Carous 11/09/2021Deu pra passar as horasEste livro me parecia muito mais tentador na prateleira do sebo. E muito mais interessante numa tarde de junho quando o peguei pra ler da minha estante, ignorando todas minhas leituras em andamento.
Não vou mentir e dizer que amei o livro. Até algumas páginas além da metade dele, eu sentia que ele ia de nada a lugar nenhum e tinha desperdiçado a interessante premissa. Isso porque achei o livro pouco dinâmico (apesar de Lily pegar um avião de Nova Iorque para a Toscana) e a narrativa lenta.
E é uma pena; os primeiros capítulos após a revelação da segunda família do marido de Lily me passaram outra impressão - a impressão de que este livro prometia bastante.
Mas Lily é uma personagem muito apática. Ela é uma mulher conformada com a vida que tem, embora não esteja nem satisfeita nem feliz - e não falo dos abortos que teve. Perder tantos filhos tirou o brilho pela vida e por isso ela me pareceu tão... enfadonha.
Lily me lembra muito as Helenas das novelas de Manoel Carlos: elegantes, frígidas. Completamente alheias à bomba prestes a explodir na cara delas até que ela explode. E resolvem isso de um jeito que só posso descrever é o retrato da elite da zona sul do Rio de Janeiro (ou o equivalente a cidade que você mora, mas eu sou carioca).
O mundo está desabando na cabeça dela, mas o principal é manter as aparências e resolver tudo na maior discrição. É como os outros personagens dos núcleos ricos das novelas do autor se comportam também diante dos problemas. Deixe os barracos para os pobres! Não importa o nível da situação. Classe e fineza acima de tudo.
De fato, este livro me passou uma sensação das novelas de Manoel Carlos. Até a carga de coisas que ocorrem com a protagonista parece coisa retirada da mente do Maneco.
Acredito que a autora escolheu os melhores adjetivos para descrever a protagonista fisicamente. Apesar disso, tenho certeza de que ela não passa de uma mulher extremamente magra e seca, com aparência de doente. A personagem tem sérios problemas com alimentação. Fiquei um pouco incomodada com isso.
Ela não sente prazer em comer, faz isso para sobreviver. Os comentários de Lily sobre a culinária italiana e sobre as mulheres italianas, sobre a comida no geral - sempre preocupada com os carboidratos, a gordura, as calorias, se são orgânicas, se está cedo para comer, se está tarde demais para experimentar carne vermelha, glúten, onde e como foi colhido os ingredientes. - me fizeram pensar que talvez a personagem tem alguma desordem alimentar.
Porém, ela deveria se preocupar mais com a quantidade de álcool que consome. Vinho pode não embebedar tão rapidamente - nem causar uma ressaca tão ruim - mas beber sozinhas 3 garrafas por dias é um alerta.
Bom, o livro não deixa dúvidas de que Lily precisa de terapia. Não é por ela se sentir triste por não ter filhos, é a reação dela quando vê um bebê ou ouve choro de criança. Até perto de adolescentes ela tem uma reação meio... bizarra. Toda vez que o narrador comentava da reação dela perto de filhos das pessoas, eu sentia que em algum momento ela incorporaria a Nazaré Tedesco ou teria um surto. Eu só conseguia pensar: "Meu Deus, vai se tratar!"
Demorei para simpatizar com as Cerzideiras Viúvas. Estranhei alguns adjetivos que a autora colocou para descrever as viúvas da Liga(tipo usar focinho no lugar de nariz. WTF??) e todas me passaram a desagradável impressão de serem mulheres presas nos valores e mentalidades do século passado. E elas não iriam abrir mão disso, mesmo que a cidade estivesse mostrando como as coisas mudaram.
Conforme a história avança, nota-se que elas não são tão ultrapassadas assim. E que há boa intenção por trás das tentativas de juntar casais e remendar corações partidos.
Mas essa ideia de que todo mundo na cidade precisa fazer parte de um casal... sei não.
O Daniel, marido de Lily, é um babaca! Não desdenho a causa para suas lamentáveis atitudes, mas é difícil defender um sujeito como esse. Ele não é mau, mas o caráter dele não é tão maculado como a autora pintou.
Achei que o livro penderia mais pro lado do humor e irreverência, mas é um drama.