Ju 02/11/2013O Clube de Boxe de BerlimKarl Stern é um garoto que tem sangue judeu de (quase) todos os lados da família. Ele tem apenas um avô não judeu. Apesar disso, sua família nunca praticou a religião. Karl nem mesmo consegue entender direito a crença judaica. Mas isso não faz diferença. Ele passa a ser perseguido pelas pessoas que conhecem suas origens. Felizmente para o garoto, ele não parece judeu. Tem traços delicados, é loiro, magro e alto, o que o ajuda a circular sem medo pelas ruas. Mas, na escola, precisa estar sempre atento aos valentões.
Um dia Karl leva uma surra, e Max Schmeling, amigo de seu pai, campeão de boxe, percebe. Propõe, então, uma permuta: levará um quadro da galeria do pai de Karl e pagará com aulas de boxe para o garoto. Karl se anima desde o início. Seu pai, apesar de não gostar nada da ideia (a vida já não estava nada simples nem fácil, e o dinheiro da venda seria mais que bem-vindo), acaba concordando. Karl, então, conhece O Clube de Boxe de Berlim, e descobre que o esporte pode fazer mais por ele do que imaginou.
"- Às vezes você precisa dar a impressão de que está fazendo uma coisa a fim de fazer outra e sobreviver. Você nunca deve dar a seu adversário uma ideia clara de suas reais intenções."
A história do livro se passa entre 1934 e 1938, ou seja, no período que antecede a Segunda Guerra Mundial. Nem por isso é menos chocante ver tudo o que acontece com os judeus. Eles perdem seus direitos aos poucos, até não restar nada. Um crime contra um judeu não é mais considerado um crime, e sim um direito dos arianos. Afinal, nenhum deles deveria existir. São vistos como obstáculos à evolução da raça e, quanto antes forem eliminados, melhor para a Alemanha. Os nazistas podem fazer o que quiserem contra eles.
"- O mundo está enlouquecendo, Karl. E quando o mundo está louco, um homem são nunca está bem."
Eu gostei demais da história. Apesar de mostrar muita coisa ruim acontecendo, não achei deprimente (não tenho nada contra histórias deprimentes, rs, mas sei que tem gente que não gosta). A narrativa flui, mesmo com o tema pesado. E tem personagens que fazem com que a gente continue acreditando que a raça humana pode ter atitudes boas, corajosas e desinteressadas.
O boxe é um esporte que nunca me atraiu. Ver pessoas se socando não me parece nada agradável... rs... Mas é incrível ver a transformação que ele causa no Karl. Como em todo esporte, a primeira coisa que o garoto adquire é disciplina. Precisa treinar todos os dias, por um longo tempo. Depois, ele começa a ver o resultado de todo aquele trabalho em seu corpo: ganha músculos. Mas o maior prêmio por sua dedicação é o ganho de confiança em si mesmo.
"Apesar de toda a minha força física, jamais me sentira tão fraco, porque era incapaz de secar as lágrimas dos olhos de minha irmã ou de livrar seu coração da tristeza."
Karl se apaixona pelo esporte. Só que essa não é sua única paixão. Ele ama desenhar desde sempre, e cria histórias em quadrinhos. Essa é uma parte fantástica do livro. As ilustrações, que nada mais são do que as tirinhas criadas pelo rapaz e alguns outros desenhos que ele faz, como retratos de seus adversários nos ringues com anotações sobre seus pontos fortes e fracos. Tudo se encaixa perfeitamente no enredo.
"- Você desenha em seu diário desde que conseguiu segurar uma caneta. Não poderia fazê-lo parar se eu quisesse. E você tem o mesmo tipo de paixão pelo boxe. É por isso que você tem tudo para ser grande."
Eu me surpreendi ao chegar no final do livro e descobrir que algumas das personagens foram baseadas em pessoas reais (nunca tinha ouvido falar em Max Schmeling, mas ele foi um lutador de verdade!). Isso só aumenta o valor dele para mim. O autor ouviu vários depoimentos para escrever a história, acredito que isso tenha ajudado bastante a tornar tudo tão crível. Infelizmente, a época abordada existiu, e é importante que ela nunca seja esquecida, para que não se repita.
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http://entrepalcoselivros.blogspot.com.br/2013/11/resenha-rocco-o-clube-de-boxe-de-berlim.html