Paulo 08/09/2022
O Brasil não precisa de um milagre. Precisa da mais extraordinária conjunção de milagres que se poderia imaginar
Trata-se de artigos e editoriais publicados no Diário do Comércio de São Paulo em 2005, primeiro ano de Olavo de Carvalho como correspondente nos EUA.
A obra contém 34 deliciosos textos que trazem assuntos recorrentes da análise de Olavo, tais como a denúncia do Foro de São Paulo, a defesa do conservadorismo e do capitalismo, a crítica da mídia e a decadência cultural do Brasil.
O artigo título, “Apoteose da Vigarice”, é uma crítica ao aborto e uma denúncia da completa degradação moral dos valores brasileiros.
Ao longo da obra, Olavo comenta com a acidez que lhe é peculiar diversos fatos do noticiário americano, relacionando-os aos acontecimentos brasileiros da época. Já criticava duramente o ativismo judicial (mudança do sentido das leis sem passar pela fiscalização popular), alertava que o PT e o PSDB, aparentemente rivais, sempre foram “farinha do mesmo saco”, e demonstrava o uso de eufemismos (“democracia popular”; “ampliar a democracia”) utilizados pela esquerda para disfarçar suas reais intenções socialistas .
No ensaio “Direito e Esquerda, origem e fim”, o mestre estabelece as noções básicas que definem esses termos. Em suas palavras:
“... direita é o que se legitima em nome da antiguidade, da experiência consolidada, do conhecimento adquirido, da segurança e da prudência, ainda quando, na prática, esqueça a experiência, despreze o conhecimento e, cometendo toda sorte de imprudências, ponha em risco a segurança geral; esquerda é o que se arroga no presente a autoridade e o prestígio de um belo mundo futuro de justiça, paz e liberdade, mesmo quando, na prática, espalha a maldade e a injustiça em doses maiores que tudo o que se acumulou no passado.”
No artigo “Consciências Deformadas”, Olavo ensina que o movimento revolucionário dos séculos XVIII e XX engendrou uma mudança do eixo da auto-imagem moral íntima dos indivíduos humanos, da consciência de si perante Deus (Santo Agostinho), para a consciência de si perante a opinião pública (Rousseau). Ou seja: não basta ser, o que importa agora é parecer.
Algumas frases inusitadas do autor merecem transcrição: “no socialismo, como se sabe, qualquer varredor de rua é um novo Leonardo da Vinci”; “a nossa classe letrada, em matéria de inteligência, está abaixo de qualquer caipirão americano”; “o socialismo é uma doença do espírito, uma deformidade moral hedionda, pertinaz e dificilmente curável”; “expediente sumamente porcino”; “nunca houve, no Brasil, um traidor tão descarado, tão completo e tão cínico quanto Luís Inácio Lula da Silva”; “um empresário brasileiro sem subsídio estatal se sente tão desamparado quanto um inglês sem guarda-chuva, um russo sem vodca ou um italiano sem mãe”; “O Brasil não precisa de um milagre. Precisa da mais extraordinária conjunção de milagres que se poderia imaginar”.
Eu li o livro com calma, um artigo por dia, saborosamente, entres os meses de junho e setembro. Embora tratasse de assuntos da época, Olavo é um escritor universal, que captou como ninguém as mazelas do Brasil. É impressionante como os temas tratados em 2005 - 17 anos atrás - permanecem atuais. Os fatos cotidianos serviam de pretexto para a apresentação de suas ideias mais profundas e filosóficas. Meu ensaísta contemporâneo favorito, o autor faz jus ao bordão “Olavo tem razão”.