Bar Don Juan

Bar Don Juan Antonio Callado




Resenhas - Bar Don Juan


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Rub.88 24/04/2019

Zagaia
A caça a onça pintada aconteceu indiscriminadamente na virada do século 20. Usando cachorros para perseguir e cansar o felino, e depois o caçador usava a zagaia, lança pontiaguda com dois metros de comprimento, para abater cruelmente o animal. Corajoso pra caralho. A região do pantanal, no Mato Grosso e no Mato Grosso do sul hoje tem a maior população da espécie. Mas antes era quintal para esse divertimento covarde.
No livro Bar Don Juan do escritor Antônio Calado, publicado em 1971, eu correlaciono a ideia de caça e caçador com a de guerrilheiro e repressão militar. A estória se passa durante a ditadura brasileira antes do endurecimento total com o AI-5. Num boteco no Rio de Janeiro um pessoal se reuni habitualmente para beber uísque falsificado e ter grandes pensamentos sobre a situação do Brasil. Dai começam a achar que somente conjecturar soluções é pouco. O negocio é cair na luta pela revolução. Rumar para Cuiabá, atravessar a fronteira com a Bolívia e se juntar a Ernesto Guevara.
Alguns indivíduos começam a integrar “aparelhos” e a participar ativamente em roubos a bancos, que chamado expropriações, e trabalha na propaganda e articulação entre os outros grupos.
Os personagens têm seus dramas próprios, que misturam com os interesses da guerrilha, tornando a ideia de se embrenhar no mato e pegar em armas pelo poder do proletariado algo parecido com uma aventura. Nenhum deles, como se comprovou, estava preparado para a realidade. Tortura, estupro e morte prematura foi o que acabou acontecendo.
Idealista. Viciados em adrenalina. Mulheres que apenas seguiam os sonhos de seus homens. Pais que sofrem a perda dos filhos. Intelectuais medrosos. Todos fugindo de seus problemas. Escapismo através do comunismo universal.
O ambiente da época era sufocante para ideias de qualquer tipo. E o bar era um bom lugar para coloca-las pra fora. Agora pratica-las? Com a morte de Che, que tem uma pequena participação no romance, tudo virou uma rixa que recrudesceu, e o que aconteceu foi que um lado apanhou mais do que precisava. A ditadura atrasou em 50 anos o Brasil. E a luta armada foi inócua para mudar esse cenário.
O livro tem muita divagação sobre os sentimentos dos que queriam guerrear. Relacionamentos amorosos irritantes e irreais. E no final uma mistureba de soluções titubeantes para quem não levou tiro. De sequestro a avião, meia loucura, espiritismo e livro sobre rios e afluentes.
No começo eu falei da caça do terceiro maior felino do mundo, ficando atrás apenas do tigre e o leão. Na estória tem muita descrição do cenário mato-grossense e dos hábitos do povo de lá. Explicações e parábolas usando a vegetação e a geografia local. Ali tinha muito guerrilheiro como também tinha muita onça. A zagaia perfurou o coração de ambos. Mas eles representavam algum perigo real?
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