Felipe Miranda 24/11/2013
Maravilhoso!
Diferente de todas as minhas experiências literárias, Benjamin Percy ganhou um lugar especial na minha estante. O lugar onde ficam os livros que ganharão sequências e que, além de estar feliz por isso, mal posso esperar para lê-las.
Patrick Gamble está abandonando tudo que o faz sentir-se alguém, a Califórnia, os amigos, o colégio, o pai, e está indo passar doze meses com sua mãe, com qual não cultiva nenhuma espécie de intimidade, ela é uma estranha e sua nova cama confortável como um caixão. Seu pai fora convocado para uma missão de doze meses, sua unidade fora reativada e ele irá lutar em uma guerra. Uma guerra contra os licanos.
Posso comparar os licanos a lobisomens, mas prefiro que o preconceito não invadam suas mentes, esse livro reforçou a ideia de que nem todos os livros que envolvam lobos são toscos, previsíveis, ou que não há nada novo a ser explorado a respeito. Essa era minha opinião sobre, e estou feliz em afirmar que foi devidamente lapidada. Os licanos são resultado de uma espécie de vírus, o lobos, que provoca mutações genéticas anormais nos infectados. A estória é ambientada em uma realidade onde licanos e seres humanos convivem em parcial harmonia, os licanos registrados são obrigados a tomarem um coquetel químico que controla as transformações e contém os impulsos selvagens sob controle. Muitos veem isso como uma negação de sí mesmos, como é de se esperar, eles não são vistos com bons olhos e o preconceito cresce cada vez mais, quando a descriminação se torna insuportável, e emendas que reconhecem o lobos como uma ameaça a segurança pública e a saúde, entre outras reduções de direitos básicos, uma guerra explode e a lua será banhada a sangue.
“A máquina da morte. Patrick não sabe ao certo o que o sargento quis dizer com isso. Se estava se referindo aos Fuzileiros Navais ou ás Forças Armadas. Á base ou á República. Ou quem sabe a vida. Talvez a máquina da morte fosse a vida, um grande pesadelo de engrenagens potentes e dentes cortantes como os de uma serra elétrica que nunca para de destroçar corpos.” Trecho da página 229
Claire cursa o último ano do ensino médio e planeja uma fuga de tudo que constitui a sua vida, ela anseia por algo mais, por qualquer aventura que ela sabe que jamais encontrará na aldeia fria e cercada de árvores em que vive. Ela é uma licana e acaba de conseguir a fuga que tanto quis, sua casa foi invadida e seus pais foram mortos. Ela escapou por pouco e precisa encontrar uma forma de sobreviver pois está sendo caçada. Furgões blindados e sedãs pretos com placa do governo rondam as ruas com faróis apagados. O motivo? Uma célula terrorista de licanos foi considerada responsável por uma série de atentados a aviões de todo o país. Agora, todo e qualquer licano pagará por uma parcela de rebeldes sem controle. Centenas de pessoas foram mortas e o presidente garantiu reação rápida e severa. Patrick Gamble estava no voo e sobreviveu, não por ter sido corajoso e enfrentado o licano responsável pelo massacre, mas por que escondera-se debaixo de um cadáver e se fingira de morto. Isso não é algo para ser narrado e revivido, é algo para se esquecer, mas não será tão simples assim quando se é conhecido como o Menino Milagre, o voo 373 jamais sairá de sua mente.
“De repente tudo parece se resumir ao número dois: os dois dedos, os dois vídeos, os dois nomes pelos quais ela é conhecida, o sol e a lua, os infectados e os não infectados, os Estados Unidos e a República, o presidente e seu adversário, Matthew e Patrick, Reprobus e Miriam. Claire sente que está partida ao meio – o mundo inteiro está.” Trecho da página 313
O governador Chase Williams é um livro aberto, ele frequenta boates de striptease, atira pipocas em partidas de basquete e anda depressa demais em seu barco com duas loiras de biquíni sempre a postos. Os jornalistas o amam e ele não liga, não se importa, ele é independente e isso o faz gente da gente, ele é adorado por todos e seu mandato é considerado estável até que ataques licanos se tornam frequentes e atitudes pedem para serem tomadas. A promessa de uma vacina é cobrada intensamente pela imprensa. A guerra pode ser um ponto negativo para seu mandato, ele contará com o auxílio de Augustus ou Búfalo, para manter tudo sob controle. O que ele não esperava é ser atacado e infectado por um licano e tornar-se aquilo que tanto se empenha para dizimar. Chase funciona como o típico personagem que de tanto ser “errado” acaba sendo o personagem mais certo na estória, o trunfo.
Claire descobrirá que manter-se viva na atual situação pode ser mais difícil do que parece, sua tia, Miriam, pode ser a provável segurança garantida mas ela tem seus próprios problemas. Patrick conhecerá a fundo o ódio que as pessoas nutrem pelos licanos e como é difícil resistir a uma bela garota, confiar em qualquer pessoa, decepcionar-se e sofrer as consequências de seus atos mesmo que passivos. Os caminhos de ambos se cruzarão durante toda a narrativa, em terceira pessoa, que é dividida em três partes, uma melhor que a outra, isso posso garantir. A escrita de Percy tem um quê sombrio e nostálgico que vicia, te enlaça e transmite exatamente o clima que uma guerra deve ter. Que cada passagem deve ter. É um enredo que cresce surpreendentemente a cada capítulo, repleto de diálogos inteligentes e situações inesperadas. Personagens como Miriam, que me ganhou completamente durante cada segundo de sua narrativa e me fez torcer por uma reviravolta, Sra. Strawhacker, com suas previsões a respeito do futuro que são um tanto assustadoras, Reprobus, com seus discursos inflamados , Jeremy Saber, com sua coragem, e Puck com seu caráter escroto e atitudes repugnantes, são personagens que deram um toque especial ao enredo, deram sustância, pilares fortes que mantiveram a estória firme.
O governo planeja a ocupação da República Lupina, a Resistência comandada por Balor, planeja cada vez mais atos terroristas para ter nas mãos o sistema que os oprime, e um Território Fantasma está cada vez mais real. Os licanos inocentes, não envolvidos na guerra são prejudicados da mesma forma e as torturas que acontecem sem o conhecimento das massas são inumanas, para ambas as partes envolvidas... A possibilidade de uma vacina está cada vez mais próxima mas um atentado pode interferir em qualquer rumo que as coisas estivessem tomando, assim como a identidade licana secreta do governador do estado. O desfecho é torturante, como o leitor pode aguentar pelo lançamento da sequência? É o cúmulo da injustiça. Lua Vermelha é maravilhoso.
Leia a resenha no Omd> http://www.ohmydogestolcombigods.com/2013/11/resenha-lua-vermelha-benjamin-percy.html