Três amigas, todos os domingos

Três amigas, todos os domingos Edward Kelsey Moore




Resenhas - Três amigas, todos os domingos


3 encontrados | exibindo 1 a 3


Zilda Peixoto 26/03/2014

Três amigas, todos os domingos
Não foi a toa que Três Amigas, Todos os Domingos ficou por sete meses consecutivos como um dos livros mais lidos na Amazon. Três Amigas, Todos os Domingos é um livro especial, com uma linguagem simples e profundamente delicada. Em toda sua singularidade, Edward Kelsey Moore estreia com o pé direito seu primeiro romance.

O fato é que não importa se o escritor é iniciante ou se já possui várias obras publicadas. O que realmente importa e faz com que o escritor obtenha sucesso com sua obra é a maneira como ele a constrói. Nota-se que o autor foi cuidadoso na elaboração e construção dos personagens. O enredo é excelente. Nele o autor ainda abordou o racismo existente na década de 50 nos Estados Unidos de forma sutil, porém esclarecedora.

O livro conta a história de três amigas que se encontram todos os domingos no restaurante de Earl, o Coma-de Tudo. É lá que Odette, Clarice e Barbara Jean se reúnem para fofocar e colocar os assuntos em dia. O restaurante é como um segundo lar para elas. O local representa a união dessas três amigas que estão juntas aproximadamente há quatro décadas.

Foi no verão de 67 que as três ficaram conhecidas como as Supremes. Odette era uma espécie de líder do grupo. Odette é uma mulher forte, com um temperamento explosivo e que possui a fama de destemida. Isso se deve ao fato de que sua mãe dera luz à Odette em um sicômoro. Odette era definitivamente uma mulher forte e destemida. É casada com James, um homem íntegro, e mãe de três filhos: Jimmy, Eric e Denise. Não fora apenas a aparência física que Odette herdara de sua mãe, Dora Jackson. Assim como a mãe, Odette via fantasmas por toda a parte, mas guardava segredo a respeito, pois não gostaria de ter a fama de louca como sua mãe tivera quando ainda estava viva.

Odette recebia frequentes visitas da mãe e de outro fantasma inusitado, a Sra. Eleanor Roosevelt. Ela mesma, a primeira-dama dos Estados Unidos, esposa do presidente Franklin Delano Roosevelt. Eleanor estava sempre bêbada e cabia a mãe de Odette aturar seus pilequinhos. Outros fantasmas também dão as caras como, por exemplo, Jackie Onassis. No meio de toda essa confusão Odette tenta manter-se lúcida, se é que isso é possível. Das Supremes era Odette quem mantinha o equilíbrio emocional do grupo.

Clarice Jordan Baker foi à primeira criança negra a nascer no University Hospital. O fato foi noticiado em todos os jornais da época e o evento foi rememorado diversas vezes por sua mãe, Beatrice Jordan. Na época Beatrice trabalhava como auxiliar de enfermagem no hospital e decidira que Clarice não nasceria num hospital para negros. Clarice é casada com Richmond Baker, um ex-jogador de futebol muito mulherengo e que continua a lhe trair e se comportar como um garotão após tantos anos de convivência. Clarice é traída e tem conhecimento de toda a traição, mas prefere fazer vista grossa em relação ao comportamento do marido porque Richmond sempre fora um excelente pai e marido dentro das possibilidades. Clarice abandonara o sonho de ser uma grande musicista para casar-se com Richmond, mas não abandonara o piano, seu companheiro fiel durante as noites em que passava sozinha. Apesar de tudo, Clarice não conseguia se imaginar longe do marido e, assim como muitas mulheres, ela tentava manter seu casamento imune às suas traições.

Das Supremes era Barbara Jean a mais infeliz, apesar de ser a mais bela do grupo. Barbara Jean fora desde jovem a mais cobiçada da escola e mesmo após tantos anos ela manterá seu posto.
Barbara Jean sofrera com a mãe alcoólatra e com o padrasto asqueroso que fora responsável por criá-la após a morte de sua mãe. Desde muito cedo sua mãe lhe ensinara valores bem deturpados e tentava incutir em sua mente um único objetivo: que Barbara Jean deveria se casar com um homem muito rico. E fora exatamente isto que acontecera. Barbara Jean casou-se com Lester Maxberry, um rico empresário muito mais velho. Ela herdara o alcoolismo da mãe assim como Odette herdara o dom de ver fantasmas de sua mãe, porém Barbara não souber lidar muito bem com seu problema.

Das três a única que não enfrentava problemas no casamento era Odette, já que James era um homem muito apaixonado por sua mulher. Juntos há mais de três décadas o casal se mantinha apaixonado e sustentava a relação à base de muita confiança e cumplicidade. Porém, o destino também pregara uma peça em Odette. Era a hora de ela provar que não temia absolutamente nada.

O enredo de Edward é majestoso em toda sua totalidade. A história possui muitos personagens e ainda sim, todos foram muito bem construídos e inseridos dentro da narrativa. Apesar de o livro focar a história das três amigas podemos ampliar a narrativa a todos os demais personagens já que as histórias são interligadas.
Os capítulos se alternam entre a 1ª pessoa, narrada pela voz de Odette e, nos demais ela é narrada em 3ª pessoa, onde são apresentados o cotidiano das personagens Clarice e Barbara Jean.

A narrativa de Edward é primorosa em detalhes. O autor inclui elementos importantes característicos da época retratada no livro. Sabemos que na década de 50 os Estados Unidos vivia uma segregação racial. Os brancos não se misturavam aos negros. Tudo era separado. Os negros não frequentavam as mesmas escolas, igrejas e hospitais do que os brancos e, isso é exposto por Edward. Apesar de o fato ser incluído dentro da narrativa, o autor não usou sua obra como um apelo político. Por esse motivo, sua leitura fora tão prazerosa e esclarecedora.
Entre tantos elementos que se destacam ao longo da narrativa a segregação religiosa entre os próprios negros foi um dos pontos que merecem mais destaques. Odette, Clarice e Barbara Jean são de congregações diferentes. Odette e James frequentam a igrejinha rural da cidade, a Holy Family Baptist. Já Barbara Jean e Lester Maxberry frequentavam a grande First Baptist, a igreja dos ricos e, Clarice e Richmond eram da igreja Calvary Baptist, a mais próxima do restaurante de Earl e por isso eram sempre os primeiros a chegar aos encontros que reuniam todos os domingos as Supremes.

Três Amigas, Todos os Domingos não é o tipo de livro que deva ser lido de uma única vez. Sua leitura deve ser pausada, abstraída aos poucos para que o leitor possa tirar proveito de toda sua extensão. É aquele tipo de leitura que tem o intuito de lhe ensinar algo, que tem o objetivo de transformar algo dentro de você. Aprendemos sobre a cultura da época, como as mulheres deveriam se comportar, como a questão racial fora preponderante para a formação cultural e intelectual da época.

O livro de Edward Kelsey Moore é uma obra memorável. Suas aptidões como violoncelista e professor universitário provavelmente colaboraram para a construção de personagens como Clarice e Odette.
A sabedoria de Odette e seu ímpeto de justiça são comoventes e merecem aplausos. Assim como a história de vida de personagens como Barbara Jean e Chick, ambos maltratados pela vida ao longo dos anos.

Edward soube moldar seus personagens de acordo com o perfil psicológico de cada um, equilibrando suas imperfeições ao longo da narrativa. Três Amigas, Todos os Domingos é um livro repleto de emoções fortes que faz o leitor vivenciar todas ao mesmo tempo. É triste quando tem de ser e engraçado ao extremo quando se faz necessário. Cabe a Dora Jackson, a mãe de Odette e, a própria Odette vários discursos hilariantes. O humor ácido e o vocabulário recomendado para maiores de 18 anos são outros elementos que se destacam em sua narrativa.

Apesar de o foco narrativo ser a história de amizade entre as três amigas, o autor utilizou-se dessa premissa para construir histórias paralelas que constituem a formação desse trio. Ao longo da narrativa vamos acompanhando uma trajetória de amor, amizade e cumplicidade que une essas três mulheres. Conhecemos a história de cada uma, desde o primeiro contato até os dias atuais, de situações corriqueiras a acontecimentos desastrosos capazes de arrancar lágrimas de qualquer leitor.

O grande barato disso tudo é ter a certeza de que cada momento dedicado à leitura não foi em vão. Acredito que, muitos não imaginam o que este livro pode oferecer. A capa do livro, por exemplo, não chama a atenção, não é expressiva a ponto de dizer: Nooossa! Esse livro deve ser lindo! Mas aí vai aquele velho ditado: Quem vê cara, não vê coração. Você só tomará conhecimento e compreenderá a capa em si após a leitura do livro, pois identificará elementos importantes da narrativa. Particularmente gosto dessa simplicidade. A capa do livro traduz um ar meio bucólico da época retratada. Seria na verdade, a representação simbólica da pequena cidade de Plainview.

Em suma, gostaria de indicar a leitura de Três Amigas, Todos os Domingos a todos os leitores. É uma viagem ao tempo, um convite a todos que desejam conhecer um pouco mais sobre a cultura da época e claro, um convite a todos que curtam histórias bem escritas e elaboradas com muito amor.

site: http://www.cacholaliteraria.com.br/2014/03/resenha-tres-amigas-todos-os-domingos.html
Têca Fa 15/10/2017minha estante
Que resenha maravilhosa! Acabei de ler o ler o livro e estou em êxtase ainda! Que história belíssima, com certeza se tornou o meu livro favorito!




Izy 13/03/2022

P-E-R-F-E-I-Ç-Ã-O
A forma que o desenrolar do livro se mostra, aos poucos. O autor consegue manter a personalidade de cada um dos personagens de forma única, e desenvolvendo o passado junto com o presente de forma que mesmo que a gente saiba de tudo, a gente consiga ficar de cara no chão.

Todo o decorrer do livro é levado de forma leve, o que faz que a gente se sinta acolhido e dê boa gargalhadas, em contra partida com as situações que fazem a gente passar raiva. Sinceramente perfeita.

Amei, recomendo, merecia mais, muito mais, e vou panfletar até o fim.
comentários(0)comente



ritita 18/10/2019

Excelente para quem gosta de um livro leve
O violoncelista Edward Kelsey Moore não esperava muito de seu primeiro romance, queria apenas grana para trocar os pneus do seu carro e vender o livro na carroceria. Pois bem, acabou estreando em 15º dos mais vendidos no New York Times.

Foi no verão de 1967 que Odette, Clarice e Barbara Jean se tornaram as Supremes e, mesmo após pouco mais de quatro décadas, elas, além de compartilharem uma linda e verdadeira amizade, mantiveram o hábito de se reunir no famoso restaurante do Earl, o Coma-de-Tudo.

Clarice luta para manter as aparências diante das puladas de cerca do marido, coisa que toda a cidade é conhecedora.

Odette nasceu em cima duma árvore, é a mais forte do trio, e por sua sinceridade desmedida arranca as maiores risadas do livro.

Barbara Jean é filha de uma stripper que morreu de tanto beber e é a mulher mais linda e rica da cidade

Ao longo de casamentos, alegrias e tristezas, estas mulheres fortes e engraçadas se reúnem todos os domingos à mesma mesa no restaurante do Earl para apreciar pratos deliciosos, fofocas saborosas, lágrimas ocasionais, mas também conversas muito divertidas.

Suas histórias estão entrelaçadas e são uma montanha-russa. Entre reviravoltas, visitinhas do além (inclusive Eleanor Roosevelt, que no outro mundo vivia de pileque), confidências, flertes, longas conversas, tragédias, doenças e altas gargalhadas, acompanhamos essas três melhores amigas em uma jornada de aprendizado e renascimento: a vida como ela é.
As questões raciais são narradas de forma simples e sutil.

Com a simplicidade enganosa de um bom escritor, Moore faz com que todos circulem e voltem sempre ao Coma-de-Tudo, onde ele recria acontecimentos, sons e aromas, concebendo sua história com verve e inteligência. É a celebração da amizade verdadeira e um convite aos leitores a lembrar das mulheres generosas e destemidas que passaram por suas vidas.

Confesso que não sou apreciadora de piadas prontas, mas o autor levou-me às lágrimas de tanto rir em um momento de grande sofrimento de uma das personagens. É possível? Sim, só lendo para saber e gargalhar (não aconselho a ler em espaços públicos, ou à noite se dormir acompanhada).

A narrativa é fluida, e o livro lembrou-me muito um outro – A Resposta (Kathrym Stockett)
comentários(0)comente



3 encontrados | exibindo 1 a 3


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR