Saleitura 09/05/2016
À Sombra da Lua, escrito pelo brasileiro Marcos DeBrito e publicado pela editora ROCCO, traz-nos uma nova história de lobisomens. Dessa vez, a narrativa possui um ar mais macabro e que leva o leitor para uma caminhada no meio de diversas teorias relacionadas a existência - ou não-existência - dos seres conhecidos por nós como lobisomens.
O livro conta a história da pequena Vila Socorro, que no ano 1920 passa por uma crise que promete levar o pequeno povoado à inexistência: Ataques cruéis deixam milhares de vítimas, e conforme o tempo vai passando e nenhuma atitude vai sendo tomada, a população começa a se revoltar e pedir por justiça.
No meio da confusão e do medo que se instauraram na vila, o romance ainda encontra uma forma de marcar seu lugar no coração de dois jovens que estão fadados ao amor proibido. Àlvaro, sobrevivente de uma tragédia que massacrou sua família; e Alana, a filha do rico médico local.
E partindo desses princípios, a história se desenrola e se transforma de maneira surpreendente para suas poucas 286 páginas.
Caso tenha lido a minha última resenha aqui pro Saleta de Leitura, eu falei lá que histórias que tratavam da licantropia não eram exatamente meu enfoque quando eu procurava algo para ler. Para ser mais sincera, eu costumo me desviar de tais enredos. Este livro, no entanto, por ser curto e de autoria brasileira, chamou minha atenção um pouco mais.
Quanto à narrativa, o autor me surpreendeu. Descreve as situações e os sentimentos de maneira poética e real, colocando o leitor na cena de maneira absurda. Nos momentos mais violentos e macabros, Marcos DeBrito conseguiu transmitir o horror e o desconforto muito bem, o que tornou tais cenas muito mais interessantes e palpáveis.
Como um livro de terror e suspense, À Sombra da Lua está de parabéns e superou em extremo minhas expectativas. Quanto ao romance e a construção de personagens, no entanto, há certas discussões que pretendo promover aqui.
O romance seguiu uma linha terrivelmente clichê: A mocinha indefesa, filha de pai rico, que se apaixona pelo menino durão, misterioso e pobre, mas que não pode viver sua história de amor porque seu pai espera que ela se case com o garoto perfeito: rico, belo, gentil e cavalheiro. E portanto, a mocinha e seu amor resolvem viver um romance proibido que acaba em sofrimento.
Se o autor me prendia em sua narrativa macabra, ele me entediava em seus momentos românticos. Sempre que eles chegavam, só faltava eu pular as páginas que tomavam e voltar ao que realmente me interessava. O amor entre os dois não me pareceu real, e o romance passou um ar estranho, de dependência que saía do nível saudável.
Outra coisa que me incomodou na história foi a construção de personagens. Nenhum deles conseguiu me conquistar, e apesar de que a premissa de muitos deles fosse perfeita, suas personalidades não foram bem desenvolvidas e deixaram um ar de "Ok, só mais um personagem. Nada demais". Os que deveriam me passar raiva, não conseguiam, e os que deveriam gerar compaixão, dificilmente geravam.
E por fim, tenho completa consciência de que na época em que o livro se passa, as mulheres não tinham lugar, e viviam à mercê do homem, sem voz ou poder de escolha. No entanto, acredito que o autor deveria ter se adaptado melhor às demandas da sociedade atual, e inserido em sua obra, se não uma personagem feminina forte - O que sera a melhor alternativa. Afinal as mulheres neste livro são ou extremamente delicadas, ou simplesmente invisíveis -, o autor poderia ao menos ter adicionado palavras e/ou sinais que expressassem sua discordância quanto ao machismo daquela época.
Mas pelo contrário, a narrativa fez parecer que o autor concordava com tal retratação feminina, e a forma como ele descreveu as mulheres, criando-as como criaturas de aparência perfeita, e irritante delicadeza, me frustrou em certos momentos.
Uma personagem em especial, a melhor amiga de Alana, me fez sentir que poderia ser algo a mais. Sua mente inteligente e estrategista, no entanto, foi usada na história simplesmente para descobrir como ter o homem de seus sonhos. E quando chegavam as cenas de real ação, ela simplesmente se tornava burra.
Sei que pela resenha fiz parecer que odiei o livro. Mas a verdade é que não. Foi uma experiência interessante, e que me fez sair da minha zona de conforto da maneira que eu definitivamente estava precisando.
E por isso, À Sombra da Lua merece, na minha opinião, 3,5 estrelas de 5. Se indico? Sim, em especial se se interessar por romance, tragédia, e se não se ofender facilmente no que se refere a assuntos que tratam de religião, de Deus e do diabo, de maneira um tanto quanto diferente.
Resenhado por Ana Carolina
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