homem - lobo dos dois, algo assim.
Retomando, Homens, Lobos e Lobisomens é uma leitura agradável, diuturna e cativante. Destaque especial para o conto "O Senhor dos Lobos", de Alexandre Dumas. Repleto de sarcamos e ironias, Thibault - protagonista da obra - é a reencarnação perfeita da desgraça bem construída. Fenomenal!
Pegando o bonde de Edson Bini, transcrevo aqui uma reflexão lançada na introdução do livro (seria bom se todo mundo começasse a desenvolver o hábito de ler as introduções das obras. Muita coisa valiosa se perde nessa displicência): "(...) lobisomens, vampiros, demônios e seres similares não são seres independentes, específicos e distintos dos homens... mas extensões do próprio homem..."