tom reis 24/09/2023
O Espetáculo Caricato de um roteiro empobrecido
A metáfora de um espetáculo feito sob o reflexo da luz se mostra um perfeito encaixe quando José Murilo de Carvalho propõe falar de uma política que ocorre fora das vistas da população geral do Brasil Império. Esses acontecimentos “fora da vista” são os impactos possíveis analisados entre seus atores centrais no livro visto. José Murilo de Carvalho é professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisador emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras, Carvalho também já foi professor visitante de várias universidades internacionais, europeias e norte-americanas, e também publicou vários livros. Teatro de Sombras foi primeiramente publicado em 1988, tendo sido antes parte de sua tese de doutorado na Stanford University. O autor toma a elite imperial como foco da política e seu principal atuante para algumas das grandes transformações que ocorrem ao longo do período.
A teoria das elites, base teórica de José Murilo de Carvalho, não se dá por pouca conveniência. O estudo de uma sociedade que politiza assuntos para diminuir revoltas após um golpe para por um imperador e criar uma aliança de seu conselho com a elite, como propõe Jośe Murilo e já relatava Justiniano José da Rocha, é o ponto que faz o livro se debruçar sobre a elite brasileira e a política. Numa abordagem sobre a teoria das elites, Éder Rodrigo Gimenes já relata sobre como Gaetano Mosca destaca que o domínio de uma classe elitizada sobre as massas organiza a sociedade. A compatibilidade de tal argumento se encontra com o desenvolvimento de José Murilo, quando o mesmo exclui os populares de seu livro e foca então nas elites.
José Murilo parece tratar do escravismo do Império Brasileiro como algo que não é tão parte dessa sociedade imperial. É algo descolado. Parece que se ignora aqui que a existência da elite tratada pelo autor é sustentada na base financeira de mão de obra escrava. A escravidão e toda a situação que a envolve se torna meramente política. Interna e externamente, a política aqui toma forma de tratamento como leis trabalhistas ou do cotidiano civil. O autor aborda bem como a atuação da Inglaterra incide sobre o que ocorre no Brasil e como, no Brasil, a preocupação do fim do tráfico transatlântico recai sobre os senhores de terra. José Murilo, em seu livro, parece ter tomado a escravidão como um ato simplório e que é algo a parte para se tratar com leis somente. Ainda traz, em parte, o debate sobre o trabalho livre do qual mostra uma visão dos senhores sobre tal. A caminhada percorrida, até mesmo do abolicionismo, pouco se envolve no que afeta no social geral, ao qual ele retém somente a debater os caminhos políticos e econômicos de cada medida. A discussão política é exprimida a tal medida que ao final ele fala sobre a perda do baronato como um dos membros vitais do Império e que se transforma no desmoronamento e sucedido por sua queda.
O objetivo do livro foi atendido na ideia de entregar uma visão sobre a elite e como ela funciona, mas percalços serão encontrados na sua leitura. A necessidade de um complemento como os livros já citados, ou mesmo obras que podem ter sido lançadas após a publicação do livro de José Murilo, podem ser de grande auxílio ao leitor que tem aqui um entendimento de parte da população, porém há de ficar com falhas a serem supridas.