Hildeberto 31/12/2015Existem algumas ironias na vida. O primeiro livro que li em 2015 foi "A História Politicamente Incorreta do Brasil". O último, "Esquerda Caviar". Ironia pois ambos possuem duas semelhanças importantes: o teor discursivo desconstrutor de "verdades" e, em termos mais pessoais, a contribuição intelectual para que eu repensa-se minhas posições.
Alguns comentários do Rodrigo Constantino são meio sem nexo (mais de uma vez ele menciona que as lâmpadas brancas são feias; e daí?). Mas em um ambiente que tende, principalmente nas universidades públicas e nos cursos de humanas, a reproduzir sempre o mesmo discurso, uma obra como a "Esquerda Caviar" é importante para lembrar-nos da existência de outros argumentos.
Este é o grande mérito deste livro: o ataque direito às verdades estabelecidas, ao tido como politicamente correto em uma escrita acessível (embora eu não tenha me identificado muito com o estilo).
E, embora concorde com a essência do livro, devo admiti que o li com um certo sinal de alerta. Vivencio, atualmente, o fortalecimento de um movimento "libertário", de defesa dos valores individuais e do livre mercado. Tenho simpatias por todo pensamento que respeita o livre arbítrio e a liberdade individual. Mas a questão é que esse movimento ideológico, como todos os outros, se baseia em premissas. Ora, um dos aspectos mais importantes do individualismo é reconhecer a capacidade individual de fazer análises críticas. E o "libertarianismo", "liberalismo" ou "conservadorismo" são corpos de ideias, ou melhor, formas de pensamento, que pretendem dar resposta a tudo. Acho que tudo que pretende anular a necessidade de pensamento autônomo um erro.
Isso inclui, por exemplo, usar o maniqueísmo de que tudo o que for contrário ao socialismo é, por isso mesmo, melhor. Não necessariamente. Tenho certeza que se um Estado paternalista é insuportável, mas o mundo de livre mercado absoluto (o que nunca existiu de fato) poderia ser um outro tipo de pesadelo.
Em resumo: na prática, é um livro bastante útil, principalmente em vista da realidade brasileira, onde o politicamente correto impede debates reais e o Estado ocupa um espaço muito maior do que deveria. Nesse sentido, como obra de desconstrução, é uma ótima leitura. Na parte propositiva, na qual o autor exalta as virtudes do livre mercado, tenho minhas dúvidas.