Bárbara 03/06/2016Frio!O Clã dos Dragões, de Ilkka Auer, um escritor finlandês (sim, que diferente!) conta a história de Nonna e seu fiel companheiro, Fenris, um urso branco do gelo. Tudo começa quando seu povoado é atacado e destruído e ela se vê capturada pelo inimigo. Ao tentar escapar, ela descobre muitas revelações sobre seu passado e quem ela realmente é (uma menina muito especial, claro, como nossas protagonistas sempre são).
Durante a leitura, aventurando-me por reinos antigos congelados, florestas misteriosas cheias de gnomos, trolls, espíritos, fadas e montanhas habitadas por... dragões!, eu me senti como se estivesse ouvindo um conto nórdico diante da fogueira de um acampamento com o vento fustigando meus cabelos. A descrição dos cenários é perfeita e cada passo da nossa heroína na neve nos faz tremer de frio, mas não junto dela, porque Nonna tem uma afinidade especial com o gelo.
A mitologia por trás da história do livro foi muitíssimo bem pesquisada e construída, mesclando os mitos dos antigos reinos nórdicos e celta. Para mim, como uma leitora que não teve muito contato com esse assunto (porque mitologia nórdica é recente na coleção do Tio Rick Riordan e eu ainda não li porque me cansei dos livros dele), foi tudo muito surpreendente e instigante. Meu fraco por florestas cheias de mistérios também me ajudou a gostar ainda mais.
Contudo, todavia, entretanto, temos alguns defeitinhos em O Clã dos Dragões. Cenário perfeito, enredo perfeito, okay, mas a construção dos personagens e o envolvimento da trama deixaram um pouco a desejar. Primeiro, os diálogos, quando presentes, são bem fracos e vazios. As personagens se esforçam para serem cativantes, você as sente tentando, mas foram construídas de um modo muito plano e vazio, suas personalidades são pouco exploradas e isso acaba nos decepcionando, porque terminamos gostando delas e querendo nos sentir mais próximos, sem conseguir. Segundo, a junção dos capítulos é bastante fragmentada, mostrando vários pontos de vista dentro da história sob o olhar de personagens que só aparecem uma única vez e, embora aquele momento narrado seja importante, você se sente irritado por sua aleatoriedade aparente. Também, muitas decisões e ações de alguns personagens são incoerentes, sem base que as justifique ou dê razão e isso enfraquece a trama e desestimula o leitor.
Mas então por que eu gostei de O Clã dos Dragões? Pela história em si. Apesar de ela não ter sido bem contada pelo autor, ela por si mesma é muito divertida e emocionante. Quem não gosta de dragões, guerras, feiticeiras do gelo, fortificações antigas com masmorras misteriosas e uma aventura épica no meio de tudo isso? Pois é. Acho que o cenário e enredo fazem valer a pena o esforço de aguentar algumas falhas. Recomendo para quem ache que vai ter paciência para isso e goste muito de sentir um pouco de frio no meio de densas florestas congeladas à procura de dragões desaparecidos!