Léo 17/01/2016
Surpreendente, fantástico, sofisticado
Quero seguir o estilo do autor. Assim como ele, vou denotar a vocês logo nessas primeiras linhas, o que geralmente faço ao término da resenha. Vou deixar claro a minha sensação ao terminar de ler a obra do Edson Athayde, autor bem ousado que relatou ao leitor estampando na capa um dos principais acontecimentos de sua obra em vez de ocultar a morte do rapaz a tornando um dos pontos a ser revelado durante a novela. Afirmo que, os meus olhos ficaram esbugalhados por alguns momentos mas não por sentir arrepio ou medo, e sim grande emoção pelo imprevisto. Fiquei num estado descomunal que há tempos não sentia ao terminar de ler uma obra. O final é MEGA SURPREENDENTE, FANTÁSTICO.
Dúvidas e esclarecimentos no ar; o que será realidade e o que será apenas imaginação no meio deste romance praticamente policial? Que há um algoz todos já sabem, a sinopse deixa claro e o título já fazia imaginar antes de tudo esta hipotética realidade. Pensa-se na verdade, que tudo gira em torno deste algoz, e talvez até seja assim, mas passa-se também entre outras histórias desgarradas de personagens comuns e incomuns que compõe o labirinto do enredo. Mas, de quê exatamente Jonas morrerá? Ou como e em que momento isto acontecerá? No romance apresentado por Edson Athayde, percebe-se em vários momentos, os fracassados padrões e escolhas deles, personagens, que ainda sim, sentiam um tipo de amor por várias coisas, a cultura, a literatura e a vida até. Leitores com nível alto de interpretação perceberão facilmente que o autor não manipulou a história, isto ficou claro, ele deixou que a história fosse quem o levasse a escrever.
Os capítulos são curtos, o que para alguns é um defeito ou problema mas o que para outros torna-se quase uma prioridade de leitura. Particularmente isso me agradou, fez a leitura ser maravilhosa, há tempos eu não lia um livro tão inspirador e sofisticado como este. Talvez seja falta de conduta minha, pronunciar a leve semelhança notada entre os estilos de enredo e escrita da obra com o livro ''Benjamin Litter''. escrito por minha pessoa e publicado em junho de 2015.
Pedro, um dos personagens, pessoa daquelas anônimas, que se camufla entre a multidão, cheios de gestos rotineiros, que ao decorrer da novela mostra-se um irresistível curioso, evocou-me recordações de Benjamin Noah. A história, transitada diversas vezes nas ruelas de Guimarães, centro cultural de Portugal, com estilo histórico e fiscalizada pela aglomeração de pessoas dissemelhantes, compara-se em certos pontos ao romance social do reflexivo e desacreditado poeta brasileiro. Ainda comentando os personagens, com lindas citações e comparações feitas pelo próprio autor, acha-se Alice C., quase uma Capitu, dissimulada, com olhos de ressaca, "tão bonita, tão bonita'', de seios tão belos. Esbarra-se ainda com o 32, interno da Casa da Boa Esperança, possivelmente louco, indivíduo infeliz e demente cujo Pedro nem sabe o nome e H.H., escritor soberbo e prepotente que também fracassa antes mesmo do fim da novela.
Aos inícios dos capítulos e em bons trechos de todo o conteúdo, são reveladas partes do caderno de memórias ilegítimo que Pedro lê. A novela em si é muito louca, no seu mais afiado e inaudito sentido. O passeio pela vida dos envolvidos de forma separada é, no mínimo, inteligente demais. O estilo de Edson Athayde é um luxo, é belo, é primoroso.
Tenho um fascínio por escritas desse estilo. Lembrei-me da minha juventude, onde várias vezes no ano, descia as escadas que ligavam a sala de aula ao pátio e sentava-me ao ar livre para ler às escondidas, ao canto da quadra de esportes. As leituras eram semelhantes, me faziam sentir-me um poeta vagante dono das ruas, com uma gula pelos livros de Eça de Queirós e um de seus influenciados, o grande Machado de Assis. Por ser carioca, senti-me, ao ler ''Jonas Vai Morrer'', às bordas das construções históricas do centro do Rio de Janeiro (local citado - talvez por propósito óbvio ou preferência pessoal, quem sabe - durante a obra de Edson Athayde, que se assemelha muito ao centro histórico de Portugal). As suas vielas, o seu movimento contínuo, os seus ares poluídos pelo som quase contínuo de vários Pedros, muitos 32 e iguais Alices C. e H.H.. Vivi em poucas horas a louca confusão entre o que realmente é o que só parece ser. Não sei se eu era um Pedro, um 32 ou um Jonas, mas a certeza é de que eu estava lá também.
Dizer logo na capa do livro que Jonas vai morrer pode parecer idiota, uma perfeita estupidez, mas é neste ponto que o leitor se condena ao julgar precocemente o autor, que demonstrou na verdade, perspicácia e ousadia. Deve-se entender que em todas as novelas têm um novelo, que nada mais é do que as suas intrigas, reviravoltas, surpresas e labirintos. Sendo assim, tudo fará sentido ao final.
E antes de finalizar, palmas também para a Chiado Editora pois o material produzido é perfeito, causa encantamento. As folhas que separam os capítulos são negras, um charme excelso. O material é bem leve, leve mesmo, muito confortável de se manusear. A capa tem título em relevo e as folhas do miolo têm diagramação bastante charmosa.
''Jonas Vai Morrer'', livro de Edson Athayde publicado pela Chiado Editora merecia estourar o limite de 5 estrelas se fosse possível. Parabéns ao autor pelo talento, intelecção e desgarre. Adorei a leitura que fiz em poucas horas. Eu recomendo que adquiram e leiam o livro, vocês irão se surpreender. Para a Chiado Editora, ficam os meus singelos agradecimentos pelo envio da obra e os parabéns por esta maravilhosa façanha.
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