fabio.ribas.7 03/02/2020
Matemágica?!
Por causa do meu trabalho, venho estudando matemática para ajudar melhor aos meus alunos estrangeiros. Tenho lido muitos livros da área, mas quero indicar um, em especial, do qual parte deste post se baseia, nutrindo algumas informações históricas: "O romance das equações algébricas". E como não sei estudar sem escrever, pois aprendo melhor quando escrevo, então segue o post de hoje com as minhas devidas elucubrações e pesquisas.
No princípio, houve a equação: 3y – 9 = 3 e, como que num passe de mágica, alguém disse que, se passássemos o -9 para o outro lado do sinal de igual (lembram?), o sinal mudaria de -9 para 9 (3y = 3 + 9, o que daria como resposta: y = 12/3, logo y = 4)!
Até que, um dia, alguém perguntou: “Por quê”? Quem havia criado essa regra (e tantas outras da "matemágica") que se impunham sobre mim e exigiam a minha total subserviência. Quem decidira que, uma vez passado para o lado de lá, ocorreria uma mudança assim tão radical de sinal?
Por trás das equações algébricas como a apresentada, há uma história fascinante de fanatismo, conquistas, perdas e resgates. Pela terceira vez, a Biblioteca de Alexandria espalhava suas cinzas por sobre o céu e o negrume daquele momento parecia anunciar os terríveis agouros que sucumbiriam a humanidade no terrível e atrasado mundo muçulmano. O califa Omar, no ano de 641 d.C., fazia arder novamente a resistente cidade de Alexandria. Omar compreendia que os papiros ali ocultados ou repetiam as palavras do Corão ou eram contrários a ele, assim, sendo um ou outro, a biblioteca se fazia desnecessária ao novo Império Muçulmano que se estendia da fronteira da Espanha com a França, no Ocidente, e à Índia no Oriente.
Contudo, muito antes de Omar, a Biblioteca já sofrera nas mãos de Júlio César e, depois, com o Bispo cristão Teófilo e seus seguidores fanáticos (pelo menos, essa é a versão). Júlio César ateara fogo em seus próprios navios na ânsia de impedir uma fuga e o fogo acabou atingindo a Biblioteca. Por seu lado, Teófilo a incendiou por compreender que ali se instalara o ensino do paganismo perverso.
Muitas outras vezes, antes e depois do Cristianismo, contam alguns historiadores modernos, a Biblioteca (que era mais de uma com seus prédios espalhados na cidade) foi sendo destruída aos poucos. Mas, para além da sua importância histórica e cultural, faço dela um símbolo da verdade que quero apresentar como tema principal deste meu texto.
Veja o que ocorreu com o Bispo Teófilo e a multidão de fanáticos que avançaram contra a Biblioteca em 391 d.C.. Embora detentora de grande sabedoria e conhecimento, tudo o que foi produzido e guardado na Biblioteca nunca foi transferido ao mundo em volta dela. O conhecimento da Biblioteca era para uma elite reduzidíssima e, certamente, essa foi uma das principais razões de sua derrocada: a multidão que a destruiu deveria tê-la protegido, se antes a tivessem ensinado sobre o real valor da sabedoria ali desenvolvida. Porém, aquela sabedoria toda nunca fora usada em benefício do povo, nunca melhorou as suas condições de trabalho e, muito menos, jamais questionou e derrubou o sistema de escravidão que regia a sociedade da época. A ignorância é o alimento que mais engorda o fanatismo, mas foi a histórica alienação dos seus cientistas, filósofos e estudiosos que, inegavelmente, consumiu a Biblioteca.
Agora, mais uma vez, a Biblioteca incendiava nas mãos de Omar. Entretanto, inesperadamente, o rumo da história veria algo fascinante: os árabes muçulmanos seriam conquistados pelo helenismo e passariam a investir na cultura da Biblioteca e ela renasceria mais uma vez. E os califas (sucessores de Maomé), fascinados com esse desenvolvimento das ciências em seu próprio Império, sonharam, então, em suplantar Alexandria e, finalmente, o califa Al-Mansur ergue, às margens do rio Tigre, a cidade de Bagdá, esperando torná-la uma nova Alexandria. A riqueza de Bagdá, sua arte, cultura, ciências e apogeu inspiraram os famosos contos das 1001 e uma noites, que tentaram retratar a cultura de Bagdá naquele período de ouro para os muçulmanos.
Enfim, os califas trouxeram, traduzidas para o árabe, muitas obras que estariam perdidas na antiga Alexandria. E aqui começa a se fechar a nossa história: muitos sábios se dirigiram para Bagdá e, entre eles, um homem chamado Abu-Abdullah Muhamed ibn-Musa al-Khwarizmi e que foi o primeiro matemático que, de maneira simples, explicou as tais equações algébricas. A palavra Álgebra vem exatamente do seu nome al-Khwarizmi, que deu origem à palavra algarismo.
Ao contrário dos sábios pagãos de Alexandria, que fizeram da Biblioteca uma ilha cercada de injustiças econômicas, políticas e religiosas sem nunca questionarem nada dessa situação, al-Khwarizmi esforçava-se para se fazer entender e distribuir o conhecimento do qual dispunha a todos quanto quisessem. Para tanto, além de escrever um livro sobre equações matemáticas, introduziu o sistema hindu de numeração decimal, utilizado hoje em todo mundo.
Mas qual a verdade por trás daquela simples equação algébrica apresentada no início deste texto? A verdade é exatamente o que estou tentando dizer aqui para você: não há mágica. A Biblioteca de Alexandria se tornou símbolo dessa magia, desse ensino oculto, do cientificismo e filosofia herméticos, das escolas esotéricas. Demorei muito para abandonar o sistema de ensino “alexandrino” e compreender o sistema exotérico proposto pelos califas de Damasco e Bagdá, que traduziram para o árabe, entre outras obras, as noções comuns de Euclides. E é por causa de Euclides que podemos compreender a verdade por trás da equação aqui tratada.
Veja, a regra de Euclides é simples e irá revelar o que de fato acontece na nossa equação algébrica: se iguais forem somados a iguais, os resultados serão iguais e, do mesmo modo, se iguais forem subtraídos por iguais, os resultados serão iguais. Assim, retorno à equação: 3y – 9 = 3, torna-se 3y = 3 + 9 não por um passe de mágica que professores alexandrinos insistem em nos ensinar na Escola, mas, porque: 3y – 9 + 9 = 3 + 9. Logo, se eu estou dizendo que um lado é igual ao outro na equação, então, segundo Euclides, se eu somar (ou diminuir) iguais, o resultado confirmará a minha equação. Portanto, não é o -9 que muda de sinal e vira +9. Na verdade, o número não vai para o lado de lá do sinal de igual e nem troca o seu próprio sinal. O que se faz, mas quase ninguém ensina (pelo menos nunca haviam me demonstrado isso), é que, na verdade, estão sendo somados valores iguais tanto de um lado como de outro da equação. Simples, não?
Imagine que quase que eu não poderia escrever este texto hoje, se nas inúmeras vezes em que a Biblioteca fora queimada tivessem alcançado êxito. Muito menos poderia escrever isto, se os muçulmanos não tivessem resgatado as obras de Alexandria, traduzindo-as para o árabe e as ensinado ao mundo Ocidental. Esta é a verdade por trás da álgebra... Graças a Deus!
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