Monique 04/01/2010Decepção de 2009Como diz a sinopse, o elemento central do enredo é a história de amor entre Niki de 17 anos, esperta e vivaz, e Alessandro, de 36 anos (e meio) o publicitário de sucesso na vida profissional mas que acaba de ser abandonado sem motivo aparente pela noiva Elena. Falar as idades nessa caso tem toda a importância, já que é justamente em torno desta pequena diferença de 20 anos é que Federico Moccia tenta mostrar que é possível contar uma história de amor fugindo dos clichês desse mercado literário que se reproduz a si mesmo. Quer dizer, ele tentou, mas o livro é uma decepção.
O livro tinha tudo para dar certo, afinal era para ser uma história de amor diferente. Foi o motivo pelo qual eu escolhi. Pareceu-me ter potencial. Entretanto, o livro simplesmente não acontece. Ele é longo (ou pelo menos mais longo do que a média do gênero), passa das 400 páginas e podia muito bem ter 200. Mas sabe qual foi o problema ao meu ver? A falta de um editor competente. O editor, ao ler a história que o autor quer contar, tem a função não apenas de revisar e cuidar da coerência interna do livro, mas de refinar o trabalho, aconselhando o escritor a cortar cenas desnecessárias e detalhar melhor outras. That's the way it is. O objetivo não é ser sucinto e economizar no número de páginas, mas contar a história da melhor forma possível, otimizar as coisas. Enxugar, polir, refinar.
Federico Moccia é tão prolixo, fala tanto e não diz nada, que desconfio nem editor ele teve. Além de, é claro, ter um estilo altamente maçante, o que seria inteiramente "mérito" próprio.
Para começar, Niki é tão chata, mas tão chata, que fica difícil entender como Alessandro consegue gostar dela. Em segundo lugar, ela é tão espevitada e "rebeldinha" que duvido existir alguém de 17 anos como ela. Ou seja, onde foi parar a verossimilhança, meu Brasil? Niki é simplesmente de mentira. O autor tentou fazer com que ela tivesse partes iguais de ingenuidade e maturidade, já que mesmo fazendo/falando as bobeiras, Niki estaria dando pequenas lições de vida a Alex. Isto é, estaria na opinião do autor, porque ao meu ver, ela não fala nada de especial. E nisso termina que a personagem simplesmente não dá conta do recado, ela é chata, desinteressante, irreal, quando deveria ser cheia de vida, com a alegria e inconsequência da juventude, temperada com alguma maturidade de quem vive a vida intensamente. Bullshit.
Já Alessandro ao menos não é tão falso. Ele tem jeito de homem bem sucedido de 36/7 anos, tem amigos que realmente parecem amigos beirando seus 40 anos, tentando ser modernos e descolados apesar da meia-idade, mulher, filhos e problemas da empresa. Só não entendo mesmo que graça Alex vê em Niki. Acho que o que o autor tentou mostrar é que Niki transforma Alessandro, devolvendo-lhe a juventude e alegria de viver. Novamente, Moccia só tentou, pois por causa da Niki (e mesmo por Alessandro que nunca me pareceu tão necessitado de ânimo assim), essa transformação não é digna de nenhum "uau".
Fora isso, há um excesso de cenas sem sentido. Niki e Alessandro são descritos em várias situações diferentes, ora frequentando o espaço dela, ora o espaço dele, mas a verdade é que pouquíssimas dessas cenas são imprescindíveis. A maioria delas é o famoso encher linguiça, um monte de baboseira mal escrita, porque aliás, para mim o estilo do escritor é chato e mal aproveitado mesmo. Isso para não citar as histórias paralelas que se amarram mal e porcamente no fim do livro: Erica e Stefano em torno do notebook encontrado no lixo e Mauro e Paola, que podiam muito bem NÃO EXISTIR at all. Ou mesmo a traição de Elena: eu podia super passar sem essa. Ou o fato de nunca sabermos se Camilla traiu mesmo Enrico e a opção de Alessandro por queimar a pasta. Sério mesmo, para que levantar essa história se no final ela não se conclui? E não venham me falar de Dom Casmurro, porque não tem nada a ver.
Posso contar mais um defeito? Só mais um? A tradução do italiano para o português é lamentável. O tradutor trouxe várias frases ao pé da letra, as quais simplesmente não são ditas daquela forma no português. É só conhecer remotamente-mente-mente o italiano para notar. Ou talvez nem isso, já que algumas frases ficaram mal formuladas por si só. Um bom tradutor não traduz ao pé da letra, mas o sentido da frase para que ela soe da melhor forma possível na língua de chegada. Não me pareceu o caso do tradutor que a Editora Planeta escolheu. Isso para não mencionar a quantidade inadmissível de erros de grafia ao longo do texto. Provavelmente a editora economizou em revisão....
Não percam seu tempo.