Julia G 09/01/2014A Agenda“– Melhor eu ir agora. – O surfista deu um beijo em Sandra e caminhou para o elevador.
Sandra acompanhou da sacada o surfista indo embora. Sentiu que seu ego havia sido jogado do edifício. O maldito roupão com âncora no peito foi deixado para trás em meio à correria. Para piorar, a peça estava impregnada com o cheiro dele.
Cerca de duas semanas depois, Sandra já estava com a agenda cheia de compromissos, sem parar para pensar em nada que não fosse interessante em termos de desenvolvimento pessoal e profissional.” (p. 35 - 36)
Sandra era uma executiva de marketing de uma grande empresa. Seu profissionalismo e sua eficiência eram reconhecidos por todos, o que fazia dela bastante respeitada. Sandra nem mesmo gostava de literatura e poesias; somente lia os livros “úteis”. E parte de tudo o que construiu era consequência da agenda, já que nela Sandra conseguia organizar todas as minúcias de seu dia a dia.
Mas enganado aquele que pensa que tudo eram flores na vida de Sandra. Se seu lado profissional era milimetricamente organizado, a vida pessoal em nada se assemelhava: sozinha depois dos quarenta e tendo como família apenas uma filha que morava em outro país e quase não mandava notícias, Sandra parecia perder o equilíbrio. E tudo se agravou quando Sandra perdeu a agência e, tempo depois, ela foi devolvida com rabiscos de outra pessoa.
João Varella colocou em A agenda elementos cotidianos que poderiam acontecer na vida de qualquer um. A história, até certo ponto, é rotineira, simples, o que pode torna-la sem graça para aqueles que esperam grandes emoções. Mas não é cansativa; os capítulos em geral são curtos, a linguagem é objetiva e tem um quê de ironia, além dos vários núcleos que, a princípio, parecem não ter qualquer relação, mas que fazem a trama ainda mais rápida.
Por outro lado, a objetividade impede o envolvimento com os personagens, o que influencia para um distanciamento com a história como um todo. Além disso, vale o aviso: citei que a história é cotidiana, mas isso não significa que todos que passassem por aquelas situações chegariam ao mesmo ponto, especialmente porque foi Sandra quem tomou as decisões que a levaram até lá. E, acreditem em mim, ela não é uma pessoa muito equilibrada.
Para mim, o problema de Sandra é querer levar sua vida da maneira mais racional o possível; até em seus envolvimentos amorosos não havia sentimentos. Contudo, tal conduta não faz dela imune. Sandra é carente de amor, de um homem, da filha... e é essa carência que a faz tomar decisões impensáveis que levam a um final fora do comum.
A agenda é um livro nacional curto e inteligente, mais semelhante a uma crônica do que a um romance, que pode agradar bastante os que curtem esse estilo de leitura.
site:
http://conjuntodaobra.blogspot.com.br/2014/01/a-agenda-joao-varella.html