Viva o povo brasileiro

Viva o povo brasileiro João Ubaldo Ribeiro




Resenhas - Viva o Povo Brasileiro


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Rosangela Max 25/05/2022

Uma obra-prima nacional.
Que história maravilhosa João Ubaldo Ribeiro desenvolveu.
A forma que ele apresentou o povo brasileiro foi magistral. Tem de tudo um pouco, mas o que se sobressai são dois extremos: aquele brasileiro que reconhece os defeitos do povo e do Governo mas, mesmo assim, ama o país a ponto de matar e morrer por ele e aquele brasileiro que renega suas origens e só quer saber de se aproveitar e tirar vantagem de tudo e de todos. Infelizmente, sabemos quem se dá mal no final.
No começo a escrita é difícil e continua assim até a metade do livro, depois vai ficando mais fluída.
Amei ter feito esta leitura. Só não dou cinco estrelas porque achei que não houve desfecho para a história de alguns personagens.
Recomendo a leitura.
Cleber 26/05/2022minha estante
Obrigado pela dica! Li O povo brasileiro de Darcy Ribeiro e gostei muito, vou colocar esse na minha lista ?


Rosangela Max 26/05/2022minha estante
Eu tenho esse do Darcy Ribeiro, mas ainda não li. Que bom saber que você gostou, assim já coloco no topo na minha lista de leitura. ??


Margô 27/05/2022minha estante
Esta obra configura como uma das 10 melhores leituras que já realizei! É um verdadeiro tratado antropológico do Brasil... já li e reli! Cada leitura foi um aprendizado, considerando que no segundo momento, foi uma leitura compartilhada.
Já leram "O sorriso do ? Lagarto" ? É outra obra do autor que vale a pena conferir.??


Rosangela Max 29/05/2022minha estante
Ainda não li ?O Sorriso do Lagarto?, mas tenho aqui é está na minha lista de leitura. ??


Margô 29/05/2022minha estante
Massa Rosângela, creio que você vai gostar!?


Alê | @alexandrejjr 27/06/2022minha estante
Permitam-me uma intromissão! Rúbia, eu já li "O sorriso do lagarto" e posso dizer que é o segundo melhor livro do João Ubaldo que li! Veio logo depois dessa obra-prima dele que é "Viva o povo brasileiro". Outro livro incontornável do Ubaldo é "Sargento Getúlio". É mais difícil que os dois citados anteriormente, mas é uma experiência fantástica!




Otávio - @vendavaldelivros 15/10/2020

“- Guerra agora, que é você que está amarrado aí. Quando é um de nós que está amarrado, não é guerra, é expedição punitiva”.


Eu tinha expectativas muito altas com Viva o povo brasileiro. Tão altas que eu tinha receio de ler o livro e acabar me decepcionando, então adiei por um tempo até achar que era o momento. Assim, quando comecei a ler e encontrei nas primeiras páginas um português um tanto quanto rebuscado e uma leitura pouco fluída pensei que havia criado expectativas altas demais em um livro. Como eu iria encarar quase 700 páginas desse texto? Será que acabaria abandonando um livro depois de tanto tempo? Eu mal sabia que estava começando um dos melhores livros que já li na vida.


Em Viva o povo brasileiro, o baiano João Ubaldo Ribeiro propõe contar a história do Brasil de meados dos anos 1650 até 1977, através de personagens fictícios que interagem com momentos históricos reais. Índios, caboclos, escravos, holandeses, portugueses, barões e toda a sorte de personagens fazem parte de uma história que vai e volta no tempo, explicando conexões e estruturas que são construídas ao longo do livro.

A gigantesca força de alguns personagens é quase indescritível. É impossível não sentir as dores de Dafé e, ao mesmo tempo, se envolver com sua liderança, sua missão e suas crenças. Impossível não se sentir amigo de Patrício Macário, sua relação com o Exército, sua compreensão das desigualdades sociais e das injustiças que estão entranhadas nas bases desse país.

Há muito tempo não me sinto feliz ou orgulhoso do povo brasileiro. Ao contrário, sigo cada vez mais descrente de que esse país possa dar certo. O livro de João Ubaldo Ribeiro, escrito em 1984, é uma aula sobre as injustiças e desigualdades que formaram o Brasil. Escravizados que foram libertos sem nenhum tipo de suporte do Estado, a Revolta de Canudos, a Guerra do Paraguai, a Ditadura e mais tantos fatos que desaguam no país que temos hoje, desigual e injusto. Viva o povo brasileiro escancara a desigualdade latente e estrutural desse país e mostra, com exemplos práticos, como tudo isso acontece há séculos, com a anuência de quem de fato é dono do capital.

Eu, sinceramente, não me sinto capaz de expressar o quanto esse livro me impactou, e quão importante e necessário ele é para a compreensão desse país. Mas, mais do que isso, Viva o povo brasileiro é uma obra absurdamente deliciosa de ser lida. Um humor irônico permeia o livro inteiro, mesmo em momentos duros. A escrita de João Ubaldo é poesia pura, mas é acessível, fluída e viciante. Um livro épico, em todas as formas, com personagens inesquecíveis e passagens marcantes. É tanta coisa boa que a única coisa que posso falar é: Leia Viva o povo brasileiro. Poderia escrever horas sobre esse livro e ainda assim não conseguiria transmitir a intensidade dessa experiência. Sorte a minha não ter desistido nas primeiras páginas e ter tido a prova de que minhas expectativas não foram altas o suficiente. Sorte a nossa ter tido a honra de ter, nas fileiras de nossa história, João Ubaldo Ribeiro.
Nicolitt 15/04/2021minha estante
Kkkkkk deus, eu senti a mesma coisa lendo


Otávio - @vendavaldelivros 15/04/2021minha estante
ahahaha Fico feliz! É um dos meus favoritos da vida!


Margô 20/06/2021minha estante
Considero uma das melhores obras de autoria nacional! É uma viagem na História, partindo de onde inicia a colonização do Brasil, - A Bahia-! Superrecomendo.??


Felipe.Mello 15/03/2022minha estante
Essa seria a minha quarta leitura no ano, mas depois dessa sua resenha, esse livro será o próximo no meu planejamento! Ahhaha


Margô 15/03/2022minha estante
Boa Felipe!! Não esqueça de comentar comigo... Quero ver a tua percepção!


Felipe.Mello 15/03/2022minha estante
Pode deixar! ;-)




Jorlaíne 11/08/2022

João Ubaldo Ribeiro reconta, exalta e escracha a história do Brasil nesta narrativa. O livro é pesado. Fala sobre escravidão, estupro, canibalismo, a submissão da mulher e tanto outros temas.
São séculos de história numa só obra. Uma viagem!
Will 11/08/2022minha estante
Entrou na minha lista de leitura futura após esse Review.


Ricardo.Silvestre 12/08/2022minha estante
Fiquei bem curioso também!




Carolina.Gomes 19/09/2023

Ubaldo tira um sarro de você
Qualquer coisa que se diga sobre esse livro será muito pouco para expressar sua grandeza.

Ubaldo esnobou sarcasmo, tirou sarro com o povo brasileiro e me fez gargalhar.

As primeiras 100 páginas exigiram muito de mim, mas eu segui sabendo que algo grandioso estava sendo delineado ali?

O autor vai tecendo a nossa história, com maestria, vai construindo a linguagem, mostrando o Brasil sob a ótica de quem o construiu.

Desde a formação da elite brasileira com os piores tipos imagináveis, o pensamento pequeno burguês e o nosso eterno complexo de inferioridade perante o estrangeiro, Ubaldo aborda tudo, misturando o fantástico e o real de um jeito encantador.

Em alguns pontos tive a sensação de estar lendo uma distopia porque é muito atual.

É um livro maravilhoso e eu me orgulho de ser brasileira e ter tido acesso a essa maravilha.

Os capítulos são longos mas estão subdivididos em datas e não guardam linearidade entre eles. Asseguro que vale muito a pena se debruçar com atenção.

Recomendar é pouco. Esse livro devia ser obrigatório.
Bruno Oliveira 20/09/2023minha estante
Obrigatório, sério mesmo?? Só li os Budas Ditosos dele... Vou pôr esse no meu radar então. Como sempre, aumentando a minha lista de querer ler, hein, Carolina! :)


skuser02844 05/10/2023minha estante
Amo esse livro ??




Everton Vidal 04/04/2021

Cobre quatro séculos de construção brasileira (1677 a 1977), desconstrói fatos oficiais com ironia, descrevendo-os como fantasias ou meias-verdades que ocultam a verdade, que é principalmente construída por anônimos postos às margens da história.

Nesse plano se constroem algumas das principais personagens, como o Barão de Pirapuama, que enriquece fingindo participação heroica na guerra de independência e Amleto, contador do barão, que enriquece ilicitamente e falsifica documentos para ocultar sua ascendência africana.

Do outro lado está o Caboco Capiroba, canibal que gostava de comer holandeses, e suas descendentes: Dadinha, sua bisneta, escrava que morre centenária entregando o seu conhecimento à posteridade, Vevé, neta de Dadinha, que ao ser violada pelo barão dá à luz a Maria da fé, protagonista, líder guerrilheira da "irmandade da casa da farinha", onde a semente da identidade do povo começa a nascer.

Obra-prima de um dos maiores escritores da segunda metade do século XX. Escrito de forma fragmentária, não-linear, é um retrato anti-histórico imenso e preciso do povo brasileiro.
Vitória Marcone 04/04/2021minha estante
Esse livro está na minha lista de desejos há um tempão ? ótima resenha!


Everton Vidal 04/04/2021minha estante
Achei bão demais. Vale a pena! o/




Fê Gaia 13/09/2009

Força
Eu imaginava que esse livro fosse bom, mas não tanto assim. Acho que a palavra que define esse romance histórico de João Ubaldo é força, a força de resistência de um povo que sofre opressão de todos os lados e mesmo assim persiste em viver e buscar sua dignidade. Essa força e senso de justiça são meio que condensados em Maria da Fé, uma das personagens mais fascinantes que já conheci. Viva o povo brasileiro!
Cris 13/03/2016minha estante
Obra essencial para conhecermos e entendermos o porquê de o Brasil estar na situação em que se encontra atualmente.




Layla.Ribeiro 31/01/2024

Era para eu ter terminado este livro no final de 2023, mas percebi que ele tem um ritmo próprio e que adiantar a sua leitura poderia estragar a experiência, e de fato. Para mim ler livros do João é como se sentir em casa, seja por sua ambientação seja por conta dos vocabulários e abordagem culturais. Agora compreendo o motivo desse livro ter sido um dos responsáveis por consagra-lo como um dos melhores escritores brasileiros. Escrita, enredo, personagens bens construídos, diálogos com pitadas de ironia. Viva o Povo Brasileiro é uma odisseia brasileira que se inicia com a colonização da Bahia e vai até o período da Ditadura Militar situada em sua maior parte na ilha de Itaparica, cidade natal do escritor, explora temas como mestiçagem, lutas de classe e principalmente a formação da identidade nacional. Os primeiros capítulos soam um pouco arrastados, pois Ribeiro irá introduzir pensamentos filosóficos e divagações, mas persistam na leitura pois esses pensamentos não serão à toa para o decorrer do enredo. Duas coisas que eu mais gostei neste livro foram: a forma interessante do narrador observador que vai seguindo as maneiras de falar e pensamentos dos personagens que está em foco na narração, por exemplo, se for um escravagista o narrador vai falar igual ao senhorzinho, se for uma pessoa escravizada, será da forma que esse fala, como se o narrador incorporasse a personalidade dos personagens na medida que convivia com eles. E a outra coisa de que gostei foi a história linda fraterna entre vovô Leléu e Dafé, foi a forma de amor mais bonita que vi na literatura brasileira, e por fim, o único defeito do livro é que ele acaba. Leitura obrigatória para quem gosta de literatura nacional.
Fabio909 09/03/2024minha estante
??? você está sendo a primeira pessoa que conseguiu terminá-lo




Crixtina 16/09/2023

Viva o povo brasileiro
? Você só vai poder ser tudo depois que for você! Psssi! Entendeu? Parece bobagem, mas não é! Temos de ser tudo, mas antes temos de ser nós, entendeu? Como é seu nome? Tudo, tudo, tudo, tudo! Psssi! Viva o povo brasileiro, viva nós!?
Um trecho do livro , muito bom !!! Vale com certeza a leitura
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erbook 19/12/2021

A saga de um povo!
Viva o povo brasileiro é uma obra magistral! Sensacional! Nosso saudoso e premiado João Ubaldo Ribeiro, imortal da Academia Brasileira de Letras, com grande desenvoltura linguística, cultural e antropológica, expõe neste romance a saga de um povo sofrido e batalhador, desde o séc. XVII até o séc. XX.

A maioria do enredo se passa na Bahia, durante o séc. XIX, mas a abrangência e a profundidade com que o autor aborda os temas não deixa dúvidas sobre a construção da identidade do povo brasileiro. A saga menciona desde os rituais de canibalismo indígena do séc. XVII, passando pela colonização portuguesa, a catequização dos povos nativos, a crueldade da escravidão dos povos negros, a corrupção, hipocrisia e moralismos da sociedade brasileira. Embora sem se aprofundar muito, são abordadas a guerra contra o Paraguai e a revolta de Canudos.

A linguagem, quase oral em muitas passagens, não é simples, tendo em vista as gírias e os dialetos locais, mas leiam como se estivessem assistindo a um filme regional. Nem tudo é para ser compreendido, mas sim sentido. E isso, João Ubaldo faz com maestria.

O início da obra é arrebatador com a “criação das almas”, que de tempos em tempos reencarnam nos vivos construindo uma linha de identidade nacional. O autor não deixa de fazer crítica aos historiadores, mediante sátira com os “heróis” da independência, especialmente com o alferes José Francisco Brandão Galvão, que é retratado como um simples soldado raso. Há também profunda análise das tradições religiosas de matizes africanas.

Com tantos personagens marcantes e bem construídos, é difícil escolher apenas um, mas Nego Leléu, negro, ex-escravizado, inteligente, perspicaz nos negócios e batalhador, conquistou minha admiração literária.

Trecho marcante:

“Isto é uma luta que trespassará os séculos, porque os inimigos são muito fortes. A chibata continua, a pobreza humana aumenta, nada mudou. A Abolição não aboliu a escravidão, criou novos escravos. A República não aboliu a opressão, criou novos opressores. O povo não sabe de si, não tem consciência e tudo o que faz não é visto e somente lhe ensinam desprezo por si mesmo, por sua fala, por sua aparência, pelo que come, pelo que veste, pelo que é. Mas nós estamos fazendo essa revolução de pequenas e grandes batalhas (...)”.

Recomendo a leitura a todos que queiram conhecer um pouco mais sobre as origens da identidade do povo brasileiro!
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Margô 17/02/2022

Viva nós.
Não é uma tarefa fácil resenhar uma obra gigantesca como Viva o povo Brasileiro.
São mais de 600 páginas bem narradas, onde os fatos vão desfilando aos seus olhos, e você vê um filme encantador da História do Brasil, com todos os ingredientes quistos e mal quistos, esquisitos e fantásticos que conhecemos, e que deu origem a este caldeirão cultural que é nosso país.

Heróis , vilões, vítimas, escravos, encantados e caboclos se enroscam no caldo grosso da narrativa de João Ubaldo Ribeiro, que não deixa um só fio solto. Da batalha do Pirajá à Ditadura Militar, fica o registro das cafajestadas. Podia ser diferente?

E no seu jeito baiano de ser, escancara as batalhas inglórias que o Brasil participa e que na ausência do heroísmo verdadeiro, não se dão conta da grande batalha que se trava em solo brasileiro, na calada da noite, no estertor do dia. Uma luta contínua do que começou errado e até hoje é como uma máquina gigante descarrilhada atropelando fracos e oprimidos. A Canastra que nos libertará continua selada.

João Ubaldo não esconde pra que veio. Em uma narrativa de fôlego ele dá o troféu da coragem a uma mulher; Mulher de força, inteligência, humanitária, de Fé.
Maria Da Fé.

Foi uma releitura. Mas nada parecia já

conhecido, por quê assim é um clássico. Toda vez que se ler, parece que existem revelações que passaram despercebidas.

É leitura obrigatória. Caso não queira ficar à margem da história.

Grande obra!
Tati 17/02/2022minha estante
Gostei de sua fala, faço minhas também. Ainda lendo, chegando na metade, mas com todas essas sensações e impressões


Margô 18/02/2022minha estante
Que bom Tati! Fico muito satisfeita... Você sempre é bem assertiva nas suas apreciações.


Ingrid 05/03/2022minha estante
Parabéns pela resenha, Margô! Conseguiu captar a essência do livro! Terminei a leitura agora, e estou impactada! Com certeza entrou para minha lista de livros favoritos da vida!


Margô 06/03/2022minha estante
Obrigada Ingrid! Pois é, eu também o tenho na lista dos meus DEZ MELHORES!! ???


Tati 13/03/2022minha estante
Acabei agora minha leitura e como Ingrid estou impactada. Precisando de um respiro para acalmar tantas sensações.


Margô 14/03/2022minha estante
Estamos todas "embriagadas" pelo bruxo de Itaparica...rsss. Ma-ra-vi-lha!!!




Leticia 10/10/2021

Quem é o povinho?
Ohh livrinho que meu deu um trabalho da peste!

Esse livro me foi muito bem recomendado, o que se torna deveras complicado, quanto maior a expectativa, maior o tombo. Só que é com alegria que informo que isso não se realizou, essa leitura se tornou uma das melhores do ano.

Comecei essa leitura me sentindo a criatura mais burra da face da terra, não entendia bulhufas do que estava acontecendo, cheguei a pensar que não conseguiria ler esse livro, que era muito difícil.

É uma leitura que exige perseverança, e como eu perseverei nas primeiras cem páginas. Com o passar das páginas, comecei a pegar o fio da meada, e a entender como a linguagem que o autor colocou aqui é estruturada. A linguagem respeita os personagens, ela é fiel ao que ele propôs escrever, as palavras, o vocabulário são leais às histórias aqui contadas, do falso intelectual ao trabalhador braçal, ao escravizado, ao revolucionário, ao povo com suas faces distintas e suas particularidades.

É um livro que fala do Brasil, da formação do povo brasileiro, do período da colonização à ditadura militar, um punhado de tempo que retrata o falso moralismo, o complexo vira-lata, os falsos heróis nacionais, a corrupção, a politicagem, o patriarcado, a escravidão, as religiões de matriz africana, a luta contra a opressão, a resistência. Um livro genuinamente brasileiro, com o que há de bom e ruim, com o que há de dor e alegria, com o que há de lutas, e elas são muitas, e a esperança. Se na Colômbia há cem anos de solidão, aqui temos quase quinhentos anos de brasilidades em 'Viva o Povo Brasileiro".

Ao terminar essa leitura me vêm a cabeça uma fala muito recorrente no Brasil de hoje, de abandonar essa terra, que aqui não tem mais conserto. Como se abandona a Pátria? Como se abandona o cachorro caramelo, o acarajé, o pão de queijo, o arroz com pequi, o cuscuz, o samba, o axé, o funk, o povo brasileiro? anos de histórias, de lutas...

" A que diabos de povinho você se refere? Para você todo mundo é povinho, com exceção de quatro ou cinco gatos pintados que você julga estar a sua altura. Que povinho? Todos? Porque são todos, realmente todos os brasileiros, a que você se refere com esse desprezo." Pg. 555.

Eu acho interessante que quando nós vamos nos referir ao povo, o povo sempre é o outro, nunca eu, e eu não me eximo disso, "O povo é massa de manobra, o povo não saber votar, o povo isso e aquilo, etc". Quem é o povo? Só pode ser a gente mesmo, a gente mesmo que faz essas "cagadas".

Foi uma leitura que me trouxe dor, você vê a história do Brasil se repetir.
"[...] comida tem, tem até demais. Tem um pessoal louro misturando leite em pó no macadame da avenida, para ficar mais macio. Tem gente tacando fogo em pinto e afogando pinto que faz gosto, tem gente matando ganso só para tirar o figo, tem gente pagando para o homem não plantar que é para não ter comida demais e o preço não descer, tem gente querendo capar os outros para os outros não fazer filhos que possam comer a comida que se joga fora, tem coisa que Deus duvida aqui! Tem subola e alho jogado no rio, veja você, subola e alho! Depois que eles joga no rio, eles compra outra vez, só que no estrangeiro, que é para o estrangeiro respeitar ele". Pg. 637.
Joao 10/10/2021minha estante
Sempre tive vontade de ler esse livro e com sua resenha, agora sim é que quero ler. Li pouquíssima coisa do autor mas ele é muito recomendado.


Leticia 10/10/2021minha estante
Esse foi o meu primeiro contato com o autor, não poderia ter sido melhor, um favoritado. A leitura vale a pena.


Alê | @alexandrejjr 20/11/2021minha estante
Eu demorei a comentar, mas aqui está: queria dizer que esse teu texto trouxe toda a experiência que eu tive quando li. Análise excepcional de um livro único! Um dia, talvez numa releitura, crio coragem e dou os meus pitacos, Ana. Parabéns!


Leticia 03/12/2021minha estante
Alexandre, eu vi seu comentário só hoje. Então, foi uma leitura que gostei demais, e eu tenho que te agradecer, foi você que me indicou, e se tornou uma das melhores leituras do ano e da vida.




Marcus 01/01/2015

Viva nós
Vez ou outra me dou conta de estar em falta com algum autor ou obra importante. Aconteceu em julho, por ocasião da morte de João Ubaldo Ribeiro. Apesar de ter algumas obras suas na estante e ter lido várias crônicas em jornais, ainda não havia lido um livro seu. Viva o povo brasileiro foi eleito para corrigir essa falta.
A minha foi uma viagem no tempo de 30 anos, pois o livro foi publicado em 1984. Já a obra de João Ubaldo cobre mais de 400 anos da história do Brasil com seus personagens "fictícios" que você a cada página vai reconhecendo nas esquinas ou noticiários dos jornais e TV.
Viva o povo brasileiro faz uso de uma sutil ironia para expor como era o relacionamento entre proprietários de terras e escravos, políticos e empresários, polícia e cidadãos. Eu disse era? Ao fim da leitura, a sensação que fica é de que pouco ou quase nada mudou no país. E é possível entender um pouco melhor o que somos e porque somos como somos, e as razões do "debate" que começou durante a campanha eleitoral e continua nas chamadas redes sociais.
Encerrei as leituras de 2014 com chave de ouro com Viva o povo brasileiro. São quase 700 páginas, mas sua leitura deveria ser obrigatória, ao menos como reflexão, antes de fazer ou postar um comentário sobre o povo brasileiro.

site: blogbeatnik.blogspot.com
JPrates 08/11/2020minha estante
É muito verdadeira essa sensação de encontrar os personagens, não só de Viva o Povo Brasileiro, mas das obras de João Ubaldo em geral, nos noticiários e no dia a dia.




Tiago 21/06/2020

Determinados períodos pedem determinadas leituras.

Como agradecer a um livro?

Desde o primeiro índio, que após avistar a chegada dos colonizadores portugueses, recebeu um tiro na cabeça e seu sangue vermelho banhou e batizou o destino do chão deste país, o Brasil, palavra que designa "brasa" em sua sua etimologia, remete ao vermelho do fogo e do sangue, que serve de combustível para fazer rodar as engrenagens que há séculos move o que há por trás de nossa identidade; seguindo entre os séculos, de 1500 até 1970, João Ubaldo escreveu esta obra histórica, que com uma sátira ferrenha e pesada, de dar embrulhos mesmo, vai reconstruindo os fatos históricos do Brasil a partir de personagens que de tão reais nos deixam na dúvida se foram mesmo fictícios. Descreve o medo e a esperança de um povo que à base do estupro se tornou tão miscigenado que de sua identidade passou a saber tão pouco: o povo brasileiro é negro? É índio? É pardo? É branco? É um pouco de tudo?

Se eu lesse este livro antes de 2014, talvez achasse por demais exagerada a sátira que ele faz quando desenha a mentalidade conservadora e fascista das páginas deste livro. Mas hoje, 2020, vejo o quão preciso ele foi nos diálogos. É de arrepiar.

Ante tanto incômodo durante a leitura, demorei para entender o tom da sátira tão pesada do livro. Ler sobre os tempos de escravidão não é fácil. Menos ainda perceber que a escravidão permanece, embora com outros nomes. Mudam os nomes, mas as engrenagens são as mesmas. E só ao fim do livro vim entender o título. Como era possível dizer "Viva" a um povo que mata, escraviza, destrói? Só depois entendi que o "Viva" se referia ao Povo Brasileiro, movimento fundado dentro duma senzala, formado por aqueles que com os braços, o sangue e o suor, construíram e constroem este país, que de belo, além da natureza, tem também a força que sabe resistir à opressão e à barbárie. Este que é o povo brasileiro, muito mais do que aqueles que "à bandeira empresta para cobrir tanto sangue e covardia", como escreveu Castro Alves em 1870, e que hoje mesmo, nas ruas, vemos se repetir. Àqueles que resistem, muito mais do que a estes que oprimem, é que vale gritar: Viva! Viva o Povo Brasileiro!
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jota 07/09/2021

ÓTIMO: não é uma História do Brasil, mas pode ser a do povo brasileiro, gente com muitos defeitos e algumas virtudes...
Lido entre 20/08 e 06/09/2021

Viva o povo brasileiro, especialmente os habitantes reais ou não da ilha baiana de Itaparica, personagens centrais da obra épica (não apenas por sua quantidade de páginas) de João Ubaldo Ribeiro (1941-2014). A narrativa começa meio estranha, meio empolada, mas depois fica impossível resistir ao falso patriotismo de Perilo Ambrósio, ao canibalismo do caboclo Capiroba, ao embate de ideias entre o mestiço espertalhão Amleto Ferreira e o preconceituoso cônego D. Araújo Marques, à bravura da heroína Maria da Fé e depois seu romance com o general Patrício Macário.

Essas e outras tantas narrativas compreendidas em “pouco mais de três séculos de uma anti-história do Brasil”, como escreveu a editora Nova Fronteira, são contadas não sequencialmente, mas com idas e vindas no tempo, com alguns personagens reaparecendo nas histórias de outros, lembrados por eles etc. Não é uma história romanceada do Brasil como alertou a editora, mas através de personagens fictícios ou não, Ubaldo Ribeiro vai mostrando nosso passado escrachado com altíssima qualidade literária. Que por vezes nos obriga a recorrer ao dicionário, dado o uso de muitos vocábulos antigos ou específicos de uma cultura (a negra, especialmente).

É impossível não reconhecer nessas páginas traços do comportamento e da personalidade do brasileiro atual, alguns tão característicos que vêm desde os tempos da colonização, passando pela escravidão, império, república, pela formação econômica e financeira do país, como é o caso das elites brasileiras. Ubaldo Ribeiro nos faz crer que tanto quanto para as páginas de seu livro parece que ao fazer essa leitura estamos olhando também para um espelho que exibe não apenas nossa cara, igualmente nossa alma. E o ele reflete não é lá uma imagem muito boa...
jota 10/12/2021minha estante
Corrigindo a última frase: E o que ele reflete não é lá uma imagem muito boa...




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