a chuva pasmada

a chuva pasmada Mia Couto




Resenhas - A Chuva Pasmada


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Marinélia 23/02/2010

Encantador!!!
É meu primeiro contato com Mia Couto. E me senti arrebatada, olhando aquela chuva pasmada. Li em poucas horas, baixei da internet, mas sem ilustrações. Vou procurar o livro em papel, para vê-las. Achei lindo o trecho onde ele e a mãe conversam:
"Ela ficou olhando-me com ar indefinível. Seu rosto me cumprimentava, ela tomava o gosto de ser mãe e me ver ali filhando, pronto a tomar conta dela. Voz amaciada, retomou a palavra:
- A primeira vez que eu o vi, meu filho, você ainda não tinha nascido. Eu o vi numa gota de chuva.
Sim, ela me vira numa gota que escorria pelo vidro, como se tivesse intenção de fazer parte da casa. Minha mãe colheu essa gota na ponta do dedo e, depois,a semeou entre as pestanas. Nessa altura ela prometera:
- Na próxima tristeza hei-de chorar-te a ti, meu filho...
Eu não lhe saí do ventre. Mas da tristeza. Era por isso que aquela chuva, aquela chuva que não tombava, estava falando fundo em sua alma.
- E diz o quê, mãe?
- São segredos entre mulher e água.
E ali ficámos falando, como nunca havíamos conversado."
Marta Skoober 26/07/2012minha estante
Muito doce sua resenha...




Carina 10/09/2013

Leitura pasmada
Raros são os livros de Mia que não são raros: peças únicas, compostas de prosa regada à poesia. O autor moçambicano consegue transitar por gêneros e assuntos diversos sempre com maestria, como se houvesse chegado à essência da palavra.

Em A chuva pasmada, a narrativa é, contudo, diferente de tudo o que autor produziu antes. Ou, ao menos, assim me pareceu. O enredo do livro só me parece compreensível para quem já molhou os pés no mar da cultura moçambicana. Aqui, a poética aparece extremamente vinculada à tradição do povo, ao apego por uma terra sofrida, contudo pátria.

Narrativa difícil, porém encantadora. Um Guimarães Rosa em terras africanas, Mia recria o verbo literário em um solo sem escrita, mas prenhe de poesia. Uma lição necessária: ponte entre culturas tão diversas e tão semelhantes, como a brasileira e a moçambicana.

Trechos:

"O amor não é a semente. O amor é o semear."

"Não é o morrer que é para sempre. O nascer que é para sempre."

"Como ele sempre dissera: o rio e o coração, o que os une? O rio nunca está feito, como não está o coração. Ambos são sempre nascentes, sempre nascendo. Ou como eu hoje escrevo: milagre é o rio não findar mais. Milagre é o coração começar sempre no peito de outra vida."
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Eliane Maria 14/05/2014

As necessidades básicas de um povo sofrido e apegado a sua terra, sonhos, segredos, preconceito racial ,dentre outras questões, são abordadas de uma forma poética por um narrador participante.
Até 50% do livro eu não estava conseguindo absolver muito bem os sentimentos. Pois nunca havia lido nada desse autor.
Mas depois que li o conto de A Confissão na Ponte Morta, me encantei com o livro.
Segui em frente, e ao término eu voltei para ler os 50% iniciais que eu não havia captado a mensagem.

“O amor não é semente. O amor é semear” Deixo essa frase do conto A Viagem do Avô – Mia Couto
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Robert 10/12/2015

“Olhei para o mais-velho e, num instante, o vi todo desaguado, ressequido como um deserto. Afinal, o pai tinha razão. O avô estava secando. Nele eu assistia à vida e seu destino: nascemos água, morremos terra”.

“Dou-lhe um conselho, filho. Nunca diga que uma mulher foi sua. Essas são coisas para nós, mulheres, dizermos. Só nós sabemos de quem somos. E nunca somos de ninguém”.

“Como ele sempre dissera: o rio e o coração, o que os une? O rio nunca está feito, como não está o coração. Ambos são sempre nascentes, sempre nascendo. Ou como eu hoje escrevo milagre é o rio não findar mais. Milagre é o coração começar sempre no peito de outra vida”.

“Pai nosso, cristais na terra...”
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Tecocesar 11/09/2017

Realismo fantástico?
Por um momento achei que estava diante do gênero típico de Gabriel Garcia Marquez, mas não!
A profundidade dos diálogos e a perspectiva de uma criança fazem da história uma viagem mágica.
Nunca curti poesia. Nunca sequer me senti atraído a lê-la, mas esse livro despertou meu interesse.
A versão que li (Kindle) começa com um poema de Pablo Neruda que já me deixou balançado. E o desenrolar do livro foi como uma poesia que fez sentido, algo até então nunca acontecido.
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Erich 11/07/2022

Chuva pasmada é uma história misturada com lenda. Tudo se inicia de uma premissa fantasiosa: cai uma chuva que não chega ao chão, fica suspensa no ar. E daí desenvolve-se a trama, e mostra-se as consequências de parar de chover.
A história começa a se desenvolver aos poucos mostrando outras histórias internas. De repente você percebe que os personagens são negros e que existe um contexto de uma sociedade racista na história. De repente você percebe que existe uma mistura de crenças, a crença nos ancestrais e nas religiões antigas, a crença no cristianismo. Esses elementos vão sendo introduzidos e trabalhados em meio à questão principal: 'como lidar com a chuva que não caí?'.
É uma bela e curta história que surpreende ao tratar de temas que a primeira vista não estariam ali.

Algumas frases que achei interessantes

"a única história com final feliz é aquela que não tem fim"

"Nunca diga que uma mulher foi sua. Essas são coisas para nós, mulheres, dizermos. Só nós sabemos de quem somos. E nunca somos de ninguém."

" por que não contou desde o princípio que, afinal, nunca esse outro lhe tocou?
- Para ele sofrer de ciúme! A vocês, homens, faz bem uma dor dessas. Vocês são fracos por falta de saber sofrer."
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