Lina DC 21/05/2018"Jardins da Lua" é o primeiro livro da série "O livro Malazano dos Caídos" e irá trazer o universo do Império Malazano. Diferentemente de muitas séries que vão explicando aos poucos cada detalhe do universo criado, o autor Steven Erikson optou por pular as justificativas no texto e com isso, fazer com que o leitor preste atenção a cada mínimo detalhe para compreender a funcionalidade do Império Malazano. O livro é dividido em partes e possui vários protagonistas que darão perspectivas diferentes do governo, das terras e da sociedade.
A complexidade da história se dá pelo fato de que a trama trabalha com magia, deuses, soldados, criaturas sobrenaturais, espécies inéditas e soldados. Tudo isso envolvendo tramas políticas, reviravoltas, batalhas e revelações. O grande número de personagens também é outro fator que pode ser atribuído à complexidade do livro. São tantos personagens protagonistas (vários deles ganham seu espaço na história) que fica difícil descrever cada um deles.
"-... Nunca conceda facilmente o conhecimento que possui. Palavras são como moedas: vale a pena guardá-las." (p. 50)
O prólogo se passa no último ano do reinado do Imperador Kellanved e temos uma breve visão da cidade de Malaz, onde encontramos Ganoes Stabro Paran de apenas 12 anos de idade está admirando os soldados do Imperador. Filho de um nobre, tudo o que sonha é em se tornar um soldado. Mal sabe ele que nesse exato momento está observando em primeira mão a mudança de poder: a caída de Kellanved e a chegada de Surly, agora conhecida como Laseen (palavra napaniana para "mestre do trono") ao trono como Imperatriz.
"- Lá atrás, nas Sete Cidades, diz-se que a Primeira Espada do Império, o comandante de seus exércitos, Dassem Ultor, aceitou a oferta de um deus. O Encapuzado tornou Dassem seu Cavaleiro da Morte... Então, algo aconteceu, algo deu... errado. E Dassem renunciou a seu título; fez um voto de vingança contra o Encapuzado... contra o próprio Senhor da Morte. De uma só vez outros Ascendentes começaram a interferir, manipulando os acontecimentos. Tudo culminou com o assassinato de Dassem, depois o assassinato do imperador, e sangue nas ruas, templos em guerras, feitiços desencadeados." (p. 128)
O livro I se passa em Pale e se passa no sétimo ano do governo da imperatriz Laseen. O golpe dado por Laseen para conseguir o trono foi bem arquitetado, mas ainda há resquícios do antigo Império e ressentimentos que atravessam esse mundo e chegam até aos deuses. Pois é, existem alguns deuses que não estão felizes com o Império Malazano e irão dar um jeito de virar a moeda a seu favor.
E é nesse momento que conhecemos uma jovem, filha de pescador que terá seu livre arbítrio tirado ao se tornar um instrumento dos deuses. É aqui também que observamos o tenente Ganoes Paran, um jovem de 19 anos de idade, oficial credenciado a equipe da conselheira Lorn, a mão direita da Imperatriz.
Paran é um personagem que tem grande crescimento pessoal. Ao ver de perto as ações dos deuses, as manipulações do Império e como é um mero peão em um jogo tão grande, Paran começa a repensar sua vida e a tentar tomar o controle dela.
Lorn está em Ikto Kan para acompanhar a Campanha de Genabackis comandada pelo Alto Punho Dujek Umbraço. Na verdade, ela está a procura de alguém específico, alguém que pode arruinar os planos da Imperatriz. Dujek serviu ao antigo Imperador e é um homem respeitado por seus soldados. A lealdade deles é até mesmo maior do que sua lealdade para com a Imperatriz e isso torna-se um grande problema. A partir desse momento percebemos que a Imperatriz não tem tanto controle sobre o seu império como gostaria e que coincidentemente os soldados mais antigos e que foram importantes para o antigo Imperador estão sofrendo acidentes, morrendo ou desaparecendo. Dentro dos grupos de soldados, existe os Queimadores de Pontes (e aí teremos várias e várias páginas com eles protagonizando a história) que ao sofrerem uma tentativa de assassinato, acabam bolando um plano para sobreviver. Dentro desse grupo de soldados encontra-se Piedade, uma jovem fria e tão vil que assusta o pior dos assassinos. Sua história é complicada, mas seu papel é claramente fundamental. Temos também Tattersail, uma feiticeira poderosa que estará no meio desse jogo de poder e que irá pela primeira vez em muito tempo, agir de acordo com sua consciência e coração. Hairlock outro mago poderoso que vai ficando ambicioso e completamente fora de controle com o tempo.
Em paralelo a isso, temos a missão do Império: conquistar Darujhistan, a Cidade do Fogo Azul, a última das Cidades Livres de Genebakis, uma missão nada fácil. Dentro de Darujhistan iremos conhecer outros personagens como Kruppe, o jovem Crokus, o alto alquimista Baruk e a terrível Lady Simtal. Temos também a história de Anomander Rake e a Sociedade de Assassinos. Suas histórias estão entrelaçadas e irão tear a trama central de forma majestosa. Essa é parte II do livro.
"Paran não sabia mais quem era o maior traidor em tudo aquilo, se é que havia um traidor. Seria o Império apenas a imperatriz? Ou era alguma outra coisa, um legado, uma ambição, um objetivo distante de paz e riqueza para todos?" (p. 98)
Na parte III, chamada de A Missão é onde o leitor começa a ver os planos dos personagens se desenvolverem, a parte IV, chamada de Os assassinos é a continuação desses planos. O livro ainda conta com mais três partes: V, as colinas Gadrobi, VI a cidade do fogo azul e VII o festival.
É impossível falar de todos os personagens, mas não tem como não mencionar o sargento Whiskeyjack e todo o seu grupo de Queimadores de Pontes. Cada um deles possui uma habilidade única, um talento especial que torna essa equipe inestimável e talentosa.
A editora Arqueiro realizou um trabalho excepcional no livro. A contracapa apresenta os personagens, temos mapas, lista de personagens e um glossário no final do livro. O trabalho de revisão está impecável e a capa é simplesmente perfeita!
"- Toda decisão que você toma pode mudar o mundo. A melhor vida é aquela que os deuses não notam. Se quiser viver livre, garoto, viva sem fazer muito barulho." (p. 23)