Gabyh 12/05/2019
"Tomou o corpo daquela mãe que morrera em desespero e a transformou com suas próprias lágrimas, que vertera por amor. Transformou-a como ela desejara, despejando o dom da divindade naquele corpo frágil, e abnegando seu próprio direito de criar para testemunhar o que nasceria a partir da vontade daquela mãe. E então a Deusa viu surgir, à sua frente, uma criatura contraditória em sua natureza: ferocidade e delicadeza, fragilidade e força. A dragoa-mãe era linda e amedrontadora. Talvez aquela fosse uma expressão do amor de Katriana por sua filha. Do amor que uma mãe, se amasse verdadeiramente sua cria, poderia sentir. O perfeito equilíbrio entre força e doçura."
Sabe aquele conto que você começa a ler sem esperar muita coisa mas no fim acaba se encantando e ficando bem feliz de ter se deixado arriscar pela leitura de algo inesperado? Foi exatamente o que aconteceu aqui, confesso que comecei a leitura sem muitas expectativas, mas não me arrependi, a cada palavra me vi mais envolvida nesse mundo lindo e confesso que quando cheguei no final eu não queria acreditar que tinha acabado.
"A borboleta, por mais estranho que aquilo parecesse, tornou-se sua melhor amiga e companheira. Sempre fechada, sempre sozinha por mais que estivesse acompanhada, Lyriel não via mal em falar com aquela curiosa criatura que jamais a abandonava. Com o tempo, a Dama da Borboleta passou a ser vista como uma protetora excêntrica. Sua beleza e sua bondade a salvaguardavam de denominações mais maldosas, mas era certo que aquela mulher não era comum, falando com sua borboleta como se fala com um amigo. Talvez tivesse sido tocada pela Deusa, e não pudesse ser compreendida pelos mortais comuns. E realmente algum poder circundava Lyriel, algum encanto. Suas vitórias e conquistas na luta pelo convívio entre elfos e humanos seriam cantadas pelos bardos, mas depois de algum tempo ninguém mais sabia seu nome. Ela era apenas a Dama da Borboleta. (...) Uma imagem, um conceito andante, alguém que já não se sabia mais quem era além daquilo que realizava."
Logo no início já vemos a aflição de uma mãe que precisa tenta a todo custo salvar a sua fila de ser morta, mas perceber que isso não será algo fácil já que estão sendo perseguidas e seu corpo não tem mais forças, em um determinado momento ela percebe que não tem outra saída, as duas vão acabar mortas, faz uma prece silenciosa a Deusa, mas escolhe ao menos que se ambas precisam morrer que vai ser de uma forma menos dolorosa, já que sua pequena filha conheceu pouco da vida.
A Deusa se sensibiliza daquela prece da mãe e acaba finalmente criando o seu dragão, uma criatura única e maravilhosa que não só salva a sua pequena filha, como o filho de uma outra mãe que também estava prestes a se afogar no rio, deixando para ele a responsabilidade de cuidar da sua pequena Lyriel, que cresce sabendo de sua história, mas ainda sim sendo muito amada por sua família adotiva.
"Deusa, por que nos fizeste tão frágeis? Por que não me proveu de garras e dentes e asas para defender minha cria, como fizeste aos animais e criaturas que vivem nas florestas? Por que não me fizeste nascer uma criatura monstruosa, pois teria eu preferido! Teria eu preferido, pois assim ninguém teria se aproximado de nós, ninguém teria apagado a luz de nossas vidas. As sombras fortalecem aquelas que as seguem. E a luz nos tornou belos e cheios de alegria, mas somos frágeis como a chama de uma vela. Oh, Deusa, quisera eu ser uma mãe fera! Quisera eu ter nascido uma besta..."
Por mais que se trate de uma história curta, é impossível não simpatizar com os personagens e querer saber um pouco mais sobre eles e suas histórias, a carga emocional que o conto trás é enorme, mas nos mostra como o vínculo de amor entre mãe e filha é grande e como o pouco tempo em que passaram junto influenciou em quem Lyriel se tornou, que a carga emocional de Katrina foi passada para a filha em seus últimos momentos mesmo que ela não soubesse disso.
"Por dez anos ela vagou por Edrim. Sozinha ou acompanhada, Lyriel buscava aplacar o anseio em seu peito. Tinha sede de justiça, e também sede de vingança. Lutava por equilibrar essas forças dentro de si, tentava focar-se na justiça, no bem, na vontade de ajudar aqueles que ainda tanto sofriam. Sua espada e seu escudo tornaram-se símbolos de luz e retidão. Era uma paladina. E chamavam-na a “Dama da Borboleta”. Pois onde quer que Lyriel fosse, havia sempre uma borboleta a acompanhando. Grande, com suas asas azuis brilhantes, ninguém sabia ao certo o que aquilo significava – nem mesmo a própria Lyriel – mas dizia-se que certamente seria alguma benção da Deusa."