Pedaços da Fome

Pedaços da Fome Carolina Maria de Jesus




Resenhas - Pedaços da Fome


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Locimar 05/09/2020

minha escritora do coração, minha Carolina de Jesus e de tantos outros nomes.
"Há de existir alguém que lendo o que eu escrevo dirá… isto é mentira! Mas, as misérias são reais.” A fome é real! Hoje mais do que no tempo do Lula!
Carolina de Jesus
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Flavinha 06/11/2020

Carolina Maria de Jesus romancista brasileira
"Pedaços da fome" é um romance de ficção de Carolina Maria de Jesus, que, embora se trate de uma história inventada, é bastante real em relação ao retrato do Brasil do início da década de 1960. 

Sem reedição, "Pedaços da fome" está esgotado brasileira no mercado editorial brasileiro, tive que ler uma fotocópia mesmo. Sua única edição é de 1963, um ano antes do golpe militar que ajudou a silenciar a escritora negra brasileira que era conhecida internacionalmente por ser autora de "Quarto de despejo: diário de uma favelada".

Apesar da linguagem e da escrita ingênuas de Carolina levarem o leitor a um trabalho extra de completar as lacunas e de aceitar seu modo particular de escrita, a narrativa traz reflexões, na voz das personagens, acerda de questões sociais, políticas e culturais do Brasil que eram preocupações primordiais da própria escritora. Por meio dos diálogos e dos pensamentos das personagens podemos identificar várias denúncias de injustiças sociais, deixando uma marca da identidade da própria Carolina no texto e aproximando-o dos seus livros autobiográficos.

A protagonista de Carolina pertence a aristocracia e é uma mulher branca "igual a orquídea que não recebe os raios solares". Maria Clara, filha de um coronel, por um acaso infeliz do destino, acaba casando-se com um homem mentiroso, um falso dentista, que depois se revela miserável, de dinheiro e de espírito. Eles fogem do interior e vão para a capital paulista, como o marido não tem emprego, é um homem acomodado e sem nenhuma instrução, eles acabam indo viver em um cortiço, depois na rua e, enfim, numa favela. Durante 7 anos de casamento, eles têm 6 filhos, os quais ela sustenta sozinha com o próprio trabalho que é obrigada a aprender de doméstica, lavadeira, costureira, sempre explorada e mal-tratada pelos patrões.

A importância histórica deste romance reside no fato de ele ter sido o terceiro a ser publicado no Brasil por uma mulher negra, de acordo com a pesquisadora Fernanda Miranda, comprovando mais uma vez que Carolina era uma precursora da literatura brasileira. O primeiro romance foi "Úrsula" (1859), de Maria Firmina dos Reis e o segundo "Água Funda" (1946), de Ruth Guimarães.
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Maria 10/07/2023

"são paulo é um bolo que os paulistas preparam, mas não sabem comer. O bolo são as fabricas, as escolas e a possibilidade de evoluir-se”
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z..... 08/07/2019

Romance caracterizado por simplicidade narrativa e reflexão sobre determinada realidade social. Não poderia ser outra se não a de vivência da autora, a favela. Carolina transforma suas experiências e observações numa história em que o leitor adentra esse contexto, envolto por sensações, impactos e percepções que talvez sejam descobertas, em um meio ainda muito ignorado de suas verdades atrozes na época.

Em sua simplicidade, o texto apresenta certa ingenuidade nas personagens, marcadas por visão de mundo centrada apenas em seu meio, com ações desencontradas fora dele, como se as coisas se resumissem apenas no que conheciam, ignorando-se e não dando importância ao que vá além desses limites.

Dois contextos são apresentados. Inicialmente o da vida privilegiada por quem tem dinheiro, representada pela família do coronel Fagundes, que tem certa notoriedade em sua região, num canto do país pouco detalhado pela autora. Depois a pobreza, que se torna crescente em perdas, dificuldades, decepções e experiências cruelmente desumanas, sendo ápice a mudança para a favela, onde Carolina, tal qual em "Quarto de Despejo", apresenta as mazelas e facetas rotineiras através do protagonismo de Maria Clara, uma Fagundes que acaba vivendo história de Cinderela às avessas.

A obra pode parecer clichê, em seus desdobramentos ingênuos para justificar a história, mas acredito que o termo mais acertado é uma visão empírica. É observação da autora no que o mundo cotidiano lhe revelava. Coisas como: rico explorando o pobre nas oportunidades surgidas; preconceito contra aquilo que é desconhecido; o pobre se colocando numa posição derrotada ante situações de desesperança quando não tem ideal; e, logicamente, retrato cotidiano da favela nas faces de fome, abandono, tristeza, sofrimento...

A autora sutilmente instiga que existem conceitos além da realidade vivenciada. No mundo dos ricos, por exemplo, há acusação aos desfavorecidos, como se fossem culpados. "Vivem nesse meio e mesmo assim tem muitos filhos!", é uma delas, quando "do outro lado" não existe nem o que comer dignamente no dia, quanto mais o mínimo de educação (como planejamento familiar).
Da mesma forma no contexto da pobreza, imperam seduções recorrentes para práticas de vida direcionadas para coisas como: entrega à bebida, suicídio, violência, como se fossem inevitáveis. É aí que entra uma das abordagens corriqueiras de Carolina, que traz admiração como pessoa: é alguém que fala sempre de ideal - uma postura a buscar e cultivar, um caminho que vê ante as barreiras - é sua busca e valorização para a educação. "Quarto de despejo" traz essa proposta; em "Casa de Alvenaria" a parte mais interessante é a que fala que o homem tem que vestir ideal como roupa; seu livro "Provérbios" é uma ode a isso também; e agora nessa obra a mesma observância, como em sua postura ante o casal protagonista, quando diz que é um casal sem ideal.

História muito simples, imperativa para mensagem ideológica, sobretudo no pensamento do coronel quando reencontra a filha na favela, em que tece considerações similares a de políticos, mas nas proposições necessárias, não na descarada hipocrisia e inoperância. Certamente... Falou através dele Carolina, nas considerações e devaneios.

Não é uma história essencialmente romântica, é de aprendizagem (a duras penas) de uma realidade ignorada, através da vivência, quando Maria Clara, iludida por sua visão de mundo, faz uma transição mais que sofrida de seu castelo de sonhos para uma vida que a leva para a favela. Importante ressaltar que a favela retratada no livro tem as marcas de seu contexto de época.

Obra com muita ingenuidade no desenrolar, sem capítulos definidos (algo que não curti, entendendo na espontaneidade da autora), mas com certa beleza e força que seduzem, principalmente quando percebemos: vontade de revelar e trazer transformações.
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