Mr. Jonas 06/02/2018
Libertinagem
Libertinagem é um manifesto pela liberdade na poesia. Liberdade tanto na forma quanto no conteúdo. Bandeira viveu intensamente o período de transição entre os séculos XIX e XX, da passagem do tradicionalismo formal, parnasiano e simbolista, para o despojamento modernista. Em seu quarto livro, que é Libertinagem, a opção modernista se consolida.
Alguns dos poemas do livro são muito conhecidos e fazem parte de qualquer coletânea da poesia brasileira de todos os tempos. Isso porque Bandeira consegue unir o lirismo e o dia a dia de forma nunca vista. Os poemas têm desde recordações da infância, nas quais a idealização das origens apresenta certa evocação romântica, até o erotismo. Tudo muito bem dosado, em poemas curtos e precisos.
Nenhuma fase da vida humana é esquecida, a autor fala da infância, da descoberta do amor, da velhice e da morte. Tudo é tratado com lirismo e também com certo humor, muitas vezes. É possível acompanhar a trajetória do autor por meio de seus poemas, que, apesar de adquirirem com isso um tom biográfico, intimista e confessional, não resvalam para o sentimentalismo vulgar.
Podemos dizer que o livro transita de forma inteligente entre a vontade de ser livre, de pertencer ao mundo e um ideal cada vez mais intimista, que traz recordações de pessoas e paisagens da infância de forma muito explícita. É o mundo de um artista que queria viver muito, mas que, por motivos de saúde, teve a ameaça da morte sempre muito próxima.
A simplicidade, aliada à sutileza no uso da linguagem, faz com que Libertinagem nos apresente poemas eternos, já incorporados ao imaginário cultural e popular do brasileiro. Tais elementos fazem dele, senão o mais importante, um dos mais importantes livros de poesia do século XX.