Luny 30/12/2022
Visceral e Sincero
Acho que talvez eu tenha demorado tanto para concluir essa história porque não me sentia preparado para conhecê-la tao a fundo. Essa é daquelas histórias que navegam até o mais profundo âmago da terra e expõe toda a maldade, dor e tristeza que existe nesse mundo.
É com histórias assim que percebemos o quão doente nos tornamos. Nos machucamos muito uns aos outros e tratamos nossos iguais como demônios, quando na verdade o demônio vivia dentro de nós.
Foi excruciante conhecer profundamente e de maneira tão visceral as mazelas das invasões e do colonialismo, que não só roubou os bens materiais de um povo, não usurpou apenas suas terras e seus corpos, mas envenenou suas almas e trouxe o caos para seus lares. Roubou suas identidades.
Esse livro é um retrato do quão mau um ser humano pode ser, e da dívida enorme que o mundo tem com os povos escravizados, que jamais será paga, porque não há maneira de apagar o mal que foi feito. Não foi algo superficial, foi um corte tão profundo que nem mesmo se consegue ver o fim, e é desolador pensar que sempre lutaremos contra esse demônio que se instalou em nosso mundo, e jamais conseguiremos detê-lo, porque para detê-lo precisaremos admitir que ele vive dentro de nós mesmos, e para derrotá-lo precisaremos matá-lo por dentro, aos pouquinhos, até enfim chegarmos a um lugar que será como antes, ou talvez melhor do que antes, com uma dose de sorte.
É cruel pensar que tudo o que Paulina retrata nesse livro é nada mais do que a pura verdade, nua e crua. É incrível a maneira como ela conseguiu pôr em palavras toda a dor de um povo, toda a tristeza e desespero. Definitivamente uma grande mestra da escrita, porquê o que ela descreveu nesse livro vai além de uma ficção que retrate um período da história de um povo, ela retratou aqui todo o sofrimento e maldade que existem nesse mundo, e o quanto as pessoas são capazes de ferir umas as outras em busca de um poder que não existe de verdade.
O que aprendi nessa leitura é que tudo o que fazemos, todo o mal que plantamos é em vão, porque esta terra não se lembra do que é ruim, quando a chuva vem, ela se renova, se torna outra e portanto tudo o que ruim é limpo e se abre espaço para uma nova vida, boa e limpa. Não adianta morrer, matar ou ferir aqueles que se ama em busca do poder, porque não existe poder de verdade neste mundo, no fim nada importa. Poder traz solidão e guerras, e elas não são boas companhias quando se chega ao fim. Todos precisamos de amor e afeto, de carinho e de um lugar seguro para repousar a cabeça e dormir em berço esplêndido. No fim, tudo o que importa é quem a gente amou e quem nos amou, e o quanto de amor nós pudemos juntar ao longo da vida. Porque o amor é a única coisa que fica para sempre.