Flavio Assunção 23/12/2021Antes de mais nada, é importante explicar para os desavisados que não se trata, de fato, da biografia do professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, e sim de Allan Kardec, a partir do momento que o docente passa a adotar este pseudônimo. Isso pode ser frustrante para quem espera acontecimentos fora do círculo do espiritismo.
Na obra, não há fatos sobre a infância do professor Rivail, sua história com a esposa Amelie e outros momentos de sua vida. O livro já começa com seus primeiros passos na descoberta da doutrina espírita. Embora excelente entender como surgiu e como o espiritismo se tornou o que é hoje, é um balde de água fria não podermos saber mais sobre a história deste grande homem.
Como citei no início, talvez o autor possa argumentar que se trata da biografia realmente de Allan Kardec, ou seja, a partir do momento em que ele passa a adotar o pseudônimo. E não do professor Rivail, o sujeito antes de se tornar o célebre criador da doutrina. Mas isso é uma visão minha que poderia justificar a ausência dos elementos mais mundanos de sua vida.
Sobre a narrativa em si, a primeira metade é incrível e emocionante. Saber os métodos de Kardec, as acusações por quais passou ou os primeiros passos com a doutrina é muito instigante. Contudo, a segunda metade é um tanto cansativa, focando principalmente nos impostores e nos questionamentos de padres católicos. Acabou que ficou repetitivo. Bastava pegar um exemplo de cada situação que contextualizaria e dava uma ideia do que acontecia.
No mais, é um bom livro, principalmente por permear todo seu conteúdo com trechos dos livros espíritas, trechos de cartas da época ou artigos publicados em revista ou jornal. Você se sente dentro daquele universo e isso é muito interessante. Fica o lamento por não sabermos mais de Kardec, sobretudo antes dos 50 anos de idade, que é mais ou menos quando a obra inicia.