Acad. Literária 22/04/2015
RESENHA - Os Guardiões do Tempo
Ano 4612.
O Império Galáctico, símbolo do poder da humanidade sobre todas as galáxias conhecidas, se encontra em grande perigo. Os inimigos da raça humana tramam e a cada dia que passa, o Império enfraquece, ameaçando assim o futuro da raça humana.
A única esperança se encontra nas mãos de um jovem chamado Eduardo. Em seu DNA está a chave para a salvação da humanidade. Porém, Eduardo é um garoto de apenas 13 anos que nasceu no ano de 1995.
Uma aventura no tempo e espaço está prestes a se desencadear, onde mil perigos espreitam nos confins da galáxia, em uma busca desesperada para encontrar a salvação de todo o Império Galáctico e, consequentemente, da raça humana.
“Guardiões do Tempo”, obra do autor Nelson Magrini, conta a história de Eduardo (Duda), um garoto comum de apenas 13 anos que de uma hora para outra se viu envolvido em uma trama futurista que determinaria a sobrevivência da humanidade. Ao lado de Maria Cecília (Ciça), sua irmã um ano mais nova e seu melhor amigo Rogério, Duda embarca em uma aventura através do tempo, viajando ao futuro para resolver um problema que mesmo os mais engenhosos seres daquela época não sabiam como solucionar.
O trio estava passando as férias na casa do tio de Duda e estavam prontos para começarem um dia de pescaria quando uma gigantesca nave espacial surge para o espanto geral. Um homem saiu de dentro da espaçonave e sem formalidades perguntou se Duda atendia pelo nome de Eduardo Junqueira da Silva. Ao responder positivamente, o homem se identifica como Tenente Vus, representante do Alto Comando do Império Galáctico, do ano de 4612 e revela que precisa da ajuda do garoto. Ao serem convencidos a entrar na nave, o trio é apresentado a Dig e Dreg, dois alienígenas auxiliares do tenente.
Vus relata um breve resumo para os garotos do que aconteceu até o ano em questão e explica por que precisa de Eduardo. Um cientista chamado Leidor havia criado uma máquina que resolveria a terrível situação em que se encontrava o Império da Terra, mas por um motivo desconhecido, ele desapareceu junto com seu invento e deixou para trás pequenas pistas, para que o Comando pudesse encontrar sua invenção. A missão de Vus era encontrar a máquina. Porém, havia um problema: a máquina só funcionaria com a sequência de DNA do criador, ou seja, sem Leidor (que não havia deixado qualquer pista do seu paradeiro), a máquina era inútil. É aí que entra a figura de Duda. Através de uma vasta pesquisa, o Comando identificou uma sequência de DNA idêntica à de Leidor. E esse era Duda. De acordo com as pesquisas, Leidor era praticamente um clone natural do garoto, fato que ocorre raríssimas vezes na natureza.
Então, alguém pode sabiamente indagar: Se é possível viajar no tempo, porque não voltaram um dia, ou uma semana antes do cientista desaparecer? Bastava pegá-lo e levá-lo para a data no futuro e ele mesmo poderia acionar a máquina. E também: porque escolheram uma criança de 13 anos para a missão? Não seria mais prudente pedir a um Eduardo adulto? Para essas respostas, leitores, vocês vão ter de ler a obra.
Sempre gostei muito de histórias de ficção científica. Viajar pelo espaço, conhecer outros povos, batalhas intergalácticas, transição no hiperespaço e tudo o mais que a imaginação nos permite criar a partir desse ponto. “Guardiões do Tempo” foi uma surpresa para mim, pois sua sinopse pouco revelava a respeito da trama. Na obra, os humanos são a raça mais poderosa tecnologicamente em todo o Império (o Império, por sinal, foi fundado pelos humanos). Isso é muito raro, pois sempre vemos histórias onde a humanidade tem de fazer milagre para conseguir superar as tecnologias alienígenas (Independence Day que o diga). Um fato curioso na obra é que graças à influência da Terra, a grande maioria dos povos usa o idioma universal para se comunicarem, que nada mais é do que uma mistura natural das línguas faladas na Terra que se fundiram em uma só. Então, os humanos não têm de se adaptar às regras de outros povos, as outras raças é que tinham de se adaptar às regras da Terra por conta do avanço tecnológico superior dos humanos. Um invento bem útil mostrado na obra é o aprendizado mental. Uma máquina que, como o nome diz, faz qualquer um aprender quase qualquer coisa. Basta programar. É bem parecido com o que acontece com o Neo em Matrix: “Eu sei lutar Kung Fu”.
Os personagens são bem construídos, mas acabam tornando-se secundários em meio ao cenário da obra. As explicações sobre o universo e tudo mais (trocadilho nerd) são bem mais detalhadas do que as dos personagens. Pouco se sabe a respeito do passado do Tenente Vus, seus assistentes e mesmo das três crianças, pois a trama se concentra em avançar e não retroceder na história. Porém, um personagem secundário roubou a cena em várias partes do livro e se mostrou o meu favorito: Fyshgsfrtiikjmaverersgs Catreiujjhfytrgdb, mas para os amigos: “Fyscat”. O alienígena é um mercador de armas do planeta Combus e se torna o alívio cômico da obra. Assim como C3PO em Star Wars, Fyscat é um cara resmungão, medroso, exagerado e como ele mesmo diz: “azarado por estar próximo àquelas crianças”. E o mais engraçado é que a abreviação de seu nome nunca é a mesma para os ouvidos do trio. Toda vez que ele a pronuncia, sai algo diferente da boca de um dos garotos.
Merecem destaque também as características de alguns planetas criados pelo autor, como o planeta escola Saber. Imagine um planeta inteiro dedicado à educação. Uma escola gigantesca que recebe estudantes de todas as partes do Império. Uma honraria para qualquer família ter um filho formado em Saber. Outro planeta que se destaca é Tiffan, o planeta verde que se parece muito com a floresta amazônica do nosso tempo e é preservado por lei anticolonização, já que ele é o único do tipo em toda a galáxia. O planeta Combus era muito próximo de um Sol vermelho e por isso se mantinha fervente em qualquer época do ano a mais de 40 graus e mesmo à noite a temperatura só caía 5 graus em média. E Varlam III, o oposto de Combus, onde as temperaturas poderiam alcançar menos 30 graus nos invernos mais rigorosos.
"Titan: Depois da Terra"
Não pude deixar de comparar certas partes do enredo da obra com a animação chamada “Titan: Depois da Terra”. Na história a terra é destruída por uma raça chamada Drej, humanoides feitos de energia pura, que quase levam os humanos à extinção. Pouco antes do ataque, centenas de naves de fuga conseguem escapar do planeta, incluindo uma nave chamada Titan, que carrega um mecanismo em seu interior criado por brilhantes cientistas, sendo esta a última esperança da humanidade. Uma ótima animação, que por sinal recomendo.
O que para mim não ficou muito bom foram às motivações do vilão da obra. Existe sim, um motivo, mas ele não é bem estruturado e muito menos explorado ao longo da narrativa. Além de não possuir um histórico mais denso que explicasse com mais detalhes suas motivações, ele poucas vezes é citado na trama e em sua grande maioria é retratado como uma “ameaça oculta”, ou seja, ninguém sabe quem é. Creio que o autor poderia ter dado mais participação ativa ao vilão e a seus comandados (que só aparecem para meter bala nos mocinhos), mesmo que o enredo principal da história apontasse apenas para o encontro e a ativação da máquina de Leidor.
A obra é narrada em terceira pessoa. A fluidez é tranquila no que diz respeito às palavras usadas (o autor não utiliza muitos sinônimos), porém será complicado para os leitores entenderem certas explicações como:
- O Campo modulativo requerido para desbloquear as comunicações está muito acima da capacidade de refração induônica que este aparelho alcança, mas creio que posso enviar um vetor posição através de uma quantização unitária de frequências alternadas.
- Ahn... quê? – perguntou Mérius, sem entender nada.
- Nossa, Ciça, isso parece um palavrão! – disse Rogério, também não compreendendo o que Ciça havia dito.
Pág 195
Por ser um livro futurista, obviamente, termos de física quântica, cosmologia, engenharia, e outros campos da ciência são muito explorados pelo autor, podendo dar um nó cerebral em leitores que não tenham contato com obras ou conhecimentos de ficção científica. E isso pode acabar por travar a leitura.
A relação de tempo é linear, com algumas exceções onde o autor narra acontecimentos que já aconteceram ou que estão acontecendo, mas em outro ponto da galáxia. O ponto fraco vai para a revisão. Do meio para o fim, os erros são muitos e alguns graves. Faltou uma leitura final de revisão por parte dos responsáveis por essa tarefa. Uma segunda edição poderia facilmente corrigir esses problemas. Já a formatação está ótima. Cada capítulo conta com uma imagem em preto e branco de um relógio antigo, juntamente com o título. A capa contém uma bela ilustração de um relógio solar com o universo ao fundo.
Nelson Magrini é engenheiro mecânico, estudioso e pesquisador em Física, com ênfase em Mecânica Quântica e Cosmologia, escritor, professor e consultor de Gestão Empresarial e Cadeira Logística, além de Agente Cultural e de Cidadania, com os projetos Novos Autores Literários e Mobilidade Automotiva para portadores de necessidades especiais. Elaborador e colaborador do Fontes da Ficção.
O livro é uma boa pedida para quem quer conhecer um conteúdo nacional de ficção científica, área ainda pouco explorada no território nacional. Para os fãs de Star Wars, Star Trek e afins, vocês podem encontrar elementos bem legais que todo bom fã de ficção científica gosta de apreciar. Aos que não são familiarizados com esse tipo de leitura, tenham uma boa fonte de consulta do lado, pois algumas explicações podem fugir (e muito) ao conhecimento comum.
Guardiões do Tempo é uma ótima leitura e vale muito a pena conhecer o universo criado pelo autor.
E eu adoraria ter uma máquina de aprendizado mental.
site: http://academialiterariadf.blogspot.com.br/2015/04/resenha-guardioes-do-tempo-nelson.html