spoiler visualizarPablo 25/09/2015
Nem só de Literatura viverá o homem. Quando nos defrontamos com desafios profissionais, não sou daqueles que levantam a bandeira da leitura de manuais de auto-ajuda. Cheguei à leitura de “Os tabus da liderança” (Rocco, 2008), de Anthony Smith, pela proposição de um novo olhar sobre a postura que comumente adoto nos meus empregos. Sempre percebi que o meu grau de comprometimento é maior do que o da maioria das pessoas no que tange às funções que me proponho executar. Quantas vezes fui tachado de “aquele que quer aparecer” ou “aquele que vai pegar os empregos dos mais antigos”... Quanta bobagem! Só perde seu emprego quem não dá conta dele – e isso não passa pelos outros; quando muito, pela forma como você lida com o que as pessoas te fazem. O fato é que sempre estive à frente. Entender a liderança é, pois, atitude responsável.
A obra apresenta uma visão muito particular do líder: ela propõe o estudo do que não pode ser dito, porque desvela a santificação que circunda aquela posição. O subtítulo já aponta para este caráter investigativo: “os dez segredos sobre os líderes e aquilo que realmente pensam”, mexendo com nossa pontinha de curiosidade e de interesse pelos bastidores da grande cena pública. Conhecer segredos e pensamentos reais parece fazer cada vez mais sentido na sociedade capitalista em que vivemos. A atração pelo imperfeito – ou por sua consolidação – é um jogo que queremos jogar. Mas cuidado: “os tabus são poderosos porque, quando abordamos um, tocamos um ponto sensível e a surpresa que isso causa pode nos fazer parar ou recuar” (p.27).
Há partes em que o autor (lembro que as seções determinadas por Anthony Smith são apenas isso, podendo o leitor fazer suas interpelações) apresentam o discurso clássico, que esperamos de um líder do século XXI: deve sair da inacessibilidade extrema, buscar entender os funcionários e suas demandas... Entretanto, o grande ganho é a afirmação de que, quando colaboradores e líder compartilham a mesma perspectiva, um horizonte de novos desafios se abre. Afinal, “a liderança é um processo em que um líder persegue uma visão procurando influenciar outras pessoas e as condições nas quais elas trabalham para que possam interagir todo o seu potencial pelo máximo de tempo possível” (p.40).
Contudo, “não é fácil ficar perto de líderes. É comum que tenham personalidades difíceis, com exigências impossíveis, arestas ásperas, um senso de energia implacável, pontos cegos e lados escuros, além de todas as suas maravilhosas qualidades, como a capacidade para fazer com que as coisas aconteçam, para criar e construir, para levar ideias e produtos até a lucratividade, para motivar, inspirar e ensinar” (p.39). Não há meios-termos: como todo ser humano em destaque, o líder é aquele que se torna meta quando entendido e acreditado. Depositar as fichas em uma pessoa é o grau maior de influência, necessária ao se ter em mente a capacitação necessária e pertinente ao trabalho que remunera.
Nunca é demais apontar que não estamos falando de amizade, mas de uma relação que se baseia em moral e ética específicas de uma metodologia de produção. Fácil afrouxar os laços que reprimem ou que delimitam influência e práticas específicas, mas colocar nos eixos, mover as convicções, remodelar estratégias requerem um apreço pelo estilo do líder que sobressai e extrapola a figura do chefe. “Todos sabem que os organogramas não contam toda a história de como as decisões são tomadas em uma organização. Cargo e nível nem sempre correspondem a volumes relativos de autoridade e influência, assim como a hierarquia não é um mapa perfeito do poder” (p.66).
Para um verdadeiro e eficiente líder, o carisma é condição essencial – indiscutível. Não se deve tirar de foco também que esse “cara” tem de ser estratégico. Buscar soluções, guiar a alta dose de energia que emprega em seus métodos, fortalecer a mística que envolve seu nome são atitudes de uma liderança que sabe o que faz. Para isso, às vezes, é necessário ir contra os modismos, vencer o conforto, aceitar a fundamental dose de egoísmo que envolve a posição e saber lidar com os preferidos. Em resumo, “na verdade, ser político sempre fará parte do jogo” (p.71).
Termino com um aviso que vem sempre ao encontro do que construímos: o chefe, antes de sê-lo, é um ser humano, com atributos singulares e grandes sorrisos narcísicos: “Certifique-se de que está saudável, feliz e satisfeito com o que está fazendo antes de cuidar das necessidades daqueles que o cercam. Somente cuidando de si mesmo é que você poderá ajudar outras pessoas” (p.128). Os outros, muito mais do que terem o líder como referência, são os outros. Eles são influenciados e influenciam aquele, mas não devem ser as únicas referências. “No final, um líder está só. Infelizmente, muitos líderes não reconhecem esse fato até confrontá-lo de maneira dramática e pessoal” (p.149). Ser líder é encontrar na solidão seus colaboradores.
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