Marinélia 23/02/2010
Encantador!!!
É meu primeiro contato com Mia Couto. E me senti arrebatada, olhando aquela chuva pasmada. Li em poucas horas, baixei da internet, mas sem ilustrações. Vou procurar o livro em papel, para vê-las. Achei lindo o trecho onde ele e a mãe conversam:
"Ela ficou olhando-me com ar indefinível. Seu rosto me cumprimentava, ela tomava o gosto de ser mãe e me ver ali filhando, pronto a tomar conta dela. Voz amaciada, retomou a palavra:
- A primeira vez que eu o vi, meu filho, você ainda não tinha nascido. Eu o vi numa gota de chuva.
Sim, ela me vira numa gota que escorria pelo vidro, como se tivesse intenção de fazer parte da casa. Minha mãe colheu essa gota na ponta do dedo e, depois,a semeou entre as pestanas. Nessa altura ela prometera:
- Na próxima tristeza hei-de chorar-te a ti, meu filho...
Eu não lhe saí do ventre. Mas da tristeza. Era por isso que aquela chuva, aquela chuva que não tombava, estava falando fundo em sua alma.
- E diz o quê, mãe?
- São segredos entre mulher e água.
E ali ficámos falando, como nunca havíamos conversado."