Jota Silvestre 11/12/2013
Piteco – Ingá: Bob Marley e Mad Max em perfeita harmonia
O último volume da primeira fase da série Graphic MSP foi lançado no mês passado durante o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) e está chegando às bancas de todo o Brasil.
Um dos grandes trunfos desta coleção é permitir aos autores imprimir sua visão pessoal sobre o enorme manancial de personagens criados por Mauricio de Sousa.
Em Piteco – Ingá não é diferente. O paraibano Shiko insere elementos da cultura nordestina numa aventura do tempo das cavernas. O próprio título faz referência à Pedra do Ingá, no agreste paraibano, em que constam inscrições datadas de cinco mil anos.
Mas a obra é muito mais que isso. Assim como os outros autores das Graphic MSP (Danilo Beyruth, Vitor e Lu Cafaggi, e Gustavo Duarte), Shiko resgata a mitologia dos personagens para criar um universo novo, adulto.
Na trama, a tribo de Lem, da qual fazem parte os protagonistas Piteco, Thuga, Beleléu e Ogra, precisa mover a aldeia em busca de uma nova área fértil, já que o rio próximo secou. Na véspera da partida, Thuga é sequestrada pelos Homens-Tigre, e seus amigos partem para o resgate. No caminho, enfrentam perigos e encontram divindades do folclore brasileiro.
Por tomar como ponto de partida as inscrições da Pedra do Ingá, a palavra e os símbolos têm grande relevância na história criada por Shiko: escrituras grafadas no leito seco preveem a partida da tribo; cânticos evocam espíritos da floresta; amuletos têm poder.
A própria trama carrega seus simbolismos: o êxodo de Lem remete aos retirantes da seca nordestina; tanto quanto a necessidade, é a fé – materializada em antigas escrituras – que move aquela gente; é o desprendimento de Thuga, convertida numa xamã, que promove a reunião de povos apartados há gerações; a mesma personagem fala a Piteco sobre o amor carnal por meio de belas metáforas.
Shiko arrasa na caracterização dos personagens (veja aqui o preview). Piteco é viril sem ser musculoso; Thuga é sensual, mesmo fugindo do padrão anoréxico de beleza; Ogra é a própria visão da mulher-guerreira na melhor tradição de Edgar Rice Burroughs.
Os drealocks usados pelo povo de Lem e o estilo de suas roupas conferem um visual que mistura cultura rastafári com futuro pós-apocalíptico. É Bob Marley e Mad Max em perfeita harmonia.
Assim como os volumes anteriores de Graphic MSP, Piteco – Ingá é uma obra-prima, leitura obrigatória e uma das melhores HQs do ano. O livro tem 80 páginas, capa e miolo coloridos, e duas opções de preço: R$ 19,90 (capa cartonada) e R$ 29,90 (capa dura). Vale muito o investimento.
site: http://revistaogrito.ne10.uol.com.br/papodequadrinho/2013/12/09/critica-piteco-inga-bob-marley-e-mad-max-em-perfeita-harmonia/