Psychobooks 22/07/2014
- Premissa e entendendo a escrita de Grisham
Vocês já estão acostumados comigo e sabem que gosta de sempre começar a resenha contando meu contato com o autor e como foi que cheguei ao livro. John Grisham foi desses autores que sempre estiveram ali, à mão, mas eu nunca me interessei verdadeiramente em ler algo. Por quê? Boa pergunta. Não sei.
O único livro que tinha lido até agora de Grisham era "A Casa Pintada". Um livro mais intimista onde o autor conta a história de uma família que vive às custas da colheita de algodão. O enredo corre em 1952, época de colheita. E tem a casa, que será pintada durante a narrativa. O narrador é um menino de 7 anos e sua perspectiva dos fatos é MARAVILHOSA. Mais uma vez: por que demorei tanto a ler outra obra dele?
Isso aí em cima acho que foi em 2003. Ou 2002. Muitos anos para ficar afastada de um autor que me encantou tanto. E chegamos a 2013 e então me aventurei novamente - aleluia! - em uma de suas obras. Dessa vez o tema central é um thriller investigativo, área que Grisham domina muito bem, obrigada.
"O Manipulador" conta a história de Malcom Bannister. Mal vive em uma prisão federal já há 5 anos, julgado e sentenciado por crime de colarinho branco. Com ainda 5 anos de pena para cumprir, conhecemos Mal revoltado com seu destino e ao mesmo tempo resignado com ele. Nada mais pode ser feito... Até que a oportunidade perfeita cai em seu colo. Um juiz federal foi assassinado e ele, por um acaso, tem todas as informações sobre o crime: quem cometeu e o motivo. Basta agora chamar a atenção dos federais e conseguir entrar no programa de proteção à testemunha.
E então, com a premissa montada, passamos à:
- Narrativa e desenrolar do enredo
Grisham é um autor de cliffhangers. Ele ADORA cliffhangers! Ela é aficionado por cliffhangers:
Cliffhanger, na tradução literal para a língua portuguesa “à beira do precipício”, ou “à beira do abismo”, é um recurso de roteiro utilizado em ficção, que se caracteriza pela exposição do personagem a uma situação limite, precária, tal como um dilema ou o confronto com uma revelação surpreendente. Geralmente, o cliffhanger é utilizado para prender a atenção da audiência e, em casos de séries ou seriados, fazê-la retornar ao filme, na expectativa de testemunhar a conclusão dos acontecimentos.
Cada capítulo de seu livro é finalizado com alguma coisa prestes a ser revelada para então, tomarmos um banho de água gelada no início do próximo e começarmos uma nova história, do zero. Assim é sua escrita. Ao mesmo tempo que isso é irritante, é também instigante. É um artifício que não visa apenas deixar o leitor curioso para a continuação da história; seu objetivo é fornecer, por meio das entrelinhas, pistas substanciais para o desenrolar da história.
Sua escrita é um grande quebra-cabeças. Tudo se encaixa. Mas não à primeira vista. Cada peça de informação é essencial à sua história, mas só enxergamos "o grande quadro", quando ele verdadeiramente se apresenta.
A narrativa é feita em duas linhas. De início conhecemos a história em primeira pessoa, sob a perspectiva de Malcom. A narrativa em primeira pessoa dá ao leitor uma maior intimidade com o personagem e é exatamente esse o objetivo do autor. Grisham quer que conhecemos desde o início as engrenagens que movem Malcom, quais são seus anseios e o que ele busca VERDADEIRAMENTE, essa é a chave do enredo.
Numa segunda linha narrativa, temos a visão em terceira pessoa, e essa, pessoal, pode ser sob qualquer perspectiva. Qualquer. Basta que ela dê sentido para o desenrolar da trama. Sob a perspectiva em terceira pessoa, podem aguardar Grisham abordando todas as linhas possíveis dos outros personagens. A visão é ampla e completa. Mas mais impessoal, porque o objetivo de Grisham é que nossa empatia fique alocada apenas com Malcom.
- A história e seus meandros
Trata-se de um thriller investigativo e por isso, o peso de minha avaliação decaiu em quatro questões:
1) Atenção: A história está me prendendo?
2) Verossimilhança: É um thriller investigativo que tem como foco recursos e brigas em tribunais. Estou sendo convencida?
3) Pontas soltas e explicações: Ficaram pontas soltas? As explicações foram dadas satifatoriamente?
4) Finalização "UAU!": O final do livro me surpreendeu?
Lista verificada com sucesso. Todos os itens satisfatóriamente cobertos.
- Vale a pena, Alba?
Muito! Muito MESMO!
Não passarei mais tanto tempo deixando Grisham abandonado! Não vejo a hora de ler outra obra dele, e vocês deveriam fazer o mesmo!
Super-recomendo!
"O julgamento foi um espetáculo, uma farsa, uma maneira ridícula de procurar a verdade. Mas, como pude perceber, a verdade não era importante. Talvez em outros tempos um julgamento fosse um exercício de apresentação dos fatos, a busca pela verdade e a descoberta da justiça. Hoje um julgamento é um concurso em que um lado vencerá e o outro perderá. Cada lado espera que o outro se curve às regras ou trapaceie, então nenhum lado faz um jogo justo. A verdade se perde na disputa."
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