Rodrigo 02/03/2022
Uma agulha no palheiro
O Buraco da Agulha foi o primeiro livro do mestre da ficção histórica Ken Follett, quando tinha apenas 27 anos. Em 2018, a Ed. Arqueiro resolveu lançar uma edição comemorativa de 40 anos, com uma capa lindíssima... só lamentei o tamanho da letra ter me forçado a ler no kindle, da primeira a última página.
A obra é uma clássica trama de espionagem ambientada na 2GM, que coloca em lados opostos um super espião alemão, codinome "Agulha" - um misto de assassino frio e solteirão solitário, perseguido por um professor inglês de história bonachão de 50 anos, Sr. Godliman, recrutado pela Scotland Yard por ter uma mente aguçada, capaz de pensar como o próprio alvo. O que está em jogo - o plano dos aliados em desembarcar na Normandia, sem que os alemães descubram, o que significaria adiar o fim da guerra indefinidamente.
Para tal, montam na Inglaterra o maior engodo de guerra já elaborado: uma cidade cenográfica com milhares de aviões e tanques de mentira, forçando os alemães ao entendimento de que a invasão se daria pelo norte da França. O problema é que o espião descobre tudo, e consegue tirar fotos desses aviões de madeira, a fim de enviá-las diretamente para a mesa de Hitler. A partir daí, começa o jogo de gato e rato, o alemão tentando chegar na Alemanha e o inglês no seu encalço.
Até a metade do livro, tudo se resumia à caça ao alemão, que, enquanto fugia, deixava um rastro de mortos pra trás. Até que, lá pelas tantas, um acontecimento fora do controle muda tudo e ele vai parar num lugar ermo, na casa de uma mulher casada, maravilhosa e mal amada, com quem se envolve sexualmente, fazendo-o repensar o seu modus operandi depois de tantos anos sozinho e tão próximo de concluir sua missão. As cenas quentes são bem escritas, não há quem não fique com os sentidos à flor da pele.
No ápice do livro, a gama de possibilidades aumenta de forma exponencial e na mesma proporção que a ansiedade do leitor. Até que vem o final hollywoodiano, que, para a minha frustração, deixou um pouco a desejar... achei que as escolhas feitas pelo autor não estavam à altura do enredo tão bem construído até ali.
Apesar de ser um ótimo thriller com cenas de ação de tirar o fôlego, não dava pro jovem Follett competir com os autores consagrados, numa época em que pipocavam romances de espionagem no meio editorial; mas ainda bem que ele então incluiu na sua linha literária os romances da época medieval, e eis que a humanidade ganhou a série "Os Pilares da Terra".