PorEssasPáginas 21/07/2014
Resenha: A Fera Interior - Por Essas Páginas
Recebi esse livro gentilmente da Editora Vestígio há vários meses. Eu o solicitei após me deparar com algumas opiniões extremamente positivas sobre o livro, que me deixaram intrigada; a sinopse também é instigante, afinal, cinco homens assassinados e castrados e todo um caso envolvendo pedofilia? Tenso. Por meu desleixo, acabei lendo outros livros na frente dele e acabei pegando-o para ler só no final de abril. Final de abril. Terminei a leitura agora no começo de julho. São pouco mais de dois meses lendo um livro e, para mim, isso é muito tempo. Simplesmente esse livro não funcionou para mim; não conseguia ler e acabava lendo outros livros enquanto a leitura dele continuava emperrada. Estou até agora tentando entender o que aconteceu – no livro e na minha leitura dele. Aviso: essa resenha pode ser confusa e ligeiramente irritada, porque assim são meus sentimentos em relação a esse livro.
A Fera Interior começa como a maioria dos livros policiais que são uma série de um detetive: a apresentação do mesmo. O inspetor Simonsen é um homem inteligente, duro e teimoso até o último fio de cabelo; tem problemas de saúde, mas abusa, sendo constantemente reprimido pela filha. Quando finalmente está passando um tempo agradável com ela, é chamado pela polícia dinamarquesa para comandar e resolver um caso escabroso: cinco homens são assassinados. Seus corpos foram castrados e pendurados no teto de uma escola, enforcados e nus, em uma disposição no mínimo estranha – e muito sinistra. Simonsen junta sua equipe e começa a tentar resolver o caso, em meio a muitas intrigas, especulação da imprensa, opinião pública negativa e a ação por detrás dos panos dos assassinos, o que só complica ainda mais o que já estava complicado.
Ok, é uma ótima premissa, não? Para melhorar, há toda essa discussão em torno de pedofilia. Vou ter que contar isso, pode ser spoiler, então se você não quiser saber, tape os ouvidos, pule para o próximo parágrafo, porque lá vai: os homens assassinados são pedófilos. Isso muda um pouco sua visão do caso, certo? Bem, para mim muda – e para quase toda a opinião pública da Dinamarca, segundo o livro. A polícia, claro, tem que solucionar o caso – um assassinato é um assassinato, afinal, um crime hediondo, e os culpados devem ser punidos. Isso é óbvio. Mas a gente se compadece bem menos quando sabe que as vítimas cometeram esse tipo de atrocidade, não? Os assassinos se tornam… uma espécie de vingadores. É uma questão bem interessante, porque o leitor se vê encostado na parede: e a ética, e a moral? O que é certo ou errado?
Sim, isso foi uma ótima discussão que o livro propôs. A premissa do livro, o tema, a discussão que ele levantou são pontos fortíssimos. No entanto, detestei completamente a leitura, do começo ao fim. Como assim?! Bem, vou tentar explicar (e entender). Abaixo, um dos trechos que mais me irritou no livro:
“Deve falar devagar e dar instruções claras. É assim que elas respeitam você. E isso serve para todas as mulheres.” Página 412
Mas vamos lá. Primeiro: o livro não anda. Ele é travado, emperrado, a narrativa simplesmente não avança. É um texto intricado, complexo, denso demais, confuso ao extremo. É um texto que não cativa, não envolve, não instiga. Eu simplesmente não tinha vontade de virar as páginas. Cada vez que eu pegava o livro para ler era um martírio. Quando eu dava conta, não tinha captado nem metade da ideia do parágrafo, da página, do capítulo, e tinha que voltar atrás para entender. Depois de um tempo isso começou a me cansar e eu simplesmente desisti de ter esse trabalho; se não entendia, eu prosseguia mesmo assim, o que gerou uma bola de neve e, no final do livro, eu estava mais perdida que cachorro em dia de mudança. Se entendi 30% do livro foi muito. Então pode ser culpa minha, e não do livro, posso ser uma leitora obtusa, mas, para mim, há três palavras com C que resumem esse livro: ele é cansativo, confuso e chato.
O personagem principal, Simonsen, é enervante. Fiquei com tanta raiva dele – por ele ser um o cara que todos dizem ser inteligentíssimo, e por isso ele é incrivelmente arrogante, mas no fundo, não achei que ele fosse tão brilhante assim -, mas com tanta raiva, que me vi no final torcendo pelo assassino. Em nenhum instante os autores conseguiram me aproximar do personagem. Na realidade, de nenhum personagem. Nenhum deles é interessante – ou, pelo menos, os autores não conseguiram passar isso, cativar o leitor. Cheguei a confundi-los durante a leitura, ainda mais porque os capítulos são em diferentes pontos de vista, e os autores se perdem em descrições desnecessárias sobre lugares ou situações – situações essas muitas vezes pessoais (de alguns personagens), que não acrescentam absolutamente nada à história. Concordo: é preciso entrar sim na vida dos personagens, mostrar um pouco além da trama principal, para que o leitor se conecte a eles, mas é preciso também ser eficiente nesse momento; não dá pra ficar contando umas coisas que não têm nada a ver com nada, que não chegam nem perto de chamar atenção do leitor, e depois achar que isso é desenvolvimento de personagens.
“(…) e vou prendê-lo. Em algum momento vai cometer um erro, um simples e pequeno erro, e então vou pegar você. Estou no topo da cadeia alimentar e tenho muita, muita fome.” Página 424
Enfim, eu quase nem lembro de nenhum dos outros personagens do livro além de Simonsen e do assassino – que sim, eu lembro o nome, mas não vou falar, claro. Só isso já demonstra o quanto esses outros personagens foram interessantes.
Mas mesmo assim prossegui na leitura. Por quê? Porque acho injusto julgar um livro sem julgá-lo por inteiro, do começo ao fim. Vai que o livro melhora depois da página 100, 200? Ok, é um pouco tarde para melhorar, mas pode acontecer. Vai que o final é brilhante? No mínimo o livro pode ganhar mais uma estrelinha. Então eu segui até o fim. E o fim…
Bem, basta dizer que o final é decepcionante. É bem pouco criativo, tem uma cena super clichê, uma sequência de embrulhar o estômago (no mau sentido – e foi nessa que eu torci para o assassino e quis dar com uma machadinha no detetive) e termina totalmente sem graça. O final, ao invés de me dar alguma esperança, apenas removeu a última estrelinha que eu poderia dar e sepultou a história. Nunca mais leio um livro desses autores, juro. Sei que não é bom falar “nunca”, mas, no momento, é meu sentimento. E fiquei com trauma de livros escritos por irmãos/casais dinamarqueses. Tinha lido mais um antes, não foi desses autores, foi de outros e… também não foi legal. Sei lá. Vai ver é problema meu, vai ver tenho uma personalidade quente demais para esses dinamarqueses gélidos. Porque, acredito, é esse o maior pecado de A Fera Interior: ele não emociona, não envolve, não encanta. Ele nem mesmo impacta, como deveria um romance policial. Ele só é gelado.
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