spoiler visualizarLudmila.Karla 25/01/2021
Pensando n’A Metamorfose, de Franz Kafka
A Metamorfose, de autoria de Franz Kafka, é um conto ou novela publicada originalmente em alemão, no ano de 1915, ficando marcada como a principal obra do escritor. O enredo narrado em terceira pessoa é protagonizado por Gregor Samsa, um caixeiro viajante que acorda pela manhã metamorfoseado em um grande inseto. Neste ponto, a trama é marcada por conflitos que podem gerar diversas reflexões e debates.
Dividida em três capítulos, a obra pode ser analisada segundo essas seções bem delimitadas. Na primeira delas, tem-se a metamorfose propriamente dita, com o despertar de Gregor. Todos os questionamentos pessoais, batalhas físicas e diálogos com os demais personagens evidenciam um principal tópico: a alienação de si pautada pelo trabalho. O caixeiro viajante, apesar de ver-se num corpo que não lhe pertence, preocupa-se unicamente com seus horários, trens, demandas e deveres em relação ao patrão, o que se agrava ao saber que o personagem é o provedor de sua família e tem planos maiores para ela, precisando trabalhar arduamente e manter-se longe da mesma para alcançá-los. Esse imbróglio pode ser interpretado como uma crítica às relações entre patrão e empregado, às exigências absurdas para a subsistência e, de maneira mais incisiva, ao próprio sistema capitalista, onde o homem não é um indivíduo, mas uma mera engrenagem que se mantém girando para preservar o local das classes dominantes.
Já no segundo capítulo, criam-se hábitos perante a condição de Gregor e explora-se a fundo as relações do núcleo familiar, onde há um pai hostil, que o despreza e ignora; uma mãe receosa, oscilando entre a aproximação e o medo; e uma irmã solícita, sendo a única a demonstrar real preocupação. Passam a lidar com dificuldades financeiras, distanciamento dos vínculos e a relação conturbada entre o afeto e o asco pelo protagonista, o que desencadeia conflitos mais calorosos.
Em seguida, no terceiro e último capítulo, acompanha-se o completo declínio dessas relações, onde Gregor é abandonado e desumanizado, não só em sua forma, mas na memória do que já havia sido, evidenciando inclusive a ingratidão de seus parentes, que passam a enxergá-lo como um fardo ao inverterem-se os papéis de dependência, sugerindo que ele fosse expulso de casa. A história tem seu desfecho com a morte de Gregor, decorrente da negligência e do desânimo, o que proporciona alívio e novas perspectivas para os familiares.
Essa positividade diante de uma situação trágica, bem como a ingratidão do segundo parágrafo, gera incômodo ao leitor que aguarda um final feliz, a volta de Gregor à forma humana ou uma reconciliação. Kafka transmite a crueza e, de certo modo, a crueldade humana, mesmo no ambiente familiar. Tal crítica pode ser vista no cotidiano, sendo a metamorfose alguma enfermidade ou dependência, onde o arco de transformação, hábito e abandono se repetem. Criticando os convívios humanos e as estruturas sociais, o autor provoca uma série de reflexões além das que foram aqui explanadas, a variar o contexto e período histórico, justificando assim sua relevância na cultura mundial até os dias atuais.